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16 de Dezembro de 2008 às 13:12

A Dona Banca

Os homens são mesmo todos iguais: gananciosos e ingénuos. Do pobretanas que pede crédito à Dona Branca aos maiores banqueiros mundiais que investiam no Madoff, há um deslumbramento comum que os faz entregarem-se às mãos dos vigaristas: a promessa de dinheiro fácil. E o BPN e o BPP também são para aqui chamados.

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Os homens são mesmo todos iguais: gananciosos e ingénuos. Do pobretanas que pede crédito à Dona Branca aos maiores banqueiros mundiais que investiam no Madoff, há um deslumbramento comum que os faz entregarem-se às mãos dos vigaristas: a promessa de dinheiro fácil. E o BPN e o BPP também são para aqui chamados. Inventado há cem anos por um imigrante italiano nos Estados Unidos, um finório chamado Charles Ponzi, o esquema piramidal garante remunerações elevadas a quem lá investir, que são pagas com a entrada de novos membros: o juro do primeiro membro é pago com o capital da entrada do segundo membro, o deste pelo terceiro, este pelo quarto e assim eternamente até ao rebentamento da "bolha". Tanto na Dona Branca como com Bernard Madoff, foi preciso décadas para que ela estoirasse.

Outras prodigiosas pirâmides continuam operacionais e repletas de "investidores" que juram não correr risco algum, porque negoceiam cosméticos, selos ou dietas da treta que servem de pretexto tangível para o negócio intangível de criar coisa nenhuma.

Quando perguntaram a Madoff que activos tinha, nada tinha. Ele, que foi denunciado pelos filhos, tinha uma imagem à prova de bala. Os gestores das empresas, incluindo a Fairfield Sentry, gozavam de alta reputação no sistema financeiro.

Vítor Constâncio tem carradas de razão: a fraude não se detecta, os reguladores são os cegos desta terra em que quem tem olho é rei. Como pôde o temível regulador das bolsas americanas, a SEC, ser assim incompetente? Como é que um gigante fluxo financeiro que nada comprava ou vendia passou décadas com distinção nos relatórios dos auditores?

Há uma lição básica de finanças que se aprende nas universidades de Economia ou nos corredores do metropolitano: em mercados em concorrência, a rendibilidade das empresas converge para uma taxa de retorno próxima da inflação mais um pequeno "spread" - se for superior, outros operadores entram no mercado até esmagarem o lucro económico, que tende para zero. Nos corredores do metropolitano, a formulação é mais fácil: quando a esmola é grande, o pobre desconfia. O rico é que não.

Que banco andou anos a oferecer depósitos a prazo e aplicações de baixo risco com taxas muito acima da concorrência? O BPN. E que banco prometia rentabilidades tão elevadas que atraiu grandes investidores e, por exemplo, caixas agrícolas? O BPP.

Mas há uma diferença: o grupo Santander, que tem grande exposição ao Madoff, transferiu o prejuízo para os clientes que tinham investido nesses fundos, alegando que eles tinham um nível de alto risco que era conhecido pelos clientes. No BPP, para salvar as caixas agrícolas salvou-se o próprio banco, assim salvando gente de mais e isentando de responsabilidades os gestores das caixas que correram riscos nessa decisão. E mesmo no BPN, a nacionalização garantiu aos depositantes as taxas anormalmente altas que haviam sido prometidas, lucros excessivos suportados pelos contribuintes.

Não tinha de ser assim. Por mais cruel que a opção do Santander seja, se for verdade que os clientes estavam informados dos riscos, é compreensível que assumam as perdas. No BPP, é injustificável que se protejam todos os investidores. No BPN, o Estado podia (e devia) ter garantido aos depositantes apenas uma remuneração média de mercado, não as super-taxas oferecidas durante anos como se fossem saldos fora de época.

Não há alquimias, potes no fim de arco-íris ou Midas que tornem chumbo em ouro. Crianças e adultos, ricos e pobres: o Pai Natal não existe. Quer apostar o seu dinheiro nisso?

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