Opinião
A biotecnologia é o novo software
A Biotecnologia está a revolucionar a indústria farmacêutica e agro-alimentar e a mudar radicalmente os métodos de produção da indústria química à agricultura. É uma área em forte crescimento, em que Portugal tem um excelente potencial científico e...
A Biotecnologia está a revolucionar a indústria farmacêutica e agro-alimentar e a mudar radicalmente os métodos de produção da indústria química à agricultura. É uma área em forte crescimento, em que Portugal tem um excelente potencial científico e tecnológico. Este é o momento de tornar esse potencial em mais negócios.
Mais de trezentos representantes de empresas de biotecnologia estão hoje em Lisboa. No hotel Sana estão administradores de alguns dos maiores grupos mundiais de biotecnologia e também da indústria química, farmacêutica, alimentar e até do sector automóvel.
A biotecnologia é uma área onde a mudança é a regra e onde as pequenas empresas de hoje podem rapidamente tornar-se os gigantes que dominam os novos produtos de amanhã.
Hoje, mais de metade dos novos medicamentos em desenvolvimento têm origem na biotecnologia. Algumas das mais interessantes soluções de tratamento e diagnóstico também.
Verdadeiras revoluções nos métodos de produção estão a permitir que resíduos se tornem matéria-prima valiosa para a produção de energia, suplementos alimentares, medicamentos ou plásticos de origem orgânica. Não é por acaso que a Toyota é uma das empresas presentes no encontro de Lisboa.
Portugal tem muito potencial neste sector. O país assumiu uma postura inovadora e começou a investir fortemente no desenvolvimento da biotecnologia há mais de vinte anos. Os resultados em termos de doutoramentos, publicações e patentes colocam algumas das nossas universidades e centros de investigação entre os melhores da Europa. Hoje temos quase meio milhar de doutorados nesta área.
Mas, o mais interessante é o crescimento do número de empresas. Nos últimos quatro anos o número de empresas do sector duplicou. Muitas destas empresas têm forte ligação às universidades. Muitas foram iniciadas por grupos de investigadores. Várias têm já contratos de investigação ou de venda de tecnologia a grandes empresas mundiais. Mas, muitas estão ainda à procura de investidores ou capital de risco para avançarem. É uma área onde existem muitas oportunidades.
Estas oportunidades foram referidas pelo representante da UK Trade and Investment (a congénere da AICEP do Reino Unido) numa entrevista que deu na sua recente visita ao nosso país, em que destacava a biotecnologia como uma das três áreas em que havia maior interesse para parcerias e investimentos entre o Reino Unido e Portugal.
Não é por acaso que o encontro europeu vai incluir visitas a empresas e a um parque tecnológico especializado em biotecnologia (o Biocant). Várias empresas estrangeiras têm demonstrado interesse pelo que se passa neste sector em Portugal. Os casos da Crioestaminal ou da Alfama, empresas de iniciativa portuguesa já com capitais estrangeiros, são dois exemplos de IDE.
A Dinamarca tem várias das maiores empresas de biotecnologia. Algumas, há dez ou vinte anos não existiam e hoje têm milhares de trabalhadores. É um bom exemplo de como um pequeno país pode, numa área nova, marcar posição e conseguir ter empresas que são líderes mundiais.
Será que isto é possível em Portugal?
Há quinze anos atrás poucos acreditavam que Portugal pudesse ter nas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) um dos seus pólos de exportação. Os fundadores da Critical, da Primavera, Ydreams, Chipidea ou da Alert estavam entre esses poucos e mostraram como poucos e bons chegam para criar milhares de postos de trabalho e dar um contributo muito forte para mudar a balança tecnológica de deficitária para excedentária. No software havia boas universidades, pessoas qualificadas, empreendedorismo e muitas oportunidades por aproveitar.
Exactamente o mesmo que acontece hoje com a biotecnologia. Em Portugal há recursos qualificados, boas universidades, empreendedorismo e boas oportunidades.
Investir em áreas tecnológicas é mais complicado do que em sectores tradicionais. Requer uma visão de longo prazo, assumir riscos e conseguir identificar projectos e negócios em áreas que ainda não existem. Mas sobreviver nos sectores tradicionais também não é fácil.
Eu acredito que dentro de dez anos poderemos ver empresas portuguesas como referência mundial em produtos e processos que hoje não são mais do que experiências de laboratório. A biotecnologia poderá nessa altura ter um papel tão importante como hoje têm as empresas de software.
No entanto, pode também ser mais uma oportunidade que o país não soube aproveitar. Esse é o desafio que os cientistas e empreendedores desta área estão a lançar aos empresários e investidores portugueses e aos estrangeiros que hoje estão em Portugal.
Departamento de Economia da Universidade do Minho
Assina esta coluna quinzenalmente à quinta-feira
Mais de trezentos representantes de empresas de biotecnologia estão hoje em Lisboa. No hotel Sana estão administradores de alguns dos maiores grupos mundiais de biotecnologia e também da indústria química, farmacêutica, alimentar e até do sector automóvel.
Hoje, mais de metade dos novos medicamentos em desenvolvimento têm origem na biotecnologia. Algumas das mais interessantes soluções de tratamento e diagnóstico também.
Verdadeiras revoluções nos métodos de produção estão a permitir que resíduos se tornem matéria-prima valiosa para a produção de energia, suplementos alimentares, medicamentos ou plásticos de origem orgânica. Não é por acaso que a Toyota é uma das empresas presentes no encontro de Lisboa.
Portugal tem muito potencial neste sector. O país assumiu uma postura inovadora e começou a investir fortemente no desenvolvimento da biotecnologia há mais de vinte anos. Os resultados em termos de doutoramentos, publicações e patentes colocam algumas das nossas universidades e centros de investigação entre os melhores da Europa. Hoje temos quase meio milhar de doutorados nesta área.
Mas, o mais interessante é o crescimento do número de empresas. Nos últimos quatro anos o número de empresas do sector duplicou. Muitas destas empresas têm forte ligação às universidades. Muitas foram iniciadas por grupos de investigadores. Várias têm já contratos de investigação ou de venda de tecnologia a grandes empresas mundiais. Mas, muitas estão ainda à procura de investidores ou capital de risco para avançarem. É uma área onde existem muitas oportunidades.
Estas oportunidades foram referidas pelo representante da UK Trade and Investment (a congénere da AICEP do Reino Unido) numa entrevista que deu na sua recente visita ao nosso país, em que destacava a biotecnologia como uma das três áreas em que havia maior interesse para parcerias e investimentos entre o Reino Unido e Portugal.
Não é por acaso que o encontro europeu vai incluir visitas a empresas e a um parque tecnológico especializado em biotecnologia (o Biocant). Várias empresas estrangeiras têm demonstrado interesse pelo que se passa neste sector em Portugal. Os casos da Crioestaminal ou da Alfama, empresas de iniciativa portuguesa já com capitais estrangeiros, são dois exemplos de IDE.
A Dinamarca tem várias das maiores empresas de biotecnologia. Algumas, há dez ou vinte anos não existiam e hoje têm milhares de trabalhadores. É um bom exemplo de como um pequeno país pode, numa área nova, marcar posição e conseguir ter empresas que são líderes mundiais.
Será que isto é possível em Portugal?
Há quinze anos atrás poucos acreditavam que Portugal pudesse ter nas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) um dos seus pólos de exportação. Os fundadores da Critical, da Primavera, Ydreams, Chipidea ou da Alert estavam entre esses poucos e mostraram como poucos e bons chegam para criar milhares de postos de trabalho e dar um contributo muito forte para mudar a balança tecnológica de deficitária para excedentária. No software havia boas universidades, pessoas qualificadas, empreendedorismo e muitas oportunidades por aproveitar.
Exactamente o mesmo que acontece hoje com a biotecnologia. Em Portugal há recursos qualificados, boas universidades, empreendedorismo e boas oportunidades.
Investir em áreas tecnológicas é mais complicado do que em sectores tradicionais. Requer uma visão de longo prazo, assumir riscos e conseguir identificar projectos e negócios em áreas que ainda não existem. Mas sobreviver nos sectores tradicionais também não é fácil.
Eu acredito que dentro de dez anos poderemos ver empresas portuguesas como referência mundial em produtos e processos que hoje não são mais do que experiências de laboratório. A biotecnologia poderá nessa altura ter um papel tão importante como hoje têm as empresas de software.
No entanto, pode também ser mais uma oportunidade que o país não soube aproveitar. Esse é o desafio que os cientistas e empreendedores desta área estão a lançar aos empresários e investidores portugueses e aos estrangeiros que hoje estão em Portugal.
Departamento de Economia da Universidade do Minho
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