Opinião
A tarefa difícil de Merkel será negociar uma coligação
Não deverá ser difícil para Angela Merkel tornar-se a próxima chanceler da Alemanha, pela quarta vez consecutiva. Devido principalmente à boa situação económica, a maior parte do eleitorado considera que não se justifica uma mudança de liderança política, antes a sua confirmação. Difíceis serão as negociações para constituir um governo de coligação.
Apesar de as últimas sondagens indicarem uma queda de 1 ponto da CDU/CSU, Merkel deverá poder escolher entre três cenários possíveis de coligações, em jogo durante as próximas semanas. Primeiro, uma grande coligação com o partido SPD, de Martin Schulz, à semelhança do que aconteceu em 2005 e em 2013, quando CDU/CSU e SPD formaram coligação. Segundo, uma coligação entre CDU/CSU e o FDP, os liberais de Christian Lindner. Terceiro, uma coligação entre CDU/CSU, FDP e os Verdes.
Cada um destes cenários revela-se difícil. O de uma nova "grande coligação" é plausível, mas não satisfará o SPD que se encontrará novamente numa posição de ‘parceiro júnior’ da CDU, o que contribui para a diminuição da atractividade do partido junto do seu eleitorado tradicional, e não ajuda Schulz a consolidar a sua posição como novo líder do partido. Como se viu depois do único debate entre Merkel e Schulz no início do mês, os analistas foram unânimes em considerar que se tratou mais de um dueto entre dois lideres partidários do que um duelo. Com uma previsão de apenas 22%, o SPD não terá grande margem de manobra para negociar, já que a hipótese teórica de um governo liderado por Martin Schulz seria uma coligação entre o SPD, os Verdes e o partido de esquerda Die Linke, o que é pouco viável dadas as divergências ideológicas, principalmente entre o SPD e o Die Linke.
O segundo cenário é plausível tendo em conta a previsão de 9% dos votos e o regresso do FDP ao Bundestag. Também aqui as negociações seriam duras, perspectivando-se a insistência de Lindner em garantir a pasta das Finanças em vez dos Negócios Estrangeiros, geralmente atribuídos ao parceiro júnior.
Por último, uma coligação CDU/CSU-FDP-Verdes (o que seria inédito) adivinha-se complexa, pelas divergências programáticas principalmente entre os dois pequenos partidos no que toca à política económica, à questão dos refugiados e à política de integração europeia. Já que Merkel exclui coligações com o Die Linke e a Alternativa para a Alemanha (AfD, provável estreia no Bundestag) quais são as implicações possíveis das eleições alemãs para os europeus?
A política europeia será um dos pontos prioritários do próximo governo alemão. Juntamente com o presidente francês Emanuelle Macron, Merkel irá redinamizar o motor franco-alemão da União Europeia para aprofundar a integração económica e política e prosseguir com a reforma da Zona Euro. Tanto Merkel como Schulz concordam com as propostas de Macron para a constituição de um ministro das finanças europeu e um orçamento comum para o euro, e há abertura quanto à ideia de um parlamento para este bloco. Caso se venha a constituir pela terceira vez uma "grande coligação", o aprofundamento da integração europeia e a reforma da Zona Euro parece relativamente certo, com uma maior insistência por parte do SPD numa política menos austera face aos países da Europa do Sul. No domínio da Política Comum de Segurança e Defesa (PCSD), o duo Mercron (Merkel e Macron) poderá acentuar o aprofundamento da cooperação, tornada mais fácil após a saída do Reino Unido da UE.
No que se refere à forma como a Europa responde à questão do contínuo fluxo migratório do Médio Oriente e África do Norte, o próximo governo terá de exercer maior pressão para a aplicação de padrões de asilo unânimes para toda a UE, incluindo a Hungria e a Polónia que continuam a recusar uma distribuição equitativa dos refugiados.
Na política externa, Berlim deverá manter as linhas gerais da sua política externa que se tem tornado mais interveniente à medida que as expectativas de liderança recaem cada vez mais sobre a Alemanha, num sistema internacional desordenado, e onde a instabilidade e as incertezas vêm de países que integram o espaço euro-atlântico.
O resultado das eleições alemãs deste domingo será sempre fundamental para o futuro dos europeus. Esperemos que a coligação governativa não demore muito a constituir-se, porque a estabilidade política na Alemanha é o pressuposto da estabilidade política na Europa, num contexto de crescente desordem internacional.
Cada um destes cenários revela-se difícil. O de uma nova "grande coligação" é plausível, mas não satisfará o SPD que se encontrará novamente numa posição de ‘parceiro júnior’ da CDU, o que contribui para a diminuição da atractividade do partido junto do seu eleitorado tradicional, e não ajuda Schulz a consolidar a sua posição como novo líder do partido. Como se viu depois do único debate entre Merkel e Schulz no início do mês, os analistas foram unânimes em considerar que se tratou mais de um dueto entre dois lideres partidários do que um duelo. Com uma previsão de apenas 22%, o SPD não terá grande margem de manobra para negociar, já que a hipótese teórica de um governo liderado por Martin Schulz seria uma coligação entre o SPD, os Verdes e o partido de esquerda Die Linke, o que é pouco viável dadas as divergências ideológicas, principalmente entre o SPD e o Die Linke.
Por último, uma coligação CDU/CSU-FDP-Verdes (o que seria inédito) adivinha-se complexa, pelas divergências programáticas principalmente entre os dois pequenos partidos no que toca à política económica, à questão dos refugiados e à política de integração europeia. Já que Merkel exclui coligações com o Die Linke e a Alternativa para a Alemanha (AfD, provável estreia no Bundestag) quais são as implicações possíveis das eleições alemãs para os europeus?
A política europeia será um dos pontos prioritários do próximo governo alemão. Juntamente com o presidente francês Emanuelle Macron, Merkel irá redinamizar o motor franco-alemão da União Europeia para aprofundar a integração económica e política e prosseguir com a reforma da Zona Euro. Tanto Merkel como Schulz concordam com as propostas de Macron para a constituição de um ministro das finanças europeu e um orçamento comum para o euro, e há abertura quanto à ideia de um parlamento para este bloco. Caso se venha a constituir pela terceira vez uma "grande coligação", o aprofundamento da integração europeia e a reforma da Zona Euro parece relativamente certo, com uma maior insistência por parte do SPD numa política menos austera face aos países da Europa do Sul. No domínio da Política Comum de Segurança e Defesa (PCSD), o duo Mercron (Merkel e Macron) poderá acentuar o aprofundamento da cooperação, tornada mais fácil após a saída do Reino Unido da UE.
No que se refere à forma como a Europa responde à questão do contínuo fluxo migratório do Médio Oriente e África do Norte, o próximo governo terá de exercer maior pressão para a aplicação de padrões de asilo unânimes para toda a UE, incluindo a Hungria e a Polónia que continuam a recusar uma distribuição equitativa dos refugiados.
Na política externa, Berlim deverá manter as linhas gerais da sua política externa que se tem tornado mais interveniente à medida que as expectativas de liderança recaem cada vez mais sobre a Alemanha, num sistema internacional desordenado, e onde a instabilidade e as incertezas vêm de países que integram o espaço euro-atlântico.
O resultado das eleições alemãs deste domingo será sempre fundamental para o futuro dos europeus. Esperemos que a coligação governativa não demore muito a constituir-se, porque a estabilidade política na Alemanha é o pressuposto da estabilidade política na Europa, num contexto de crescente desordem internacional.