Opinião
A esquina do Rio
Mesmo em tempos de crise, convém voltar a recordar que os impostos que todos pagamos se destinam a garantir algumas coisas básicas em troca
Impostos
Mesmo em tempos de crise, convém voltar a recordar que os impostos que todos pagamos se destinam a garantir algumas coisas básicas em troca - saúde, educação, segurança, infra-estruturas, redes de saneamento e algumas outras coisas mais. Nos últimos anos, e porque o Estado é mal governado - desde o topo, do Governo, até às autarquias - acumularam-se dívidas. Para pagar essas dívidas surgem sempre mais impostos. Um Governo tem também que ser julgado pelo equilíbrio que consegue criar na distribuição da carga fiscal. A questão da redução da TSU vai trazer um acréscimo de IVA, já se percebeu, e o IVA é dos impostos mais injustos que existem, mas é uma arma de fácil recurso para extorquir dinheiro aos contribuintes. Eu espero que a redução da TSU seja feita por forma a beneficiar a competitividade da indústria e de alguns serviços, mas também por forma a não ser uma forma de aumentar lucros à banca ou outros serviços para quem a TSU não tem reflexos na competitividade ou na exportação. Este Governo continua a ter que provar se é justo em material fiscal - e o argumento das medidas da troika não vai durar sempre, nem para todas as situações.
RTP
Ao contrário de Arons de Carvalho, eu acho que a discussão do Serviço Público de comunicação, em Portugal, passa inevitavelmente por discutir alguns conteúdos, o mesmo é dizer programação. Não o fazer é permitir que continuem a existir situações que vivem no limbo das indefinições. Por exemplo, no caso do serviço público de televisão, devem existir orientações claras sobre o peso do desporto, e em particular do futebol profissional - faz sentido que um canal público vá competir no mercado com os privados nos direitos de transmissão do futebol, inflacionando o seu preço? Ou fará mais sentido apostar em algumas modalidades que precisam de cobertura televisiva para serem viáveis? E, no caso da programação infanto-juvenil, não fará sentido apontar que este segmento de conteúdos seja seguido com particular atenção pelo serviço público, assumindo sem complexos um papel de referência? E, de uma forma ainda mais geral, não fará sentido que seja estabelecido que o Serviço Público deve primordialmente investir na programação de "stock" (por exemplo, documentários, ficção, registos de concertos de artistas portugueses), em vez de programação de fluxo (por exemplo concursos, "reality shows", etc.)? O relatório do grupo de trabalho que em 2002 abordou esta questão, apenas no âmbito da televisão, continua correcto na definição dos princípios gerais do serviço público, mas, para além de estar desactualizado em termos da realidade da distribuição de canais e da evolução tecnológica da última década, falta-lhe precisamente dar linhas orientadoras claras que consubstanciem na prática, em algumas questões essenciais, o que deve ser o Serviço Público - tendo em conta que uma das competências do Serviço Público, nomeadamente audiovisual, é funcionar como regulador e dinamizador do mercado em relação à produção independente, única garantia de que o português continue a ser uma língua viva no novo universo digital. Um dos problemas daquilo a que se chama hoje em dia Serviço Público reside na existência de largos segmentos de programação que não fazem lá sentido algum. E só discutindo as grandes linhas do que deve caber num serviço financiado pelo Estado é que se pode chegar a uma conclusão.
Ouvir
Fui à procura deste disco depois de começar a ler o livro de que falo noutro ponto desta coluna. O título do livro é baseado num tema de Thelonius Monk, mais precisamente na interpretação registada num disco gravado ao vivo no Five Spot Café, de Nova Iorque, em Agosto de 1958. Thelonius Monk, no piano, era acompanhado por Johnny Griffin, no sax tenor, Ahmed Abdul malik, no baixo, e Roy Haynes. O tema em causa, "Misterioso", dá título ao CD, agora reeditado pela Universal na sua série Original Jazz Classics Remastered. Como o nome sugere, o tema é envolvente, enigmático... e misterioso. Engraçado como esta gravação ao vivo parece particularmente actual, mesmo 53 anos depois da sua gravação. Ao todo são oito temas, entre os quais "Round Midnight", "Let's Cool One" e "Just a Gigolo".
Ler
O título do livro nasce da Banda Sonora dos misteriosos crimes. E, claro, o livro chama-se "Misterioso", o nome do tema de Thelonius Monk que o assassino põe a tocar enquanto executa as suas vítimas. E porquê estas vítimas e não outras? As vítimas são todas influentes homens de negócio suecos, que partilharam conselhos de administração, ocasionais jogos de golfe e até uma sociedade secreta. Arne Dahl, aliás Jan Arnald, editor e crítico literário, escreve um policial com uma teia de ligações complexa, uma definição de personagens fantástica e, sobretudo, uma história fabulosa passada em Estocolmo, nos anos 90 - é difícil escapar à tentação de ler o livro de um só fôlego, à procura das pistas que levam à descoberta do autor dos crimes e às razões que o levaram a isto. A pista, claro, está na música.
Provar
Aqui há uns anos abriu um restaurante de sushi em Cascais que rapidamente criou fama. Há uns meses, o Confraria de Cascais abriu uma delegação em Lisboa, no edifício do LX Boutique Hotel ao fundo da Rua do Alecrim, quase a chegar ao Cais do Sodré. A carta é dominada por um estilo de sushi popularizado no Brasil, o sushi criativo, de fusão. A partir da base japonesa (arroz, alga nori, peixes, mariscos, certos legumes, wasabi, gengibre e molho de soja) acrescentam-se outros elementos e temperos, desde frutas, como manga, a maionese, molho picante ou cream cheese. Para além de sushi, saladas e gyosas (particularmente boas), servem-se especialidades como carpaccio de peixe com molho sete ervas e atum panado com molho shoyo. Na hora do lanche servem-se scones e chá. As empregadas conhecem bem a carta e procuram dar sugestões úteis aos menos entendidos em sushi. A sala é bonita e o ambiente é descontraído. O preço é médio-alto. Rua do Alecrim 12 A, Telefone 213426292
Arco da velha
Um empreiteiro de Beja, a quem a câmara local devia 22 mil euros de uma obra de pavimentação, decidiu retirar toda a calçada que já estava feita e deixou o passeio esventrado.
Semanada
40% do pessoal das embaixadas vem de fora da carreira diplomática, por nomeação política. Melhor seria dizer: por nomeação partidária; empresas de construção entram em falência ao ritmo de três por dia; o Governo proibiu a caça ao melro; um homem fez explodir o seu próprio carro quando foi informado de que o veículo iria ser penhorado à ordem do tribunal; e na mesa atrás de mim, no restaurante, a conversa era assim: está tudo muito complicado, isto não está nada fácil, anda tudo a ficar falido.
Ver
Se andam de férias pelo Norte, sobretudo na área do Minho, esta sugestão é-vos destinada. Na antiga estação ferroviária de Mora, no Alto Alentejo, está a nascer um projecto dedicado à fotografia, a Estação Imagem - e enquanto as obras não terminam, a Associação que está por detrás do projecto atribui anualmente um prémio de fotojornalismo. Na edição de 2010, o vencedor foi o fotógrafo Paulo Pimenta, por uma reportagem sobre a desactivada linha ferroviária do Tua, publicado no jornal "Público". Outros sete trabalhos foram igualmente premiados, noutras tantas categorias. A exposição daqui resultante é cabeça-de-cartaz no Proxecta 2011 - 4.º Festival de Fotografia, que decorre de 18 a 20 de Agosto em Vilagarcia de Arosa. A inauguração da exposição, na sexta-feira, dia 18, pelas 20h00 locais, marca a abertura do festival, que inclui outras exposições, conferências e projecções nocturnas de fotografia ao ar livre nas principais ruas do centro da conhecida cidade da Rias Baixas galegas. O festival Proxecta 2011 integra as comemorações do Dia Mundial da Fotografia, que se assinala a 18 de Agosto, ficando a exposição do Prémio Estação Imagem | Mora instalada na Sala Municipal de Exposições Antón Rivas Briones, Rua Alcalde Rey Daviña, 14, aberta todos os dias, das 9h00 às 14h00 e das 16h00 às 20h00, até 28 de Setembro.
Mesmo em tempos de crise, convém voltar a recordar que os impostos que todos pagamos se destinam a garantir algumas coisas básicas em troca - saúde, educação, segurança, infra-estruturas, redes de saneamento e algumas outras coisas mais. Nos últimos anos, e porque o Estado é mal governado - desde o topo, do Governo, até às autarquias - acumularam-se dívidas. Para pagar essas dívidas surgem sempre mais impostos. Um Governo tem também que ser julgado pelo equilíbrio que consegue criar na distribuição da carga fiscal. A questão da redução da TSU vai trazer um acréscimo de IVA, já se percebeu, e o IVA é dos impostos mais injustos que existem, mas é uma arma de fácil recurso para extorquir dinheiro aos contribuintes. Eu espero que a redução da TSU seja feita por forma a beneficiar a competitividade da indústria e de alguns serviços, mas também por forma a não ser uma forma de aumentar lucros à banca ou outros serviços para quem a TSU não tem reflexos na competitividade ou na exportação. Este Governo continua a ter que provar se é justo em material fiscal - e o argumento das medidas da troika não vai durar sempre, nem para todas as situações.
RTP
Ao contrário de Arons de Carvalho, eu acho que a discussão do Serviço Público de comunicação, em Portugal, passa inevitavelmente por discutir alguns conteúdos, o mesmo é dizer programação. Não o fazer é permitir que continuem a existir situações que vivem no limbo das indefinições. Por exemplo, no caso do serviço público de televisão, devem existir orientações claras sobre o peso do desporto, e em particular do futebol profissional - faz sentido que um canal público vá competir no mercado com os privados nos direitos de transmissão do futebol, inflacionando o seu preço? Ou fará mais sentido apostar em algumas modalidades que precisam de cobertura televisiva para serem viáveis? E, no caso da programação infanto-juvenil, não fará sentido apontar que este segmento de conteúdos seja seguido com particular atenção pelo serviço público, assumindo sem complexos um papel de referência? E, de uma forma ainda mais geral, não fará sentido que seja estabelecido que o Serviço Público deve primordialmente investir na programação de "stock" (por exemplo, documentários, ficção, registos de concertos de artistas portugueses), em vez de programação de fluxo (por exemplo concursos, "reality shows", etc.)? O relatório do grupo de trabalho que em 2002 abordou esta questão, apenas no âmbito da televisão, continua correcto na definição dos princípios gerais do serviço público, mas, para além de estar desactualizado em termos da realidade da distribuição de canais e da evolução tecnológica da última década, falta-lhe precisamente dar linhas orientadoras claras que consubstanciem na prática, em algumas questões essenciais, o que deve ser o Serviço Público - tendo em conta que uma das competências do Serviço Público, nomeadamente audiovisual, é funcionar como regulador e dinamizador do mercado em relação à produção independente, única garantia de que o português continue a ser uma língua viva no novo universo digital. Um dos problemas daquilo a que se chama hoje em dia Serviço Público reside na existência de largos segmentos de programação que não fazem lá sentido algum. E só discutindo as grandes linhas do que deve caber num serviço financiado pelo Estado é que se pode chegar a uma conclusão.
Ouvir
Fui à procura deste disco depois de começar a ler o livro de que falo noutro ponto desta coluna. O título do livro é baseado num tema de Thelonius Monk, mais precisamente na interpretação registada num disco gravado ao vivo no Five Spot Café, de Nova Iorque, em Agosto de 1958. Thelonius Monk, no piano, era acompanhado por Johnny Griffin, no sax tenor, Ahmed Abdul malik, no baixo, e Roy Haynes. O tema em causa, "Misterioso", dá título ao CD, agora reeditado pela Universal na sua série Original Jazz Classics Remastered. Como o nome sugere, o tema é envolvente, enigmático... e misterioso. Engraçado como esta gravação ao vivo parece particularmente actual, mesmo 53 anos depois da sua gravação. Ao todo são oito temas, entre os quais "Round Midnight", "Let's Cool One" e "Just a Gigolo".
Ler
O título do livro nasce da Banda Sonora dos misteriosos crimes. E, claro, o livro chama-se "Misterioso", o nome do tema de Thelonius Monk que o assassino põe a tocar enquanto executa as suas vítimas. E porquê estas vítimas e não outras? As vítimas são todas influentes homens de negócio suecos, que partilharam conselhos de administração, ocasionais jogos de golfe e até uma sociedade secreta. Arne Dahl, aliás Jan Arnald, editor e crítico literário, escreve um policial com uma teia de ligações complexa, uma definição de personagens fantástica e, sobretudo, uma história fabulosa passada em Estocolmo, nos anos 90 - é difícil escapar à tentação de ler o livro de um só fôlego, à procura das pistas que levam à descoberta do autor dos crimes e às razões que o levaram a isto. A pista, claro, está na música.
Provar
Aqui há uns anos abriu um restaurante de sushi em Cascais que rapidamente criou fama. Há uns meses, o Confraria de Cascais abriu uma delegação em Lisboa, no edifício do LX Boutique Hotel ao fundo da Rua do Alecrim, quase a chegar ao Cais do Sodré. A carta é dominada por um estilo de sushi popularizado no Brasil, o sushi criativo, de fusão. A partir da base japonesa (arroz, alga nori, peixes, mariscos, certos legumes, wasabi, gengibre e molho de soja) acrescentam-se outros elementos e temperos, desde frutas, como manga, a maionese, molho picante ou cream cheese. Para além de sushi, saladas e gyosas (particularmente boas), servem-se especialidades como carpaccio de peixe com molho sete ervas e atum panado com molho shoyo. Na hora do lanche servem-se scones e chá. As empregadas conhecem bem a carta e procuram dar sugestões úteis aos menos entendidos em sushi. A sala é bonita e o ambiente é descontraído. O preço é médio-alto. Rua do Alecrim 12 A, Telefone 213426292
Arco da velha
Um empreiteiro de Beja, a quem a câmara local devia 22 mil euros de uma obra de pavimentação, decidiu retirar toda a calçada que já estava feita e deixou o passeio esventrado.
Semanada
40% do pessoal das embaixadas vem de fora da carreira diplomática, por nomeação política. Melhor seria dizer: por nomeação partidária; empresas de construção entram em falência ao ritmo de três por dia; o Governo proibiu a caça ao melro; um homem fez explodir o seu próprio carro quando foi informado de que o veículo iria ser penhorado à ordem do tribunal; e na mesa atrás de mim, no restaurante, a conversa era assim: está tudo muito complicado, isto não está nada fácil, anda tudo a ficar falido.
Ver
Se andam de férias pelo Norte, sobretudo na área do Minho, esta sugestão é-vos destinada. Na antiga estação ferroviária de Mora, no Alto Alentejo, está a nascer um projecto dedicado à fotografia, a Estação Imagem - e enquanto as obras não terminam, a Associação que está por detrás do projecto atribui anualmente um prémio de fotojornalismo. Na edição de 2010, o vencedor foi o fotógrafo Paulo Pimenta, por uma reportagem sobre a desactivada linha ferroviária do Tua, publicado no jornal "Público". Outros sete trabalhos foram igualmente premiados, noutras tantas categorias. A exposição daqui resultante é cabeça-de-cartaz no Proxecta 2011 - 4.º Festival de Fotografia, que decorre de 18 a 20 de Agosto em Vilagarcia de Arosa. A inauguração da exposição, na sexta-feira, dia 18, pelas 20h00 locais, marca a abertura do festival, que inclui outras exposições, conferências e projecções nocturnas de fotografia ao ar livre nas principais ruas do centro da conhecida cidade da Rias Baixas galegas. O festival Proxecta 2011 integra as comemorações do Dia Mundial da Fotografia, que se assinala a 18 de Agosto, ficando a exposição do Prémio Estação Imagem | Mora instalada na Sala Municipal de Exposições Antón Rivas Briones, Rua Alcalde Rey Daviña, 14, aberta todos os dias, das 9h00 às 14h00 e das 16h00 às 20h00, até 28 de Setembro.
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