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30 de Novembro de 2009 às 11:56

A Alma do futebol

Em 1952, pouco antes de morrer, o sr. Teixeira de Pascoaes, que passou décadas a tentar descortinar a redenção de Portugal, disse: "Creio bem que o chamado futurismo, o ateísmo, o tiro aos pombos, a reforma ortográfica, o futebol, etc., todas as forças...

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Em 1952, pouco antes de morrer, o sr. Teixeira de Pascoaes, que passou décadas a tentar descortinar a redenção de Portugal, disse: "Creio bem que o chamado futurismo, o ateísmo, o tiro aos pombos, a reforma ortográfica, o futebol, etc., todas as forças dissolventes da nossa Alma, são de carácter transitório". É certo que, mais de meio século depois, a nossa Alma continua demasiado anémica para se redimir, e tudo continua a ser transitório excepto, claro, o futebol. Este transformou-se na política oficial do País. É ele que move multidões, e não a "Face Oculta", o défice, o TGV ou os inexplicáveis acidentes de automóvel na Avenida da Liberdade.

Mas o futebol, em si, é a coisa mais transitória do mundo. Pelo menos neste País à beira-mar especado. Imaginemos que o Sporting-Benfica deste sábado não tinha terminado com um entusiasmante zero a zero. Se o Sporting tivesse ganho, o sr. Carvalhal teria passado, num ápice, de besta a bestial. Se o sr. Jorge Jesus tivesse perdido, ter-se-ia transformado de bestial em besta. As aparências salvaram-se porque, inteligentemente, o sr. Carvalhal e o sr. Jesus trouxeram o Pai Natal para Alvalade: como nenhum perdeu, ambos ficaram a ganhar uma prenda, modesta é certo, mas uma recompensa. Saíram ambos felizes do jogo dentro de um espírito que diz muito da transitoriedade da nossa Alma: é melhor não perder do que ganhar.

Afinal, neste jogo, Sporting e Benfica simbolizaram bem o clima de águas turvas onde navega Portugal. O melhor é dar passos muito pequenos ou estar parado, para ir pelo seguro, do que optar pelo risco e poder-se sofrer um dissabor. Se tivéssemos dúvidas que o futebol assimilou decisivamente a Alma portuguesa bastava vermos como actua o sr. Gilberto Madaíl. Se anunciamos que nos vamos candidatar ao Mundial de 2018, ali está ele defronte das câmaras.

Mesmo que Portugal, na candidatura, seja o primo pobre de Espanha. Se, pelo contrário, a FPF deve tomar uma posição sobre se um relvado é propício para a prática do futebol ou é um campo de batatas (como no jogo do FC Porto para a Taça), a agremiação do sr. Gilberto Madaíl empurra a decisão para o árbitro. Em caso de dúvida a FPF prima sempre pela ausência, pela louvável distracção ou pelo discurso de circunstância. Não perder é sempre melhor do que arriscar para ganhar. A Alma portuguesa é assim e quem é que quereria alterar essa maneira de ser no seu espelho perfeito, o futebol? Ninguém. É por isso que o Sporting-Benfica terminou com um fascinante empate e o sr. Madaíl continua a ser Presidente da FPF.
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