Opinião
A desglobalização já está aqui. Agora temos de lidar com ela
A política nunca é certa. Mesmo assim, do Brexit a uma inquietada Zona Euro, até à retórica isolacionista que está a permear as eleições norte-americanas, um facto é claro: os mantras anteriores da globalização e da desregulação estão a ganhar uma oposição crescente.
Os eleitores de todo o mundo desenvolvido estão a manifestar a visão de que os benefícios de operar a uma escala internacional são compensados por salários mais baixos, perspetivas mais fracas de emprego e uma desigualdade crescente. Este sentimento geral ainda não forçou a globalização a uma reversão. Porém, o seu abrandamento tem implicações significativas para cidadãos, governos e também investidores.
Em primeiro lugar, menos comércio global significa menos crescimento global. Os políticos estão a retroceder em diversos acordos de comércio global atualmente em discussão, como a Parceria Trans-Pacífico (TPP) e a Parceria Transatlântica para o Comércio e o Investimento (TTIP). Isto vai, inevitavelmente, acrescentar areia às engrenagens globais. Com o comércio global a constituir aproximadamente 40 por cento do Produto Interno Bruto global, este fenómeno poderia abrandar o crescimento económico numa altura em que está já fragilizado. Se o comércio global fosse uma economia, seria a maior de todo o mundo - quase o dobro da economia norte-americana -, mas isto é algo pouco examinado desta maneira pelos legisladores.
Em segundo, a responsabilidade corporativa precisa ser redefinida. Muitas empresas multinacionais têm beneficiado de décadas de globalização, especialmente em termos de comércio e finança. Se a política favorecer, de forma crescente, as marcas locais e obrigar à aplicação de impostos localmente, isso representará uma perturbação real. De forma mais imediata, disputas como a recente Apple/Comissão Europeia sobre regras fiscais poderiam aumentar as fricções fiscais inter-regionais, impedindo a alocação de capital e reduzindo os rendimentos para os acionistas. As equipas de gestão que conseguem trabalhar com os governos para assegurar a responsabilidade corporativa - entendida da maneira mais vasta possível e além do seu impacto em lucros por ação - são mais propensas a compensarem-se a si próprias e aos seus acionistas.
Em terceiro, os políticos no mundo desenvolvido terão em breve de confrontar o custo e o financiamento dos seus sistemas de Estado social. A alternativa passa por arriscar verem os seus filhos millennials revoltarem-se contra o honrar das promessas não-financiadas feitas aos seus pais. Atualmente, estas reformas estruturais estão a eludir em países desafiados demograficamente, como o Japão e a maioria da Europa. É improvável que a des-globalização resolva esta questão. Mesmo nos EUA, a presente dívida pendente face ao nível de 100% do PIB acaba atenuada pelos direitos não contabilizados, que perfazem mais de 130 triliões de dólares (116 triliões de euros) ou 500 por cento do PIB norte-americano. Quanto mais tempo estes desafios ficarem por responder, maiores se hão de tornar.
Finalmente, os estímulos fiscais deveriam ser fiscalmente responsáveis. Os fracos níveis de crescimento económico global estão a ser satisfeitos com pedidos crescentes de despesa fiscal e de infraestrutura ao nível local. No entanto, estes deveriam ser compensados com idênticos níveis de preocupação sobre a capacidade para tais gastos. Serão com certeza necessários investimentos massivos nas grandes economias do futuro, como a Índia, Indonésia e África, para não mencionar a reparação e a manutenção necessárias no mundo desenvolvido. Todavia, ao invés de serem financiados por mais dinheiro emprestado, estes investimentos deveriam ambos cobrir os custos de financiamento e acrescentar prosperidade económica e produtividade a estas regiões. De outra forma, equivalem apenas a esquemas Ponzi.
Para muitos, a nossa perspetiva secular do Ocidente de um mundo moderno e estável, sob a Pax Europae e a Pax Americana, parece estar a chegar ao fim. Arriscamo-nos a que, em seu lugar, regressemos a uma versão de países e Estados que precede as soluções coesas da nossa era pós-Segunda Guerra Mundial. E é apenas através de soluções que reconheçam as fraquezas da globalização, mas que dividam mais equitativamente os despojos ao longo e dentro das fronteiras, que conseguiremos evitar mais tensão política.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.
Em primeiro lugar, menos comércio global significa menos crescimento global. Os políticos estão a retroceder em diversos acordos de comércio global atualmente em discussão, como a Parceria Trans-Pacífico (TPP) e a Parceria Transatlântica para o Comércio e o Investimento (TTIP). Isto vai, inevitavelmente, acrescentar areia às engrenagens globais. Com o comércio global a constituir aproximadamente 40 por cento do Produto Interno Bruto global, este fenómeno poderia abrandar o crescimento económico numa altura em que está já fragilizado. Se o comércio global fosse uma economia, seria a maior de todo o mundo - quase o dobro da economia norte-americana -, mas isto é algo pouco examinado desta maneira pelos legisladores.
Em terceiro, os políticos no mundo desenvolvido terão em breve de confrontar o custo e o financiamento dos seus sistemas de Estado social. A alternativa passa por arriscar verem os seus filhos millennials revoltarem-se contra o honrar das promessas não-financiadas feitas aos seus pais. Atualmente, estas reformas estruturais estão a eludir em países desafiados demograficamente, como o Japão e a maioria da Europa. É improvável que a des-globalização resolva esta questão. Mesmo nos EUA, a presente dívida pendente face ao nível de 100% do PIB acaba atenuada pelos direitos não contabilizados, que perfazem mais de 130 triliões de dólares (116 triliões de euros) ou 500 por cento do PIB norte-americano. Quanto mais tempo estes desafios ficarem por responder, maiores se hão de tornar.
Finalmente, os estímulos fiscais deveriam ser fiscalmente responsáveis. Os fracos níveis de crescimento económico global estão a ser satisfeitos com pedidos crescentes de despesa fiscal e de infraestrutura ao nível local. No entanto, estes deveriam ser compensados com idênticos níveis de preocupação sobre a capacidade para tais gastos. Serão com certeza necessários investimentos massivos nas grandes economias do futuro, como a Índia, Indonésia e África, para não mencionar a reparação e a manutenção necessárias no mundo desenvolvido. Todavia, ao invés de serem financiados por mais dinheiro emprestado, estes investimentos deveriam ambos cobrir os custos de financiamento e acrescentar prosperidade económica e produtividade a estas regiões. De outra forma, equivalem apenas a esquemas Ponzi.
Para muitos, a nossa perspetiva secular do Ocidente de um mundo moderno e estável, sob a Pax Europae e a Pax Americana, parece estar a chegar ao fim. Arriscamo-nos a que, em seu lugar, regressemos a uma versão de países e Estados que precede as soluções coesas da nossa era pós-Segunda Guerra Mundial. E é apenas através de soluções que reconheçam as fraquezas da globalização, mas que dividam mais equitativamente os despojos ao longo e dentro das fronteiras, que conseguiremos evitar mais tensão política.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.