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A queda de um Anjo

Manuel Pinho sempre teve mil e uma utilidades para José Sócrates. Até na hora da despedida lhe fez um favor: apagou a completa irrelevância que foi o debate do Estado da Nação e a desastrada presença do Governo nele. Mas ficará na...

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Manuel Pinho sempre teve mil e uma utilidades para José Sócrates. Até na hora da despedida lhe fez um favor: apagou a completa irrelevância que foi o debate do Estado da Nação e a desastrada presença do Governo nele. Mas ficará na história como o ministro que, em Portugal, enxovalhou a Câmara eleita pelo povo de onde o Governo (isto é, o próprio Pinho) emerge. Ao fazê-lo, não tornou apenas o Parlamento um local hilariante. Transformou a democracia numa comédia. É esse o pecado que não mancha apenas Pinho: é a nódoa que nenhum glutão tirará deste Governo. Pinho sintetizou o que este Governo pensa da Assembleia da República: que esta é uma plateia feita para aplaudir os seus números cómicos. Mas, comédia à parte, a queda do anjo Pinho seria o ambiente perfeito para um sucessor de Camilo Castelo Branco recriar um mais mundano herói. O problema de Sócrates é que Manuel Pinho foi o seu leal conselheiro ainda antes de ter formado Governo. Foi o ajudante do Dom Quixote que, antes de atacar os moinhos de vento, lhe apresentou a elite da nação. Foi Pinho que lhe preparou o universo cósmico, onde Sócrates navega como um Darth Vader do Estado irascível e controlador. Pinho não era um ministro qualquer. Era o cimento ideológico pós-moderno de Sócrates. Isto é: era o mestre do vácuo tecnológico onde chocam os neurónicos deste Governo. A queda deste anjo acerta no núcleo duro de Sócrates como poucas flechas até agora. Mas simboliza o desvario militante que afecta este Governo na recta final para as eleições.
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