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05 de Setembro de 2008 às 13:00

A direcção de Fermat

Aprendi pela imprensa que esta semana o PP ficou mais pobre de dirigentes. Isto porque o Dr. Luís Nobre Guedes apresentou a demissão do cargo de vice-presidente do partido há um ano mas o presidente só agora o comunicou. Vai daí, a Comissão Política não gostou, pois o dever de informação foi desrespeitado, e agora um membro desta (e também vice-presidente) demitiu-se em protesto.

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Toda esta história parece estar a ser contada de uma forma enviesada ou, pelo menos, pouco consistente. Como podia o Dr. Portas comunicar à CP (a Comissão Política, não os comboios) uma demissão que ainda não tinha aceite, pois, para o citar: "não havendo um acto formal de demissão, mas sim uma disposição de afastamento, achei que conseguiria, com tempo e persuasão, convencer o Dr. Nobre Guedes a não se afastar"? Daqui se tiram duas conclusões: primeira, que o Dr. Portas não consegue, nem com tempo e persuasão, convencer o Dr. Nobre Guedes; segunda, que mesmo aceitando o argumento do Dr. Portas, ele não informou a CP do pedido de demissão, o que é igualmente grave.

Porém, isto são fait divers, pois, meus queridos leitores, o facto importante é que com a saída do Dr. Telmo Correia da vice-presidência o ano passado, a do Dr. Nobre Guedes, pelos vistos agora, e a Dr. Manuel Pimentel em protesto, o PP já não tem vice-presidentes. E começa a não ter Comissão Política também, com a saída do mesmo Dr. Manuel Pimentel. Se o processo continua, o PP terá o que o meu colega finlandês Aryutóking Tumi chama uma direcção evanescente, o que, explica este meu colega, constitui a primeira fase de um partido evanescente.

Diz-nos Tumi, no seu paper "From Party Politics to Funky Dancing: on Vanishing Leadership and Musical Chairs", que um partido existe na sociedade para cumprir uma função e que essa função é definida pelos seus órgãos de direcção. Quando a direcção se vai demitindo, tendendo para zero o número dos seus membros (a direcção evanescente), é a função do partido que vai também desaparecendo – é uma função evanescente, ela própria cada vez mais perto de zero. Se um partido perde a sua função na sociedade, é o próprio partido que se torna evanescente, perdendo pouco a pouco os seus militantes. É possível, perguntar-se-ão os meus queridos leitores, evitar este processo e parar a queda em algum momento? Ora, é aqui que o trabalho de Tumi é mais interessante, ao estudar precisamente estas condições.

Notemos, em primeiro lugar, que como os dirigentes vão saindo aos poucos, a função do partido é uma função contínua, mudando devagarinho embora tendencialmente se aproxime de zero. E como podemos derivar conclusões políticas neste processo é, além de contínua, uma função derivável.

Então, meus amigos, o que nos interessa é quando conseguimos que esta função deixe de cair e pare, não variando, ou seja, estacione – por outras palavras, os seus pontos de estacionaridade. Aliás, uma função com muitos pontos de "estacionaridade" é chamada uma função táxi, e o partido que tem uma função destas diz-se um "partido do táxi".

Ora, como provou Fermat, uma função contínua é estacionária ou nos limites do seu domínio ou nos seus pontos críticos. Os limites do domínio não são o que nos interessa, pois neste caso o PP seria um partido singular, sendo o Dr. Portas o seu único elemento. Perguntar-me-ão os meus leitores, e o PP tem pontos críticos? Sim, o PP está já hoje num ponto crítico. Mas nesse caso, dir-me-ão os meus amigos, o problema está resolvido, o PP vai parar de cair porque está num ponto crítico, logo estacionário. Não, é aqui que estão enganados!

O PP deveria ter atingido um mínimo, para não cair mais e começar a subir. Porém, o Teorema de Fermat só estabelece condições necessárias – isto é, o que tem que acontecer. Isto não basta. A queda do PP pode parar apenas temporariamente e depois recomeçar. Temos, pois, que saber se parou de cair para depois recomeçar a queda – um ponto de inflexão – ou se, pelo contrário, vai subir – caso em que atingimos agora o mínimo.

Em conclusão, para que a situação do PP melhore tem que haver uma alteração substancial, não podemos ter apenas mais uma das inflexões do Dr. Portas.

Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando lhe perguntámos que perspectivas de evolução tem o CDS-PP, Frederico respondeu: "Há duas possibilidades de evolução para o PP: ou o PP se fecha sobre o que é, sendo um partido com portas, ou se abre à sociedade, e passa a ser um partido sem portas."

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