Opinião
A Grande Regressão
A propósito da crise tem-se falado muito da Grande Depressão e da Grande Recessão. Mas, em Portugal, o que estamos a assistir é a um ciclo ainda mais assustador. Estamos perante a Grande Regressão, o regresso ao passado dos anos 40, 50 e 60 do século XX, antes do período de crescimento económico que alterou as cidades portugueses e os hábitos, educação e cultura destes.
A propósito da crise tem-se falado muito da Grande Depressão e da Grande Recessão. Mas, em Portugal, o que estamos a assistir é a um ciclo ainda mais assustador. Estamos perante a Grande Regressão, o regresso ao passado dos anos 40, 50 e 60 do século XX, antes do período de crescimento económico que alterou as cidades portugueses e os hábitos, educação e cultura destes.
Estamos, quase sem repararmos, a retornar ao Portugal que foi retratado por Vítor Palla, por Gerard Castello Lopes ou por Orlando Ribeiro, onde, muitas vezes a preto e branco, se vislumbrava um povo entre a miséria, o Fado e o desespero por o destino lhe ter sido confiscado. A crise actual de Portugal é também a estocada final no regime que surgiu em Portugal em 1974. Onde se sonhou alto, mas onde sucessivas gerações de políticos (e de clientes fixos na área das rendas e das cumplicidades) deixam esta herança: uma sopa dos pobres "take-away" disponível para todos.
Na temível guerra entre a austeridade e o crescimento a que assistimos, as vítimas são os povos, sobretudo os pobres e as outrora imponentes classes médias, saqueadas pelo Estado de forma directa e indirecta. O que estamos a assistir em Portugal é à destruição do "status quo" criado após o 25 de Abril que hoje permite que o Estado tire subsídios de Natal e de férias e aumente os escalões de IRS enquanto os preços dos transportes, da saúde e da educação explodem e, do outro, os concessionários das PPP recolham 1.520 milhões de euros dos contribuintes, mais 30% do que o previsto. Esta foi a equidade legada por esta classe política ao seu povo.
Como os outros países do sul da Europa, Portugal está a sofrer uma mistura de política fiscal saqueadora, aumento exponencial do desemprego, cortes nos salários (de forma directa e indirecta), elevada dívida pública e privada e juros extremamente altos no mercado. Como "cocktail" não é propriamente um doce. Mas poderia servir para Portugal se reformar a sério. Só que a reforma não pode ser apenas no Estado e através do saque fiscal. Terá de atingir quem vive de rendas, como as concessionárias das PPP. É quase inconcebível que o Governo, até hoje, ainda não tenha tentado ver como estancar esta sangria sem fim dos fundos dos contribuintes.
O Governo está a levar Portugal de regresso ao início da década de 60 do século XX. A União Europeia, na sua pretensa superioridade moral, está a mostrar uma arrogância que lhe será fatal. A moeda única não aguentará apenas porque os líderes políticos se comprometem por escrito a cumprir austeridades sem fim. Porque se assinam o que os mercados, a UE e o FMI lhes colocam à frente em troca do cheque, começam a ter pela frente um efeito contrário: o das ruas. A classe política, como se está a ver na Grécia, está a perder a mão sobre os cidadãos e as ruas. E o gás lacrimogéneo não resolverá tudo.
Entre os mercados financeiros e a rua, a classe política não poderá passar os dias a fingir que é polícia bom nuns e mau nos outros. Agora, o Governo de Pedro Passos Coelho tem de entender que esta Grande Regressão tem de ter um fim.
Não faz sentido conduzir uma economia para a recessão que impede as pessoas de trabalhar ao mesmo tempo que se coloca nelas a canga de cada vez mais impostos. O crescimento não começa só com o investimento bancário mas com a procura. Ou com mais dinheiro a circular nas ruas. É preciso controlar as despesas do Estado. Mas em todos os sectores, incluindo os das rendas. Mas a austeridade sem fim não levará este país a lugar nenhum. Poderá, quanto muito, levar-nos a uma sinistra Terra do Nunca.
Estamos, quase sem repararmos, a retornar ao Portugal que foi retratado por Vítor Palla, por Gerard Castello Lopes ou por Orlando Ribeiro, onde, muitas vezes a preto e branco, se vislumbrava um povo entre a miséria, o Fado e o desespero por o destino lhe ter sido confiscado. A crise actual de Portugal é também a estocada final no regime que surgiu em Portugal em 1974. Onde se sonhou alto, mas onde sucessivas gerações de políticos (e de clientes fixos na área das rendas e das cumplicidades) deixam esta herança: uma sopa dos pobres "take-away" disponível para todos.
Na temível guerra entre a austeridade e o crescimento a que assistimos, as vítimas são os povos, sobretudo os pobres e as outrora imponentes classes médias, saqueadas pelo Estado de forma directa e indirecta. O que estamos a assistir em Portugal é à destruição do "status quo" criado após o 25 de Abril que hoje permite que o Estado tire subsídios de Natal e de férias e aumente os escalões de IRS enquanto os preços dos transportes, da saúde e da educação explodem e, do outro, os concessionários das PPP recolham 1.520 milhões de euros dos contribuintes, mais 30% do que o previsto. Esta foi a equidade legada por esta classe política ao seu povo.
Como os outros países do sul da Europa, Portugal está a sofrer uma mistura de política fiscal saqueadora, aumento exponencial do desemprego, cortes nos salários (de forma directa e indirecta), elevada dívida pública e privada e juros extremamente altos no mercado. Como "cocktail" não é propriamente um doce. Mas poderia servir para Portugal se reformar a sério. Só que a reforma não pode ser apenas no Estado e através do saque fiscal. Terá de atingir quem vive de rendas, como as concessionárias das PPP. É quase inconcebível que o Governo, até hoje, ainda não tenha tentado ver como estancar esta sangria sem fim dos fundos dos contribuintes.
O Governo está a levar Portugal de regresso ao início da década de 60 do século XX. A União Europeia, na sua pretensa superioridade moral, está a mostrar uma arrogância que lhe será fatal. A moeda única não aguentará apenas porque os líderes políticos se comprometem por escrito a cumprir austeridades sem fim. Porque se assinam o que os mercados, a UE e o FMI lhes colocam à frente em troca do cheque, começam a ter pela frente um efeito contrário: o das ruas. A classe política, como se está a ver na Grécia, está a perder a mão sobre os cidadãos e as ruas. E o gás lacrimogéneo não resolverá tudo.
Entre os mercados financeiros e a rua, a classe política não poderá passar os dias a fingir que é polícia bom nuns e mau nos outros. Agora, o Governo de Pedro Passos Coelho tem de entender que esta Grande Regressão tem de ter um fim.
Não faz sentido conduzir uma economia para a recessão que impede as pessoas de trabalhar ao mesmo tempo que se coloca nelas a canga de cada vez mais impostos. O crescimento não começa só com o investimento bancário mas com a procura. Ou com mais dinheiro a circular nas ruas. É preciso controlar as despesas do Estado. Mas em todos os sectores, incluindo os das rendas. Mas a austeridade sem fim não levará este país a lugar nenhum. Poderá, quanto muito, levar-nos a uma sinistra Terra do Nunca.
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