Opinião
Não te deixarei morrer…
Acaba de ser arquivado um dos processos ligados ao BPN, e espera-se que nem todos tenham a mesma sorte.
Apesar de Marcelo garantir que os contribuintes podem ficar descansados com a solução encontrada pelo Governo para o Novo Banco, apesar de o primeiro-ministro dizer que a semana passada foi decisiva para a estabilização do sistema financeiro, apesar de toda esta aparente tranquilidade, há muito por apurar. Não vou falar da bondade das soluções. Nem dos apuramentos políticos, administrativos, regulatórios que se vão fazendo e têm de ser feitos para punir, ainda que não criminalmente, e para prevenir em relação ao futuro. Vou falar de apuramento criminal. Já foram injetados cerca de 13 mil milhões de euros pelos contribuintes portugueses na banca e a justiça portuguesa não se mexe.
Acaba de ser arquivado um dos processos ligados ao BPN, e espera-se que nem todos tenham a mesma sorte, na Caixa apesar de estar tudo à vista não acontece nada, nem no Banif, no Montepio idem e este nem entra nestas contas, e o BPP não chega para salvar a face. Mas a suprema revolta vem ao ouvir Ricardo Salgado. Depois de injetados 4.900 milhões no Novo Banco - destes 3.900 são empréstimo do Estado -, com a possibilidade de o Fundo de Resolução ter de injetar mais 3.890 milhões, todos emprestados também pelo Estado, de aparentemente se irem perder mais mil milhões com a renegociação do primeiro empréstimo, mais os custos com os lesados do BES, Salgado veio dizer que isto foi um erro monumental, mas não da administração do grupo Espírito Santo. Ele apenas pode ter cometido "erros de julgamento durante o período de gestão". Precisava de mais tempo e ninguém lho deu. Nem tempo, nem mais uma injeção de dinheiro da Caixa no BES, nem "uma palavrinha".
Em tribunal, a ex-diretora financeira do BES disse que, já em 2013, ficou "sem pinga de sangue" ao saber que faltavam 1,3 mil milhões de euros de dívidas da ESI nas contas do grupo, o que não impediu que títulos de dívida da mesma ESI fossem vendidos aos clientes do BES. Sabemos disto, mas não vemos consequências a não ser subidas de impostos para pagarmos esta pouca-vergonha. Meus senhores, não imaginem que se injeta dinheiro e se arquiva tudo a seguir para o regime continuar impune e sobranceiro, sem consequências, como julga poder. Não há país pacificado sem justiça. Há que condenar os responsáveis.
Jurista
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico