Opinião
A farmácia da educação
John Maynard Keynes não acreditava em resultados rápidos. Por isso, um dia, desabafou: "Eu não tenho uma farmácia. Não tenho que fornecer comprimidos nem soluções imediatas para problemas práticos que possam surgir". Os comprimidos, por si...
John Maynard Keynes não acreditava em resultados rápidos. Por isso, um dia, desabafou: "Eu não tenho uma farmácia. Não tenho que fornecer comprimidos nem soluções imediatas para problemas práticos que possam surgir". Os comprimidos, por si só, nem sempre são capazes de resolver os problemas dos pacientes: muitas vezes apenas atiram para o futuro a solução. Portugal é uma grande farmácia: passa a vida a tratar-se com comprimidos e espera que a doença se cure por si própria. Quando se olha para aquela que costuma ser a prioridade das prioridades para a classe política, a educação, sabe-se que a ela se aplica a política do comprimido. Mesmo como quando era a "paixão" do saudoso António Guterres. De reforma em reforma, temos criado a educação que é o espelho do País. Portugal tem a segunda taxa de abandono escolar precoce da UE. Mas, como o que é preciso é mostrar resultados para que os burocratas de Bruxelas fiquem embevecidos, o facilitismo tornou-se a política oficial do Estado. Passa-se, mesmo sem os alunos saberem nada, para atingir níveis de conforto politicamente correctos. Nivela-se por baixo o grau de exigência. Mas, surpresa, mesmo assim os alunos debandam do ensino. Isto só mostra que todo o sistema educacional português está corrompido. Os alunos passam, os professores aprovam e o Ministério aplaude. Tudo em nome das estatísticas. Uma sociedade educada é uma sociedade saudável. E torna-se numa sociedade criativa e disposta a arriscar. Mas é contra isto que o sistema educacional português labuta incessantemente.
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