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[ 115. ] Olá, Bosch, Samsung, PT, Amoreiras

Zézé Camarinha era há pouco tempo uma personagem desprezível para a «sociedade elegante». A sua incerta profissão de conquistador de turistas estrangeiras repugnava. Depois, o indivíduo começou a aparecer em público. E em «talk-shows». Diz bojardas de bai

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E agora acabou o Verão alegrando uma campanha rádio-televisiva dos gelados Olá.

O anúncio de TV mostra como «paisagem» algarvia  um tipo de arquitectura hoteleira e «apartamentística» adequado à personagem. Quer na rádio quer na TV, os anúncios baseiam-se no inglês incipiente da personagem da vida real. Fazem da sua ignorância um elemento cómico, não por ser condenável, mas por ser divertida e empática. Camarinha é um típico fura-vidas, orgulhoso de o ser, e agora vê recompensada essa atitude descarada com a entrada no «mainstream» social e público através da campanha de uma marca de suposto prestígio. Longe vão os tempos do ingénuo «um Corneto pra ti, um Corneto pra mim, olé, Olá». Agora é um profissional de sexo com estrangeiras, um orgulhoso gigolô, quem promove gelados para as criancinhas. Ou está tudo maluco ou isto faz parte da «silly season».

A Bosch anuncia «XXL, um tamanho que vai querer usar». Ao fundo, um casalinho desfocado namora no sofá. Em primeiro plano, o elegante design da nova Bosch Logixx 9, uma máquina de lavar roupa que «não é grande – é enorme». O texto ajuda a perceber as características, mas fica uma por explicar: a máquina tem «um sistema tridimensional de lavagem».  O que será isso? Haverá algum sistema de lavagem que seja apenas bidimensional? Como é? Virtual?

Mais uma vírgula entre o sujeito e o predicado. No anúncio do aparelho de ar condicionado «que esteriliza o ar» que se respira a Samsung escreve: «Os parasitas do seu escritório, estão com os dias contados.» Pode ser que sim, pode ser que tenham os dias contados, mas a vírgula parasitária continua a ser uma praga nos textos dos anúncios portugueses e resiste a todas as revisões esterilizadoras de textos.

A PT tem um anúncio que mostra uma moeda de um cêntimo em fundo negro. A frase a vermelho é muito clara: «Isto é quanto lhe custa, por minuto, uma chamada na rede PT.» Só no texto em baixo é que o reclame explica que esse tarifário se aplica apenas «em horário económico.» O anúncio é, por isso, enganador. Seria o mesmo se um reclame dum automóvel dissesse que o carro custava apenas um euro e depois acrescentasse que se referia apenas a uma das tampinhas plásticas que tapam parafusos.

Uma outra campanha da PT parece ter surtido algum efeito, mas a mim fez-me impressão: aquela em que uma prancha de surf e uma árvore são substituídas por uma enorme mancha de símbolos da PT simulando essa prancha e essa árvore. A acumulação dos simbolozinhos, com a respectiva sombra a simular as três dimensões, sugere uma acumulação nojenta de borbulhas ou de parasitas não esterilizados.

O Amoreiras Shopping Center tem uma campanha que transforma edifícios muito conhecidos de Lisboa em «taveiradas»: por exemplo, o magnífico elevador de Eiffell na Rua de Santa Justa torna-se semelhante à arquitectura dos edifícios de Tomás Taveira nas Amoreiras. Os anúncios por aí não funcionam mal, até porque as Amoreiras continuam a ser o melhor edifício de Taveira em Lisboa. Tornaram-se um ícone, pelo que a sua utilização na campanha não desmerece os outros edifícios (muito embora o elevador de Santa Justa fique feíssimo no anúncio).

Entretanto, a colocação de um modelo em grande destaque torna estes anúncios semelhantes ao do FreePort de Alcochete. O AmoreirasShopping Center viu nele um inimigo e, como quem não quer a coisa, deu neste anúncios um sinal aos lisboetas de que também é grande e que está realmente no centro da cidade e não próximo.

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