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Contributos para o aumento da produtividade em Portugal

Abordar a lacuna de produtividade em Portugal requer uma abordagem integrada e colaborativa. Só assim será possível aumentar de forma consistente e sustentável os salários médios, conseguindo-se, dessa forma, inverter o caminho de saída de talento português para o exterior.

No momento em que os partidos políticos apresentam os seus programas eleitorais para as eleições antecipadas de 10 de março, importa trazer um tema já antigo para discussão: a relativa baixa produtividade em Portugal.

A produtividade per capita em Portugal está abaixo da média da UE27. Segundo o Eurostat, no nosso país a produtividade por hora de trabalho, em 2022, situa-se em 22 euros, o que compara com 46 euros para a média da UE27, 40 euros em Espanha ou 63 euros na Alemanha. A produtividade nominal por trabalhador empregado em Portugal foi de 76,7% face à média dos países da UE27 em 2022 (76,8% em 2012). Ou seja, a produtividade média por trabalhador é 23,4% inferior em território nacional, o que coloca Portugal no fundo da lista do “ranking” europeu de produtividade. Com pior classificação estão apenas 4 países: Polónia, Letónia, Grécia e Bulgária. A liderar estão países como a Irlanda (124,8% acima da média) e o Luxemburgo (59,2% acima da média).

Neste contexto, torna-se fundamental promover o aumento dos níveis de produtividade, pois só assim se garante o desenvolvimento económico e social, o aumento da competitividade global, a melhoria da qualidade de vida e a sustentabilidade financeira. Sem isto, as propostas de aumento do salário mínimo para os 1.000 euros até 2028 (já agora, sem esquecer o aumento do salário médio) levarão, necessariamente, a desequilíbrios financeiros a médio e longo prazos.

O aumento da produtividade em Portugal exige a adoção de uma abordagem abrangente, envolvendo medidas em várias áreas. Primeiro, é necessário estimular a inovação através do aumento do investimento em investigação e desenvolvimento (I&D). Importa incentivar parcerias entre empresas e universidades (e respetivos centros de investigação), com o objetivo final de impulsionar a transferência de conhecimento e tecnologia. Apesar do aumento verificado na última década e do valor recorde de investimento em I&D em 2022 (na ordem dos 4,1 milhões de euros), segundo o Instituto Nacional de Estatística, Portugal investe 70% menos em I&D do que a média da UE27. A atestar isto mesmo está o 19.º lugar ocupado por Portugal no European Innovation Scoreboard de 2023. Segundo, é essencial incentivar a formação contínua, com investimento em Educação e Formação Profissional. Num contexto de muito rápida evolução da tecnologia, é necessário estimular programas de formação contínua para os trabalhadores, permitindo que estes atualizem as suas competências ao longo da vida e mais facilmente possam reorientar o seu percurso profissional. Terceiro, é fundamental modernizar a infraestrutura tecnológica para garantir às empresas o acesso a novas tecnologias e tecnologias de ponta. Isso inclui melhorar a conectividade, promover a adoção de tecnologias digitais e facilitar a incorporação de inteligência artificial. Quarto, há que introduzir reformas no mercado de trabalho para aumentar a flexibilidade. Tal pode incluir medidas que promovam contratos menos rígidos, e a adaptação a novas formas de trabalho, com especial atenção ao equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal. Quinto, é crucial implementar políticas que melhorem a competitividade das empresas portuguesas, incluindo a simplificação de processos burocráticos, a redução da carga fiscal sobre as empresas e a promoção da sua internacionalização. Sexto, há que incentivar boas práticas de gestão que valorizem a eficiência, a inovação e o desenvolvimento dos colaboradores. Também aqui o conhecimento e uso alargado de ferramentas de inteligência artificial pode ter um papel acelerador. Por último, é preciso ter em conta as características do tecido organizacional, apoiando quer as pequenas e médias empresas no acesso a financiamento para inovação e expansão, incentivando a modernização, a cooperação e a adoção de práticas mais produtivas, quer as organizações do setor social, no acesso a formação para a capacitação dos seus profissionais.

A implementação eficaz dessas medidas requer um compromisso conjunto do governo, empresas e sociedade. A promoção de um ambiente favorável ao desenvolvimento económico sustentável e à inovação é, assim, fundamental para impulsionar a produtividade no nosso país. Em conclusão, abordar a lacuna de produtividade em Portugal requer uma abordagem integrada e colaborativa. Só assim será possível aumentar de forma consistente e sustentável os salários médios, conseguindo-se, dessa forma, inverter o caminho de saída de talento português para o exterior.

 

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