Opinião
10 pistas para o futuro das bolsas
Com o PER (com projecção dos resultados para 2021) do mercado americano acima de 20, estamos a níveis altos.
Como sabem, estou pessimista em relação às bolsas no médio prazo (até 9 meses). Mas não sou insensível aos argumentos de quem está optimista. Por isso, apresento os 10 argumentos mais relevantes que ursos e touros apresentam em relação ao futuro do mercado. Lembrando-me da rubrica que Marcelo Rebelo de Sousa tinha na TSF sobre políticos em que lhes dava notas, hoje é a minha vez de dar notas aos argumentos optimistas e pessimistas. E, no final, quando somarem as notas, perceberão porque estou pessimista para o médio prazo dos mercados.
Argumentos optimistas:
1) A forte injecção de dinheiro por parte do BCE, FED e BoJ
Nota: 16 O dinheiro que se está a injectar no mercado não tem precedentes. Sobretudo a Fed tem sido tão agressiva que ajuda a sustentar os mercados. Por vezes, nem é necessário comprar. O simples facto de se saber que os activos podem ser comprados pela Fed provoca um efeito de enorme suporte dos preços, dada a expectativa que isso cria. É algo artificial? É. Mas se estamos no meio deste "jogo" temos de saber que isto faz parte das suas regras.
2) A maior parte das grandes potências mundiais já saiu do desconfinamento.
Nota: 7 É evidente que a retoma da economia é uma excelente notícia. Mas a verdade é que, nas últimas semanas, os mercados vinham a descontar isso. Da mesma forma que, quando esses países estavam confinados, foi quando o medo estava no seu auge que o fundo foi atingido, a partir daí os mercados começaram a subir até a esperança atingir o seu cume.
3) O número de pessimistas no mercado continua elevado.
Nota: 12 Os dados da AAII continuam a revelar um valor historicamente alto de "bears" – na semana passada eram 42%, contra 33% de "bulls" e 25% neutrais. Em termos de curto prazo, valores muito baixos de pessimistas propiciam subidas. Este facto é relevante e tem sido uma das razões pelas quais o mercado começou a subir quando o medo estava no seu auge. No entanto, a diferença entre "bears" e "bulls" já foi de 29% há umas semanas e agora é de apenas 9%, por isso, o impacto deste dado é cada vez menor.
4) A proximidade das eleições norte-americanas.
Nota: 14 Trump sempre atribuiu uma grande importância à bolsa. Muita da sua política foi conduzida de forma a agradar aos mercados financeiros, com um sucesso inegável. Trump sabe que se a bolsa estiver em alta na véspera das eleições, a probabilidade de uma reeleição é grande. Se a isto juntarmos o equilíbrio que as sondagens actualmente indicam, este pormenor pode fazer toda a diferença e Trump irá fazer tudo o que for possível para que isso aconteça. É um argumento importante, mas ninguém consegue controlar o mercado muito tempo, nem mesmo o Presidente dos Estados Unidos, embora acredito que vá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que o mercado continue a subir até 3 de Novembro.
5) O aparecimento da vacina está cada vez mais próximo.
Nota: 11 A ciência está do lado da Humanidade e, mais cedo ou mais tarde, uma vacina eficiente irá surgir, para bem da nossa felicidade. Mas, mesmo que surja no final deste ano (e já seria um feito incrível e seria preciso que tudo corresse na perfeição e não estaria disponível nessa altura em todo o mundo), muito do estrago económico já estará feito e, tal como referi em relação ao desconfinamento, o mercado tem estado a subir a descontar isso. Será que só termina a subida na altura desse anúncio? Duvido, mas tenho de pôr essa possibilidade.
Argumentos pessimistas:
1) Risco de uma segunda vaga que leve a um novo confinamento.
Nota: 12 Se isso acontecer, será catastrófico para a economia e para os mercados, mas considero baixa a probabilidade de isso ocorrer. É verdade que a generalidade das pandemias tem segundas vagas fortes mas acredito que os países e, sobretudo, os cidadãos estão mais preparados para enfrentar essa vaga sem necessitar de um confinamento total. De qualquer das formas, apesar de considerar muito pouco provável esse "regresso a casa", é um factor de risco para quem está no mercado.
2) Fundamentais a níveis historicamente altos.
Nota: 17 Com o PER (com projecção dos resultados para 2021) do mercado americano acima de 20, estamos a níveis altos, tendo em conta a história das bolsas. Este é um dos pontos pelas quais considero muito arriscado o mercado nesta altura. Não nos podemos esquecer de que, antes da pandemia, vivíamos um dos mais longos "bull market" da história dos mercados (infelizmente, Portugal foi uma das poucas excepções), com o mercado americano a levar mais de 10 anos de subidas. Aliás, creio que esse espírito pré-covid ainda permanece no mercado e fá-lo recuperar a esta velocidade. É verdade que o mercado pode sempre subir mais e compreendo quem aproveite o momento, desde que reconheça o risco actualmente existente.
3) Alguns dos mais conceituados e experientes gestores acreditam que o mercado está sobrevalorizado.
Nota: 15 É evidente que cada um se deve guiar pelas suas próprias opiniões. Mas quando alguns dos gestores de "hedge funds" que mais admiro como são o caso de Buffett, DruckenMiller e David Tepper estão pessimistas e os dois últimos falam no mais "sobrevalorizado" mercado da história, faz-me reforçar as minhas convicções.
4) Tensão USA/China
Nota: 7 Trump sempre soube gerir bem as notícias sobre esta tensão. Atira o tema para a agenda querendo obter ganhos políticos mas, quando sente que os mercados reagem mal a essas notícias, rapidamente anuncia que um acordo está para breve e os mercados logo recuperam. Tem sido esta a história dos últimos anos e nem o vírus alterará isso.
5) Esta crise vai levar o desemprego a valores muito elevados.
Nota: 18 O desemprego alto tem consequências muito penosas para o mercado, pelo arrefecimento do consumo e isso tem um impacto grande no mercado accionista. Mesmo as grandes empresas que estão a conseguir passar quase imunes à crise poderão sofrer no futuro caso o desemprego não baixe para os valores em que estava antes da pandemia. O mercado, actualmente, parece estar a acreditar numa recuperação em "V". Não acredito nisso e mesmo com uma óbvia recuperação económica que está a começar, não é crível que os postos de trabalho extintos sejam recuperados na totalidade, até porque algumas empresas vão aproveitar esta oportunidade para se tornarem mais eficientes. E este acredito vir a ser um dos grandes calcanhares de Aquiles dos mercados.
Artigo escrito em 29/05/20 às 12h00
Fontes: https://live.euronext.com/pt/
https://www.nyse.com/index
Ulisses Pereira não detém qualquer dos ativos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui,onde também pode ser consultada a lista com as anteriores análises de Ulisses Pereira.
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