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08 de Outubro de 2010 às 11:37

A esquina do Rio

Manuel Alegre foi o único candidato já anunciado às próximas eleições presidenciais

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Ausência
Manuel Alegre foi o único candidato já anunciado às próximas eleições presidenciais que não esteve nas comemorações oficiais do Centenário da República, na Praça do Município, em Lisboa. A versão oficial diz que ele esteve em Loures e no Barreiro, onde a República terá sido proclamada ainda antes de Lisboa. A evidência no entanto é que Manuel Alegre preferiu ir para locais onde não corresse o risco de ser confrontado com a pergunta: "que acha das medidas de austeridade anunciadas pelo Governo?".

Se tivesse ido à Praça do Município, Manuel Alegre teria que falar aos jornais, às estações de rádio, às estações de televisão. Seria impossível continuar com o silêncio, algo covarde, atrás do qual se tem escondido desde que Sócrates anunciou que ia mesmo ter que fazer cortes sérios. A atitude de Manuel Alegre, a forma como se esconde, diz muito sobre a sua frontalidade, sobre a sua transparência e, sobretudo mostra a enorme clivagem, que se há-de acentuar ainda mais, entre as medidas que o PS toma e o que o candidato propagandeia. Manuel Alegre tenta o equilíbrio entre os seus dois apoiantes - PS e Bloco de Esquerda - mas a única coisa que consegue é esconder-se.


Coisas
No dia das comemorações do centenário da República um grupo de simpatizantes monárquicos, na maioria alinhados com o blogue "31 da Armada", estava perto da Praça do Município e os participantes colocaram máscaras de Darth Vader, personagem da "Guerra das Estrelas" que tem sido a imagem de marca daquele blogue. O curioso é que foram abordados por polícias à paisana, vários deles de cabelos rapados e óculos escuros, que lhes quiseram tirar as máscaras, não se sabe bem por que razão nem por qual autoridade.

Noutra rua ali próxima um conhecido humorista da TV, Jel, dos Homens na Luta, fazia uma das suas habituais intervenções, proclamando que na sua opinião estamos numa república das bananas - e por esse facto foi detido e levado para identificação pela polícia. Num regime que se quer expoente da Liberdade, estes comportamentos são curiosos.

Mais elucidativo ainda é o relativo e dominante silêncio dos media sobre estas atitudes - e já agora também sobre as cerimónias evocativas da Monarquia que na mesma data ocorreram em Guimarães, sem dignatários do regime nem usufrutuários dos dez milhões de euros das festividades republicanas, mas com largas centenas de pessoas, que lá se deslocaram de propósito a expensas próprias, num ambiente de festa popular em contraste com o cinzentismo da Praça do Município.


Ver
A nova proposta da Plataforma Revólver é uma exposição colectiva intitulada "Tough Love, Uma Série de Promessas", que agrupa trabalhos de 12 artistas em diferentes fases da carreira criativa e provenientes de diversos países. O objectivo é "explorar o uso da arte em fornecer complementos exteriores para a noção de amor - uma jornada pessoal efémera composta por outras emoções mais provocatórias, incluindo o ódio, o desejo, a inveja e o destino". Destaco os trabalhos de Cecília Costa, Agathe de Bailliencourt, Samira Abbasy, K.P. Reiji, Isabel Ribeiro, Greg LeFevre Marc Bijl e Zak Ové . A exposição estará patente até 20 de Novembro na Rua da Boavista 84-1º, Lisboa.


Ouvir
Nestes dias outonais nada como um bom disco de jazz, feito por um trio com uma formação intocável - piano, baixo e bateria. No piano está Jason Moran, no baixo está Tarus Mateen e na bateria está Nasheet Waits. Este trio completou dez anos de existência, já que o seu disco estreia foi "Facing Left", de 2000. Matematicamente, este novo registo chama-se "Ten" e reafirma como o talento de Moran está em conseguir fundiar a sua sensibilidade clássica com a intensidade da inspiração afro-americana dos músicos que o acompanham. Grande parte dos temas são da autoria do próprio Jason Moran, mas vale a pena ouvir com atenção as suas versões de "Crepuscle With nellie" de Thelonius Monk e de "Big Stuff", de Leonard Bernstein. "Ten", CD Blue Note, na Amazon.


Arco da Velha
Nunca me tinha passado pela cabeça ouvir Mário Soares elogiar Cavaco Silva, mas foi isso mesmo que ouvi no dia da celebração do centenário da República. Ora aqui está a verdadeira união nacional. Quem deve ter ficado a ferver é Manuel Alegre.


Excesso
Um bom excesso, na realidade: a coisa começa logo na capa - uma fotografia que chama a atenção e um título que diz tudo - "90 anos de excessos". É a edição especial de aniversário da Vogue francesa, que assinala os 90 anos da revista que é a bíblia da moda. São 626 páginas, a maioria de publicidade deslumbrante, muita dela feita de propósito para esta edição. Só a publicidade, de facto, é por si própria um conteúdo editorial. Para além da publicidade e da moda há artigos sobre o escritor Raimond Carver, uma bela evocação de Yul Brynner, outra da super modelo Dorian Leigh, que foi seis vezes capa da Vogue em 1946 - veja, essas imagens fascinantes. Mas há mais: um álbum com reproduções de artigos antigos sobre Brigitte Bardot, Françoise Sagan, Romy Schneider, Jeanne Moreau, Annie Girardot, Catherine Deneuve, e Marilyn Monroe, a descrição que Richard Burton fez há anos para a Vogue da sua vida com Elisabeth Taylor e várias páginas de fotografias de algumas das grandes modelos que posaram para a revista nestes 90 anos. Imperdível - e pode ser comprada em Portugal ou vista em iPad ou em www.vogue.fr.


Ler
Agatha Christie está no nosso imaginário como a autora de numerosos policiais de trama aliciante e desfecho inesperado. Mas confesso que conhecia muito pouco da sua vida pessoal. "Na Síria" não é bem um livro de viagens no sentido tradicional do termo - é mais o relato de experiências vividas num país, recordações de uma época, recordações assumidas com prazer. Agatha Christie, e isto eu também não sabia, casou-se com um arqueólogo britânico que conheceu nas suas experições. E antes da Guerra, durante uma década a partir de 1930, acompanhou o seu marido em sucessivas explorações e investigações na Síria. Este livro relata essas viagens, as descobertas e facetas desconhecidas da escritora. Após as expedições à Síria, ela voltou para Londres onde viveu nos anos da II Grande Guerra. E foi só com o fim do conflito que terminou este livro, agora publicado em Portugal. É um delicioso relato de uma viagem para descobrir a Agatha Christie que desconhecemos. "Na Síria", Edição Tinta da China, na Pó dos Livros. 285 páginas.


Provar
Esta semana inauguro um novo género de recomendações. Assim, aqui vai - eu ainda não fui lá, estou com vontade de ir, mas dois amigos meus de reconhecido paladar, a Ana e o Carlos, já lá foram e insistem que eu não posso deixar de descobrir o local. Chama-se Porto Santana, fica em Alcácer do Sal, do lado direito depois da ponte velha, onde antes era a Tasca do Gino, perto do local de onde partem as embarcações de recreio para passeios no Sado. A boa reputação da casa é feita pela sopa de cação, pelo ensopado de enguias, pela canja de amêijoas, migas à alentejana, lombo de porco preto. Pratica boa cozinha a preços moderados e tem uma boa garrafeira. Encerra ao jantar de segunda-feira e toda a terça-feira. Telefone 265 613 454.



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