Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

A campanha do BCP

A escolha da Administração do BCP está a ser feita na praça pública, em clima de verdadeira campanha eleitoral, com apoiantes, manifestos, picardias e tudo o que cabe ao género. Cúmulo do absurdo, um dos candidatos até criou um site da sua candidatura na

  • ...

Mas que esconde uma questão bem concreta. Houve quem tivesse apanhado um grande susto. E Miguel Cadilhe achou por bem oferecer-se para sossegar as almas.

Esta é uma história que já vai longa. E por isso convirá recordar o essencial dos episódios anteriores, pois nestas sagas mediáticas, seja de crianças desaparecidas ou peripécias de bancos, a partir de determinado momento já toda a gente perdeu o fio à meada. Tudo começou com uma muito clássica guerra de poder entre um velho e um jovem. No rescaldo foram-se desvendando coisas menos dignificantes. Empréstimos a filhos, dívidas perdoadas e outras trapalhadas que habitualmente ficam no segredo dos veludos. Até ao dia em que se soube algo que superou tudo.

Ao que parece, num determinado período, terão sido cometidas ilegalidades que transbordaram do domínio da moral para o da polícia. Nesse instante, a cabeça do banco ruiu toda e de forma abrupta. Facto impressionante mas a que ninguém deu grande importância. Em consequência desta estrondosa implosão, alguns accionistas decidiram convidar uma pessoa de fora, um gestor da Caixa. Havendo logo quem se indignasse por ver os privados, seres claramente superiores, irem buscar um reles gestor da coisa pública e ainda para mais do PS. O que, segundo voz especialista na matéria, só se podia passar no quarto-mundo, onde quer que isso seja, e por manifesta ingerência do governo.

Mas adiante. O folhetim prossegue quando Luís Filipe Menezes ao mesmo tempo que denuncia a mão invisível do governo, exige que a Caixa lhe seja entregue na pessoa de Miguel Cadilhe. Louve-se a sinceridade. E finalmente, como se isto não bastasse, o próprio Cadilhe auto-propõe-se para gerir o BCP, faz uma lista à pressa, abre hostilidades e campanha.

Segundo o jornal Público, “a iniciativa de Cadilhe surge como protesto pela atitude do governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, de ter vindo a público “condenar” todos os membros dos órgãos sociais do BCP desde 1999”. E para que não restem dúvidas o mesmo esclarece que se trata de “um exercício do direito à indignação”. Ou seja, Cadilhe aparece nesta história para salvar a honra do convento e não por ter uma visão alternativa para a gestão do banco. A sua candidatura visa acima de tudo afrontar o governador de um outro banco, o de Portugal, numa enorme confusão sobre o verdadeiro assunto em causa.

Mas a indignação não explica tudo. Uma vez que se achou envolvido numa desagradável ocorrência, natural seria que Cadilhe exigisse uma investigação profunda e célere ao sucedido. Já que só esta pode esclarecer o seu próprio papel. Cadilhe devia saber que a honra só se lava com o esclarecimento dos factos. Mas, ao invés, investe num ataque feroz à entidade a quem cabe a investigação. Usando e abusando do argumento pouco sério de que esta já devia ter sido feita há mais tempo. Aliás, como se sabe, a melhor maneira de impedir que algo se faça é dizer que já vem tarde.

Sejamos claros, Cadilhe está na corrida para tentar controlar danos e resgatar o passado. Sendo um homem que reconhecidamente sobrevaloriza a sua própria figura, parece dar mais importância aos aspectos plásticos do que às essências. Sem levar em consideração que no processo está claramente a prejudicar o esclarecimento do que se passou e nesse sentido a afundar ainda mais a imagem do BCP e da banca portuguesa em geral.

O controlo das operações financeiras não interessa só à sociedade em abstracto. É hoje vital para o funcionamento do próprio sistema e de todos os que se encontram no mercado. Uma vez que se trata de um sistema essencialmente concorrencial qualquer alteração ilícita das regras prejudica acima de tudo os outros concorrentes.

Não é por acaso que situações similares ocorridas noutros países, e em particular nos Estados Unidos, têm sido tão ferozmente reprimidas. O capitalismo actual, muito dependente da nova economia e da sua forte instabilidade criativa, dá-se mal com os velhos expedientes que a todos muito prejudicam. Controlar as contas privadas é tão importante quanto controlar as públicas.

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio