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Pedro Rocha Vieira 16 de Maio de 2014 às 12:44

A era dos Aceleradores – o coração dos ecossistemas de empreendedorismo

“O software está a comer o mundo” diz Marc Andreessen, investidor em Silicon Valley, num artigo recente do The Economist. Nos últimos anos houve uma verdadeira revolução nas linguagens de programação e o desenvolvimento de inúmeras soluções.

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A Internet e o software estão por todo o lado, vivemos na era da cloud, da Internet of Things, das redes sociais, das API’s, do open source, das plataformas e do software as a service, da fibra e da globalização das telecomunicações 5G.


Nunca foi tão fácil criar um novo negócio com potencial de crescer de 0 a infinito em pouco tempo, e nunca foi tão barato desenvolver um produto de base tecnológica.


Por outro lado, nunca vivemos numa época de tanta incerteza, velocidade e complexidade, em que governos e grandes multinacionais deixaram de ser animais sagrados.


Quem poderia prever que a Nokia e a Blackberry vendessem as suas unidades móveis por uma miragem daquilo que eram as suas capitalizações bolsistas há poucos anos, e ao mesmo tempo quem poderia prever que a Amazon se tornasse em poucos anos na maior plataforma de e-commerce e o maior servidor de dados do mundo, ou que a Google se tornasse no maior agregador e organizador de informação do mundo, e se confundisse quase com a própria Internet ou navegação?


Quando pensamos em empresas de sucesso, pensamos imediatamente nos seus fundadores, é difícil imaginar uma Apple sem a associar a Steve Jobs, na Virgin sem pensar em Richard Branson, ou na Google sem se pensar em Sergey Brin e Lary Page. De facto, a qualidade de uma equipa, a sua capacidade de execução são factores determinantes no sucesso de quase todos os bons projetos.


No entanto, mesmo as grandes equipas não desenvolvem excelentes projetos à primeira tentativa, e aquilo que acaba por ser a solução vingadoura está muito longe daquilo que era a ideia original. A descoberta de um modelo de negócio inovador, e o desenvolvimento de um produto adequado a um mercado é algo que pode ir sendo aperfeiçoado e acelerado.


Esta ideia, de produt-market fit, está na base do conceito de Lean Start e Customer Development, desenvolvidos por Eric Ries e Steve Blank, e é a doutrina vigente da maior parte dos novos empreendedores a nível mundial, e assenta no conceito de validação de pressupostos, no teste com base na iteração com os clientes, e execução de um produto viável mínimo.


Da mesma forma que as Universidades técnicas e de gestão preparam gerações de profissionais qualificados e dão ferramentas e bases de trabalho, foi também preciso encontrar um modelo de capacitação de novos empreendedores e processos que permitissem guiar a ação de forma acelerada e eficaz.


Em 2007, nasce em Montain View o YCombinator, pela mão de Paul Graham, o primeiro programa de aceleração de startups a nível mundial, onde nasceram a Airbnb, Dropbox, Heroku, OMGPOP, Loopt, Cloudkick, Zecter, Wufoo e Reddit, empresas com uma valor de mercado combinado superior a €4Bi.


Desde então, programas como TechStars, AngelPad, 500 Startups, SeedCamp, ou Startup BootCamp têm seguido o sucesso do YCombinator, com pequenas variações de modelos.


Hoje em dia, existem cerca de 2000 programas de aceleração a nível mundial, capacitando milhares de empreendedores, investindo centenas de milhões de euros e criando milhares de novos postos de trabalho.


Os aceleradores são um processo altamente exigente de seleção de startups com alto potencial, de capacitação através de mentoring, com empreendedores experientes, e focados no desenvolvimento de mercado e de produto a um ritmo acelerado. Os principais programas têm entre 10 e 50 startups por edição, investimento entre os €10.000 e os €100.000, duração média de 3 meses, e terminam com um demo day com apresentação a potenciais investidores.


Os aceleradores típicos têm como objectivo identificar as melhores startups, acelerar o seu crescimento, validar os melhores e conseguir bons resultados em termos de investimento e vendas do seu portfólio de empresas.


No entanto, os aceleradores podem cumprir outros objetivos, como a dinamização de ecossistemas locais, regionais ou mesmo nacionais, como é o caso do Startup Chile, do MassChallenge, ou do Startup Brasil.

As grandes empresas têm encontrado no formato dos aceleradores, uma excelente forma de estarem próximas de novos empreendedores, novas tendências e inovações, e uma ferramenta de marketing e de evangelização das suas comunidades e de novos clientes. A Microsoft Ventures e a Wayra, da Telefónica, são dois dos principais exemplos a nível mundial.


Empresas como Microsoft, Amazon, Google, Softlayler, Twillio, Paypal, SurveyMonkey, SAP entre muitas outras têm programas para startups e oferecem os seus produtos através dos aceleradores como forma de fidelização de futuros clientes.


Em Portugal, os aceleradores já são uma realidade, e existem vários exemplos como Startup Pirates, Fábrica de Startups, Building Global Innovators, CoHitec, e Lisbon-Challenge.


O Lisbon-Challenge em particular é um programa que atrai várias centenas de candidaturas por edição, com cerca de 75% das candidaturas internacionais, de mais de 45 países, e de várias indústrias, como e-commerce, energia, turismo, ou jogos. O Lisbon-Challenge é um programa de 3 meses, com 30 equipas e com um roadshow internacional em Londres, Boston, São Francisco, São Paulo e Tel Aviv.

Os vencedores do Lisbon-Challenge em 2013, entraram no YCombinator, sendo a primeira startup Portuguesa a consegui-lo. Outras 3 foram investidas pelo SeedCamp e no total das 74 startups participantes na primeira edição, 40% foram investidas e cerca de 200 postos de trabalho criados. Neste momento temos mais uma edição a decorrer, com 30 startups muito promissoras que estarão em Lisboa pelo menos até Julho, altura em que decorre o roadshow de apresentação a investidores, e nos próximos dias lançaremos as candidaturas para mais uma edição.


Portugal, nomeadamente Lisboa, Porto, Braga e Coimbra, começam a ser um ecossistema empreendedor dinâmico, e a produzir alguns resultados concretos, o que tem merecido o crédito de várias publicações internacionais.


Os aceleradores são provavelmente o melhor modelo de capacitação de empreendedores e de aceleração de negócios de sucesso, são um motor central na dinamização de qualquer ecossistema empreendedor e uma excelente oportunidade para uma estratégia de inovação aberta das grandes empresas.


Citando Dave McLure, fundador do 500 Startups, "Prefiro receber $100,000 e ser um case study do que pagar $100,000 para ler case studies."



Pedro Rocha Vieira
Co-fundador e Presidente da Beta-i, associação que organiza o Lisbon-Challenge

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