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29 de Outubro de 2010 às 12:05

A esquina do Rio

"O empréstimo faz-se ou não se faz?" - Eça de Queiroz colocou ironicamente a questão que atormentou Portugal nos dois últimos séculos

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"O empréstimo faz-se ou não se faz?" - Eça de Queiroz colocou ironicamente a questão que atormentou Portugal nos dois últimos séculos no seu livro "Os Maias". A realidade é que cada vez que o país espirrava, o banco Barings acudia, para salvar a situação catastrófica das finanças portuguesas. Portugal era um problema para o banco britânico, normalmente pagava tarde, mas era um bom cliente. O Barings foi o responsável pela primeira emissão de obrigações portuguesas no exterior, em 1802. A vida da instituição financeira britânica confunde-se, muitas vezes, com a história das finanças portuguesas.

Este parágrafo faz parte da introdução do livro "Barings - A História do banco Britânico que salvou Portugal", da autoria de Fernando Sobral e Paula Alexandre Cordeiro, editado em 2005 pela Oficina do Livro. A obra é cada vez mais actual e no meio desta tormenta em que vivemos voltei a folheá-lo. E encontrei estas palavras do então ministro das Finanças Oliveira Martins, proferidas aos deputados em 20 de Janeiro de 1892: "Nós chegámos a este estado, verdadeiramente anormal. de consumir exclusivamente produtos estrangeiros e de trabalhar exclusivamente com capitais estrangeiros; de nos dessangrarmos anualmente com o serviço desses capitais e com o preço desses produtos! Vivemos exagerando a soma da dívida pública até às proporções verdadeiramente esmagadoras em que hoje se encontra. Isto é que é necessário que esteja na consciência de todos; ou nós conseguimos equilibrar o Orçamento do Estado á custa de sacrifícios, sejam eles quais forem, ou estamos irremediavelmente perdidos".

Em 2005, os autores do livro, que foram buscar esta citação, comentavam-na assim: "estas palavras poderiam ser adaptadas à realidade portuguesa das últimas décadas como luvas feitas à medida das mãos do país. Nada, ou quase nada, mudou desde esses dias longínquos e o Estado continuou sempre a gastar acima das suas possibilidades, como se tivesse uma qualquer obrigação moral de esbanjar os escassos recursos do país. Gasta-se muito e a qualidade do que é produzido pela bola de neve estatal é duvidosa". Em cinco anos, desde que o livro foi editado, a coisa só se agravou.

Audiovisual
Está a dar polémica a ideia de os utilizadores de telemóveis passarem a pagar uma taxa para subsidiar a produção de filmes portugueses.

Claro que são os consumidores finais que vão pagar isto - os mesmos que já pagam uma taxa sobre a conta da electricidade para financiar o serviço público de televisão que, por sua vez, devia também fomentar a produção audiovisual portuguesa. Resumo de tudo isto: pagamos a dobrar.

Ouvir
Em 1961, o trio de Bill Evans gravou uma das suas obras mais importantes, o LP "Waltz For Debby", que incluía um tema original do próprio Evans que dava o nome ao disco. Trata-se do quarto album de um trio que, para além de Bill Evans no piano, incluía Scott LaFaro no baixo e Paul Motian na bateria. Para além do tema-título, o LP original incluía versões de "My Foolish Heart", "My Romance", "Detour Ahead", "Some Other Time" e "Milestones".

O CD, agora editado na série Original jazz Classics Remastered, da Universal Music, tem faixas bónus gravadas na mesma altura mas não editadas, como uma versão de "Porgy". Simplesmente magnífico.

Provar
Desta vez a sugestão não é de um restaurante, mas de um livro, na verdade um livro de receitas. Tem o divertido título de "Cozinha fácil para homens que não sabem estrelar um ovo (ou mulheres emancipadas)" e trata-se de uma colectânea de boas ideias de execução na generalidade simples e que podem permitir mesmo aos mais desajeitados fazer um "vistão" na cozinha. O autor é João Viegas, homem de mil ofícios, de publicitário a pintor, mas sobretudo um apaixonado por viagens e pela vida. A edição é da Antígona.

Arco da Velha
Ana Paula Vitorino, ex-secretária de Estado do primeiro Governo Sócrates, acusou publicamente o ex-ministro Mário Lino de a ter pressionado para favorecer Manuel Godinho, o homem do processo "Face Oculta". Segundo Ana Paula Vitorino, o argumento para o pedido seria ajudar a resolver os problemas de um "amigo do PS". Estamos em clima de fim de regime.

Resumo da semana
As negociações duraram vários dias mas não levaram a acordo - provocaram nova ruptura. Os dois lados acusam-se mutuamente, mas daqui a algum tempo se verá quem mostrou inflexibilidade - após as maratonas negociais, a ruptura foi provocada por uma divergência cujo valor é de 0,25% do PIB, o valor das medidas que o Governo rejeitou. Logo depois de a ruptura se ter tornado pública, o Presidente da República convocou o Conselho de Estado. No meio de pompa e promessas de contenção, Aníbal Cavaco Silva não anunciou a sua recandidatura, apenas confirmou as evidências e o que Marcelo Rebelo de Sousa tinha revelado. A Refer anunciou que passará a comprar energia eléctrica para os seus comboios à Iberdola, substituindo assim a EDP como fornecedora e poupando 1,2 milhões por ano com a mudança. O Estado português pediu emprestados mais 1225 milhões de euros esta semana. António Borges foi nomeado director do Departamento Europeu do FMI.

Registo
Desvios de dinheiros públicos, favorecimentos políticos em decisões fundamentais, desperdício de recursos públicos e o peso da burocracia são as causas apontadas pela Organização Governamental "Transparência Interna" para fazer Portugal subir na lista dos países mais corruptos.

Folhear

A revista semanal francesa "Les Inrockuptibles" mudou recentemente de paginação e fez alguns ajustes editoriais. O papel também é diferente e, embora a publicação fosse muito mais abrangente que o "rock", alargou o seu enfoque um pouco mais - por exemplo para o debate de ideias. Numa edição recente (semana de 13 a 19 de Outubro), a capa era dedicada a um debate entre uma secretária de Estado do Governo Sarkozy, Rama Yade, que recentemente divulgou, como parte do seu programa de acção político, uma "carta à Juventude" e um líder de Maio de 68, Daniel Cohn-Bendit. O título-pergunta, para começo de conversa, era "Quem é moderno?". Rama Yade cresceu nos anos 90 e olha com desconfiança para a geração de Maio de 68, que apelida de "geração mimada".. A conversa é fantástica e um bom exemplo do espírito de renovação que passa na revista. Se forem ao "site" da revista e pesquisarem pelos nomes dos dois intervenientes, têm o debate todo à vossa frente. Magnífico.
(http://www.lesinrocks.com/actualite/actu-article/t/52393/date/2010-10-20/article/daniel-cohn-bendit-rama-yade-le-debat/)

Ver
A sugestão de exposição nesta semana vai para um dos mais bonitos museus de Lisboa, o Arpad Szenes-Vieira da Silva, na belíssima Praça das Amoreiras. Desde há algumas semanas lá pode ser vista a exposição "Isto é Isto e EX-Fotos, desenho e fotografia", com base em obras de Fernando Lemos, um surrealista português que tem uma das mais curiosas obras, infelizmente pouco conhecida. Se querem descobrir um pouco mais sobre ele, antes de visitarem a exposição, vão a www.fernandolemos.org e lá poderão descobrir a forma como ele vê o mundo.


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