Opinião
Como Portugal lidera nas Escolas de Negócios
A economia do futuro ganha-se através do talento e as melhores escolas atraem o melhor talento. São milhares de jovens de todo o mundo que passam entre 1 e 3 anos em Portugal a estudar, aprendem a língua e cultura, criam pontes, fundam empresas, e muitos decidiram aqui permanecer ou voltar no futuro.
Portugal tem várias Escolas de Negócios líderes que cada vez mais reforçam as suas posições nos rankings internacionais. No ranking do Financial Times das melhores Escolas Europeias divulgado este mês, pela primeira vez duas escolas portuguesas afirmam-se já muito próximo do top 20, a Nova SBE em 21.º e a Católica-Lisbon em 22.º.
E se olharmos para o top 60, Portugal conta com mais três escolas – Iscte (44.º), Porto Business School (53.º), e ISEG (59.º), sendo mesmo o terceiro país com mais escolas no top 60, depois de França e do Reino Unido e à frente de grandes economias como a Alemanha e a Itália. Mais impressionante, todas as escolas portuguesas subiram consideravelmente no ranking deste ano, um feito assinalável. No caso da Católica-Lisbon a subida foi de cinco posições, tendo escalado dez posições nos últimos 4 anos.
Este ranking agora publicado é particularmente importante pois é um ranking agregado que mede a força das escolas em 3 tipos de programas diferentes: formação executiva, programas de MBA e mestrados em Gestão, sendo que as escolas precisam de ter programas de excelência mundial em várias destas áreas para ambicionar ascender às posições de topo. Por exemplo, a Católica-Lisbon tem o 28.º melhor programa de mestrado em Gestão do mundo, o qual recebe todos os anos várias centenas de alunos internacionais. E tem a 24.ª melhor formação executiva do mundo tendo mesmo ascendido ao top 15 da Europa na formação para clientes empresariais. Já o The Lisbon MBA, é o 24.º melhor MBA da Europa em “full-time” e 36.ª melhor da Europa para executivos.
Como conseguiram as escolas portuguesas este feito e qual a importância para a nossa economia? A história deste percurso traz ensinamentos importantes sobre como as empresas portuguesas se podem afirmar como líderes no mercado internacional.
No caso da Católica-Lisbon, a aposta começou há mais de 15 anos com a submissão da escola a exigentes padrões de certificação internacional, com um forte foco na qualidade de ensino e investigação, tendo a escola sido a primeira em Portugal a conseguir em 2007 a tripla acreditação pelas agências europeias, americanas e do Reino Unido, uma distinção que ainda hoje mantém e que menos de 1% das Escolas de Gestão a nível mundial têm.
Estas acreditações trouxeram uma forte melhoria dos processos internos e uma reputação acrescida que permitiu apostar no talento internacional, recrutando os melhores professores de todo o mundo. Hoje, 40% dos professores da escola são internacionais e vários deles, que já cá estão há mais de 15 anos, hoje desempenham cargos importantes na direção da escola. É importante dizer que neste processo, o estatuto de residente não habitual foi importante para atrair e reter jovens professores talentosos de todo o mundo para Lisboa.
O terceiro fator de competitividade, depois das acreditações e na aposta no melhor talento, é o desenvolvimento de parcerias. Não só a Católica-Lisbon desenvolveu mais de uma centena de parcerias internacionais para intercâmbio de alunos e oferta de graus conjuntos, mas também decidiu unir forças com outras escolas portuguesas, tendo feito uma parceria com a Nova SBE para fundir os seus programas de MBA e criar, em conjunto com o MIT, um programa de nível mundial em Lisboa, o The Lisbon MBA. O mercado dos MBA é um mercado maduro, dominado pelas escolas americanas e era fundamental unir forças para ter um MBA competitivo a nível mundial que hoje ombreia com os melhores do mundo.
A partir daqui foi o acelerar do processo de internacionalização, oferecendo a alunos internacionais uma experiência de ensino e de vida de grande qualidade. Isto envolveu presença física em feiras internacionais e, mais recentemente, publicidade digital para recrutar os melhores alunos. Mas o passa-palavra é essencial. Os primeiros clientes satisfeitos passaram a palavra a outros e o número de alunos estrangeiros foi duplicando todos os anos, tendo superado os 500 em 2023. Ao longo deste caminho foi necessário desenvolver inovações no processo de ensino e de promoção de empregabilidade, com um grande foco na área de Carreiras pois os rankings medem a progressão dos graduados dos programas no mercado de trabalho. Mais recentemente, deu-se um salto importante na oferta da escola nos temas de sustentabilidade e impacto.
Neste processo, a Católica-Lisbon, seguida por outras escolas portuguesas, juntou-se a uma elite de escolas europeias e mundiais as quais, num ambiente muito competitivo, lutam para atrair os melhores professores e alunos. A importância de Portugal se posicionar tão bem neste domínio é enorme. A economia do futuro ganha-se através do talento e as melhores escolas atraem o melhor talento. São milhares de jovens de todo o mundo que passam entre 1 e 3 anos em Portugal a estudar, aprendem a língua e cultura, criam pontes, fundam empresas, e muitos decidiram aqui permanecer ou voltar no futuro. É a exportação de um serviço para um mercado internacional grande e profundo no qual os clientes mudam para Portugal para usufruir dos serviços, o que traz externalidades positivas enormes para a economia e sociedade. Um mercado que pode crescer muito mais desde que haja ambição e investimento. Por exemplo, neste momento a Católica-Lisbon está a construir um novo edifício que mais do que duplica a sua capacidade de receber e formar alunos de todo o mundo.
Em resumo, o manual de sucesso tem princípios simples, mas basilares e replicáveis noutras áreas: pautar-se pelos mais exigentes standards internacionais, atrair o melhor talento, trabalhar em parcerias, apostar nos mercados internacionais, crescer a par e passo pela referência dos clientes e, por fim, investir com ambição para assumir a liderança do mercado.
A liderança internacional que Portugal já conseguiu na esfera do ensino superior em gestão e economia, pode também conseguir noutras áreas do conhecimento. Por exemplo, a Universidade Católica Portuguesa tem também áreas de excelência com forte internacionalização em Ciências das Comunicação, Estudos de Cultura, Ciências Políticas, Direito e Medicina Dentária, entre outras. E várias das universidades estatais vêm também a iniciar o seu processo de internacionalização. Em particular, as Escolas das áreas da Ciência, Tecnologia e Engenharias são também de reconhecida qualidade e reconhecimento a nível Europeu. Com a atratividade de Portugal e a qualidade das suas universidades, o ensino superior pode e deve ser um setor de diferenciação e crescimento para Portugal.