Opinião
A nova narrativa do investimento no pós-Brexit
Podemos agora esperar maior volatilidade à medida que nos aproximamos das eleições presidenciais americanas em Novembro.
Um pouco antes da metade daquilo que esperávamos ser um ano volátil - ainda que um ano igualmente capaz de premiar os investidores por assumirem o risco - o "Brexit" apanhou o mundo de surpresa. De facto, os efeitos imediatamente adversos do Brexit em várias moedas e mercados de ativos mostram que os investidores não esperavam este resultado. Talvez este seja um bom momento para os investidores fazerem um balanço sobre potenciais eventos adicionais, muitos dos quais de natureza política.
Um olhar sobre a primeira metade do ano. No início de 2016, muitos investidores estavam focados nos temas gémeos China e petróleo, que levantavam preocupações sobre uma eventual recessão global, falhas em mercados emergentes e um dólar americano em ascensão. Este último tornou-se um imposto ameaçador para aqueles que pediam emprestado em dólares, ainda que obtendo ganhos nas moedas locais - nomeadamente, os mercados emergentes e o setor bancário global, que sofreram muito no início do ano e para já ainda não superaram todas as dificuldades.
Desde então, a China readquiriu um certo sentimento de estabilidade económica ao comunicar um sentido mais claro de direção nas políticas inscritas no seu novo plano quinquenal, e ao encontrar um melhor equilíbrio entre reformar as velhas empresas geridas pelo Estado, enquanto permite o florescimento de um novo setor de consumo e de serviços. O petróleo também mostrou sinais de estabilização após o seu dramático colapso em 2015; os preços aumentaram perto de 25% este ano, com o ouro a ser a única outra mercadoria ("commodity") a comportar-se de forma igualmente positiva.
À medida que 2016 foi progredindo, os receios de uma recessão global diminuíram e vários mercados emergentes recuperaram, tornando a divergência na política monetária à escala global na narrativa-chave. Enquanto que os Estados Unidos da América (EUA) olhavam para uma nova oportunidade de subir de novo as taxas, o Japão e a Europa adotaram políticas de taxas de juro negativas ("negative interest-rate policies", NIRP), às quais os investidores e os mercados reagiram mal. Ironicamente, este NIRP resultou num resultado oposto ao originalmente pretendido: moedas mais fortes, sistemas bancários pressionados e cotações das ações mais baixas.
A entrada do Brexit. Contudo, o evento-chave da primeira metade de 2016 acabou por ser a inesperada mas altamente política decisão do Reino Unido (RU) de abandonar a União Europeia (UE). Esta será uma viagem em águas desconhecidas, em que muitas rotinas nas questões económicas - como regras comerciais, imigração, leis e normas - terão de ser alteradas para refletir o estatuto do Reino Unido independente da União Europeia. Este será um desafio para todos, dado que o RU tem seguido as normas europeias e internacionais desde 1972.
Como o Brexit prejudicou a Europa. A UE enfrenta uma eventual crise existencial, com o voto do Brexit a apontar para preocupações não tanto económicas, mas antes sobre a imigração e sobre a soberania - como ficou patente nas correções de mercado pós-Brexit, com um maior impacto nas acções da Europa do que do RU. Para ser mais exato, a economia europeia estava a comportar-se bem em 2016, mas outros fatores além do Brexit têm vindo a minar a confiança. Os receios sobre a saúde dos bancos da Zona Euro estão a aumentar - lento crescimento, NIRP, mais regulação e baixos níveis de capital estavam já a afetar globalmente os bancos -, o que está a criar mais obstáculos às políticas do Banco Central Europeu. Por outro lado, as várias eleições no horizonte - Itália, Holanda, França e Alemanha - podem vir a ser, de facto, eleições sobre a própria UE.
Brexit ataca o "establishment" de surpresa. O outro perdedor foi o "establishment" político, que foi inábil, incapaz ou relutante em acreditar que o voto do Brexit pudesse ganhar. Esta falta de tato é semelhante ao emergente "efeito Trump" nos EUA, onde o agora candidato republicano, Donald Trump, apelou diretamente aos muitos americanos desfavorecidos, sem o apoio do Partido Republicano. Em resultado disso, podemos agora esperar maior volatilidade à medida que nos aproximamos das eleições presidenciais americanas em Novembro. Com tantos eleitores a sentirem-se não representados pelos atuais partidos políticos "elitistas", será mais difícil aos investidores avaliar os novos riscos e oportunidades que tais períodos de mudança costumam proporcionar.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.
Um olhar sobre a primeira metade do ano. No início de 2016, muitos investidores estavam focados nos temas gémeos China e petróleo, que levantavam preocupações sobre uma eventual recessão global, falhas em mercados emergentes e um dólar americano em ascensão. Este último tornou-se um imposto ameaçador para aqueles que pediam emprestado em dólares, ainda que obtendo ganhos nas moedas locais - nomeadamente, os mercados emergentes e o setor bancário global, que sofreram muito no início do ano e para já ainda não superaram todas as dificuldades.
À medida que 2016 foi progredindo, os receios de uma recessão global diminuíram e vários mercados emergentes recuperaram, tornando a divergência na política monetária à escala global na narrativa-chave. Enquanto que os Estados Unidos da América (EUA) olhavam para uma nova oportunidade de subir de novo as taxas, o Japão e a Europa adotaram políticas de taxas de juro negativas ("negative interest-rate policies", NIRP), às quais os investidores e os mercados reagiram mal. Ironicamente, este NIRP resultou num resultado oposto ao originalmente pretendido: moedas mais fortes, sistemas bancários pressionados e cotações das ações mais baixas.
A entrada do Brexit. Contudo, o evento-chave da primeira metade de 2016 acabou por ser a inesperada mas altamente política decisão do Reino Unido (RU) de abandonar a União Europeia (UE). Esta será uma viagem em águas desconhecidas, em que muitas rotinas nas questões económicas - como regras comerciais, imigração, leis e normas - terão de ser alteradas para refletir o estatuto do Reino Unido independente da União Europeia. Este será um desafio para todos, dado que o RU tem seguido as normas europeias e internacionais desde 1972.
Como o Brexit prejudicou a Europa. A UE enfrenta uma eventual crise existencial, com o voto do Brexit a apontar para preocupações não tanto económicas, mas antes sobre a imigração e sobre a soberania - como ficou patente nas correções de mercado pós-Brexit, com um maior impacto nas acções da Europa do que do RU. Para ser mais exato, a economia europeia estava a comportar-se bem em 2016, mas outros fatores além do Brexit têm vindo a minar a confiança. Os receios sobre a saúde dos bancos da Zona Euro estão a aumentar - lento crescimento, NIRP, mais regulação e baixos níveis de capital estavam já a afetar globalmente os bancos -, o que está a criar mais obstáculos às políticas do Banco Central Europeu. Por outro lado, as várias eleições no horizonte - Itália, Holanda, França e Alemanha - podem vir a ser, de facto, eleições sobre a própria UE.
Brexit ataca o "establishment" de surpresa. O outro perdedor foi o "establishment" político, que foi inábil, incapaz ou relutante em acreditar que o voto do Brexit pudesse ganhar. Esta falta de tato é semelhante ao emergente "efeito Trump" nos EUA, onde o agora candidato republicano, Donald Trump, apelou diretamente aos muitos americanos desfavorecidos, sem o apoio do Partido Republicano. Em resultado disso, podemos agora esperar maior volatilidade à medida que nos aproximamos das eleições presidenciais americanas em Novembro. Com tantos eleitores a sentirem-se não representados pelos atuais partidos políticos "elitistas", será mais difícil aos investidores avaliar os novos riscos e oportunidades que tais períodos de mudança costumam proporcionar.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.