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28 de Setembro de 2012 às 12:38

A esquina do Rio

Num escasso ano de Governo, Passos Coelho falhou duas formas diferentes de promessas políticas, ambas desastrosas para o funcionamento do nosso sistema.

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Promessas
Num escasso ano de Governo, Passos Coelho falhou duas formas diferentes de promessas políticas, ambas desastrosas para o funcionamento do nosso sistema. A primeira, que começou pouco tempo depois das eleições, tem a ver com o renegar do que foi prometido durante a campanha eleitoral; a segunda, ainda mais grave, tem a ver com o falhanço do cumprimento de objectivos usados para justificar as medidas de austeridade. Os indicadores da economia estão todos a piorar - o défice continua a derrapar, o desequilíbrio aumenta, o desemprego também, a colecta fiscal diminui apesar do aumento generalizado dos impostos. O Governo não falhou porque recuou em medidas que tinham sido preparadas e apresentadas à pressa e de forma amadora, falhou porque não alcançou as metas que traçou, apesar de ter podido fazer tudo o que pretendeu no orçamento de Estado actual. O balanço do exercício do primeiro orçamento elaborado, aprovado e gerido pela equipa de Passos Coelho está longe de ser brilhante . É claro que com uma prestação destas o fugitivo de Paris deve estar a rir-se, apesar dos milhões que desbaratou e da situação que criou. Quem não acha graça a isto somos nós , eleitores sempre enganados, cidadãos sempre abusados, entalados entre o que se vai descobrindo de falcatruas antigas e o que se vai vendo de políticas irrealistas falhadas.


Fisco
O Supremo Tribunal Administrativo deu razão a um cidadão que se queixou porque uma nota de pagamento do IMI, recebida da Autoridade Tributária, não cumpria a lei, já que não explicava como chegou ao valor que pretendia tributar. O caso, que na opinião de juristas pode fazer jurisprudência e pôr em causa cobranças efectuadas do IMI nos últimos anos, vem também colocar sob escrutínio as novas avaliações de imóveis que estão a ser efectuadas, e que devem ter incidência no futuro próximo. Por outro o caso lado comprova a displicência com que a Autoridade Tributária actua, não zelando pelo cumprimento da lei, e regendo a sua actividade sob o lema de cortar caminho, desprezando os direitos dos contribuintes. O contribuinte que moveu o processo, que persistiu até ao Supremo e que no final venceu o fisco, é uma excepção entre os milhões de contribuintes silenciados pelas ameaças constantes da Autoridade Tributária, vítimas de lapsos e de atrasos, e sem recursos para poderem protestar e levar o caso á justiça. O Provedor de Justiça faria bem em exercer a sua autoridade sobre o fisco, utilizando esta decisão do Supremo Tribunal Administrativo para defender os direitos dos cidadãos. Nenhum contribuinte alemão, desse país de que Vítor Gaspar tanto gosta, toleraria comportamentos como os da Autoridade Tributária portuguesa.


Ouvir
Bill Fay é um dos segredos bem escondidos da música popular britânica, com dois álbuns quase clandestinos, do início da década de 70. Aqui há uns anos os Wilco voltaram a colocar o seu nome na ribalta com uma versão do tema "Be Not So Fearful" - Jeff Tweedy é um fã de Fay, tal como Nick Cave, por exemplo. Agora, quatro décadas depois do seu ultimo disco de originais, com sessenta e poucos anos, eis que Bill Fay reaparece com "Life Is People", um disco denso, onde em 12 canções, grande parte delas com um simbolismo religioso, que se mistura com questões ambientais e reflexões sobre a vida nos tempos que correm, ele mostra como consegus continuar a fazer canções intensas (There Is A Valley, City Of Dreams, This World, Cosmic Concerto, The Coast No MAN Can Tell). Para retribuir o apoio dado nos ultimo's anos por Jeff Tweedy, que também colabora neste album, Fay interpreta uma das canções dos Wilco, "Jesus, Etc". O produtor do disco é um norte-americano, Joshua Henry, que em miúdo descobriu os discos originais de Fay na discoteca do pai e se apaixonou por eles . Felizmente não descansou enquanto não o conseguiu convencer a voltar a estúdio. (CD comprado na iTunes).


Folhear
A "Monocle" de Outubro tem andado muito exposta no Facebook lusitano e o motivo é simples. O título de capa é "Geração Lusophonia: Porque é que o português é o próximo idioma do poder e do comércio". Lá dentro há numerosas referências ao Brasil, a Portugal (os encantos da ilha de S. Miguel e dos Açores, as maravilhas da Comporta, as vantagens da cortiça), mas também a todos os outros países que falam português - por acaso todos com costa marítima, como a revista faz questão de notar. Luanda é mostrada como uma cidade em desenvolvimento para onde os quadros portugueses querem ir, Maputo é o tema do portfolio fotográfico, e são indicados grupos financeiros, de media, de comunicações ou industriais, como o BES, a PT, a Sonangol ou a Soporcel, mas também a livraria Ler Devagar, a loja A Vida Portuguesa ou as conservas Ramirez. E são falados os nomes dos Deolinda, de Pedro Gadanho (que está no MOMA em NY), dos Buraka Som Sistema, assim como Álvaro Siza, com direito a destaque. O próprio editorial do editor, Tyler Brulé, é dedicado às nações que falam português. As nações lusófonas têm a dispersão geográfica certa e a escala necessária para serem potencialmente mais ágeis e eficazes que outros conjuntos de nações com um idioma comum - escreve ele. Fica o recado. E, lá no meio dos textos, uma nota que faz sorrir: Portugal tem a localização certa para desenvolver a indústria naval e a vocação marítima.


Arco da velha
As rações de combate da tropa, incluindo, uma feijoada à transmontana enlatada, estão a ser compradas a fabricantes espanhóis, de Alicante.


Semanada
Em cada dia entram nas prisões portuguesas três novos detidos; um em cada três homicídios ocorre em contexto conjugal; o Procurador Geral da República afirmou numa entrevista que as polícias fazem escutas ilegais; ao primeiro dia de chuvas, de Outono, houve logo inundações em Lisboa; as exportações de ouro portuguesas aumentaram 75 por cento nos primeiros seis meses do ano; o défice real deverá chegar este ano a 6,1%, o que sai fora das previsões do Governo; o IVA caíu 2,2% em vez de ter uma subida de 11,6% prevista pelo Ministério das Finanças; a venda de raspadinhas disparou 80%; provando que o ridículo mata, a anedota da semana veio do PS que reivindica que o abandono da TSU se deveu à sua ameaça de moção de censura; ex-ministros do PS da área das Obras Públicas foram alvos de buscas por causa das PPP ao fim deste tempo todo; a factura do abastecimento de água ao consumidor triplicou entre 2009 e 2011; desde 30 de Agosto que os Conselhos de Ministros terminam sem comunicado - deixou de valer a pena explicar às pessoas o que anda o Governo a tratar?


Provar
Esta semana provei os efeitos da crise. O Frascati, um restaurante simples e despretensioso, de que muito gostava, situado na Rua Padre António Vieira, em Lisboa, encerrou portas. Não resistiu aos efeitos colaterais dos aumentos do IVA. Isso aconteceu porque, como tantos outros, tentou não aumentar os preços na proporção dos aumentos provocados pelo IVA nas matérias primas e no valor final a cobrar ao cliente. Tentou não penalizar as faturas, com medo que os clientes fugissem. Acabou por não resistir. Tive lá muitas boas conversas com amigos e era um daqueles sítios simpáticos onde se entrava e se encontrava sempre alguém conhecido. Estes locais estão a desaparecer, aquelas casas onde se comia bem com contas leves, estão a ficar condenados, esmagados entre as taxas do Estado e as taxas dos cartões de pagamento. Neste Outono já comecei a sentir aumentos de preços em cafés e pequenos restaurantes que até aqui não tinham mexido nos valores de forma significativa. A espiral vai girando - e não traz nada de bom.


Ver
Gosto de fotografia de rua, mesmo quando é um pouco encenada, como é o caso das "Suites Brasileiras" do francês Raphael Blum, que fotografou pessoas em vários ambientes de cidades brasileiras. Há um misto entre o instantâneo e a estética do fotógrafo "a la minute" que me atrai nestes retratos, que fazem parte de uma exposição repartida entre o Instituto Francês (Avenida Luis Bivar) e a Casa da América Latina (Av 24 de Julho 118). "Suites Brasileiras" está nestes locais durante todo o mês de Outubro.



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