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Ai Portugal... E agora, que deve fazer cada um dos partidos?

Ironia do destino, a inteligente gestão do ciclo eleitoral feita por António Costa (excedentes no início da legislatura para ter folga para brilhar perto das eleições) vai agora permitir a outro primeiro-ministro a possibilidade de governar em condições financeiras favoráveis.

Na semana passada, Portugal sofreu um terramoto político com a demissão do primeiro-ministro e a queda anunciada de um governo de maioria absoluta que era esperado durar até 2026. Este terramoto político apanhou todos os partidos de surpresa, com a invulgar situação da maioria dos líderes partidários serem recentes no seu cargo, pois os antecessores pensaram que haveria quatro anos de legislatura e saíram de palco. Afinal, os partidos têm agora apenas quatro meses para se apresentarem a votos no dia 10 de março, com líderes pouco conhecidos e programas ainda pouco detalhados.

Outra situação invulgar são os saldos positivos das contas públicas, com excedentes em 2022 e 2023, algo inédito em democracia e que permitiu uma significativa redução do peso da dívida no PIB. Isto quer dizer que, apesar de uma conjuntura externa cada vez mais desfavorável, quem ficar a governar Portugal em 2023 terá meios para implementar a sua agenda política. Ironia do destino, a inteligente gestão do ciclo eleitoral feita por António Costa (excedentes no início da legislatura para ter folga para brilhar perto das eleições) vai agora permitir a outro primeiro-ministro a possibilidade de governar em condições financeiras favoráveis.

Isto leva-nos à pergunta – o que deve fazer cada partido para aumentar a sua votação e maximizar as hipóteses de fazer parte de um futuro governo ou influenciar significativamente a governação?

Comecemos pelo Partido Comunista que está acantonado numa visão do mundo e ideologia antiquada e rígida, tendo perdido a hipótese de liderar a bandeira Ecológica ao não capitalizar a sua associação histórica aos Partido Ecologista “Os Verdes” (com quem forma a CDU) e mantendo recentemente posições indefensáveis em relação à invasão russa da Ucrânia. Tem um eleitorado fiel, mas a reduzir-se e dificilmente a CDU ultrapassará a votação de 4.3% das últimas eleições sem encontrar bandeiras mais modernas e mobilizadoras, tais como um foco prioritário na habitação social e na melhoria dos serviços públicos. Além disso, precisa de modernizar a sua linguagem e visão do Mundo, o que requer mais pluralismo interno.

O Bloco de Esquerda é o partido com mais perspetivas de capitalizar a previsível descida do PS e inverter a hecatombe que sofreu nas últimas eleições em que desceu de 19 para 5 deputados. Tem como vantagens um forte envolvimento dos jovens e uma ideologia que, sendo radical e anticapitalista, é mais moderna na linguagem e postura que a do PC, sendo rápido a reagir aos temas fraturantes que surgem na economia e sociedade. Deve procurar articular de forma mais clara a alternativa que propõe para Portugal nas várias áreas da governação e argumentar que são alternativas e/ou complementos viáveis ao Socialismo, para tentar capturar o voto desiludido dos socialistas.

O Livre é o partido ao centro da esquerda que também tem possibilidade de capitalizar a previsível queda do PS, pois é um partido que apela a valores positivos e universais, mas não põe em causa o sistema atual centrado no Europeísmo e liberdade económica. Teria vantagem em demonstrar o seu idealismo pragmático e credenciais de integridade para agarrar eleitores tradicionais do PS que estão desiludidos, mas que não se querem refugiar em partidos da esquerda radical.

O PAN pode ser um dos partidos com maior probabilidade de fazer parte de um futuro governo, posicionando-se como um partido de causas, complementar com as opções governativas tanto da Esquerda, seu espaço natural, como da Direita. Deve manter o seu foco identitário na causa dos Animais, mas também assumir-se como o partido português ecologista líder e juntando-se formalmente à família Europeia dos Verdes. Nesse contexto, deve procurar uma defesa do ambiente (natureza incluindo mar) intransigente, mas equilibrada, distanciando-se do ativismo ecológico radical e defendendo políticas pró-ambiente de forma a mobilizar a juventude para quem este é um tema chave para o futuro.

O CDS joga nestas eleições a sua sobrevivência depois do desaire das eleições de 2022. Tem sido afetado pela fragmentação da direita em que a sua corrente popular foi apanhada pelo Chega, a sua corrente Liberal foi apanhada pela IL e o PSD beneficiou do voto útil. Neste cenário tem de cativar um segmento natural de eleitorado que poderá ser o eleitorado católico que atualmente se vê pouco representado politicamente. Com um programa que aprofunde os valores católicos e desenhe um liberalismo de cariz social que vá beber à doutrina social da Igreja, com uma aposta muito forte em políticas de apoio à família, poderá conquistar um eleitorado relevante. E tem interesse em coligar-se com o PSD para evitar perder eleitores para o voto útil, garantindo ao mesmo tempo uma representação parlamentar.

Mas os olhos dos eleitores estão postos na estratégia do partido líder da Direita que é o PSD. O PSD poderá novamente ganhar as eleições como em 2019, mas não conseguir formar governo, caso a esquerda tenha mais votos que a Direita sem o Chega, ou tentar governar ficando refém do Chega. Neste momento, o líder do PSD tem hipótese de fazer uma jogada magistral – convidar Pedro Passos Coelho para candidato a PM numa coligação de Direita Democrática que potencialmente inclua o CDS e a IL, o que provavelmente garantiria o estatuto de partido mais votado dada a mobilização em toda a Direita Portuguesa. Não o fazendo, estará a medir forças com o PS para partido mais votado e a fragmentar o espetro político, permitindo o crescimento do Chega e dificultando as opções de governação futura.

A Iniciativa Liberal terá vantagem em concorrer com listas próprias pois a expressão parlamentar que pode ter e a abertura para participar numa coligação pós-eleitoral reduzem o fenómeno de voto útil no PSD. Além disso, não deve deixar todo o voto descontente de Direita para o Chega, o que poderia acontecer num cenário de coligação pré-eleitoral. Deve assumir-se como uma alternativa ao modelo atual de Estado Social sem usar a bandeira de descida radical dos impostos, que todos os partidos vão utilizar em graus diferentes. Deve sim focar-se em medidas de organização da economia que promovam a iniciativa privada e dos cidadãos nos diferentes domínios, enquanto demonstra um rosto mais social na preocupação com as pessoas. Deve evitar temas fraturantes ligados a valores como o aborto em que perde eleitorado natural.

Por fim o Chega, que não é um partido democrático, mas sim a expressão da figura e autoridade do seu líder. O Chega é quem tem mais a ganhar com estas eleições e tem uma escolha – ou faz mais do mesmo mantendo-se como partido do protesto e catavento dos temas do descontentamento (fórmula que até agora tem funcionado), ou começa a criar uma equipa competente, estrutura de governação mais plural e programa político com medidas concretas, que o tornem aceitável para ser parte de uma solução para Portugal.

Quanto ao PS, é o único partido que precisa de escolher um novo líder. Dos candidatos já assumidos poderá optar por um candidato da ala esquerda que impeça um crescimento da esquerda radical ou por um candidato da ala direita que ajude a garantir que eleitores mais centristas não abandonem o PS. Terá de reafirmar a bandeira das contas certas, o seu grande sucesso de governação, e explicar a sua importância para o futuro do país. E deverá ser credível a expurgar as situações de corrupção e tráfico de influências e a propor soluções para os problemas recentes da sociedade portuguesa que deixou acentuar.

No fim, espera-se que se cumpra a democracia e que possa emergir do voto popular de 10 de março uma solução governativa estável que traga prosperidade para Portugal e para os seus cidadãos.

 

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