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25 de Abril de 2018 às 20:00

Impercetível e imprevisível

A política internacional é cada vez mais difícil de entender, por vezes é fascinante, por vezes é assustadora, por vezes é aborrecida. Mas é cada vez mais impercetível e cada vez mais imprevisível.

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Na verdade, como entender o que se tem passado nas relações entre o Presidente dos Estados Unidos e o Presidente da Coreia do Norte? Aqui há poucos meses, passámos semanas de quase confrontação com mísseis a fazerem disparar as sirenes de alarme no Japão e na Coreia do Sul e, de repente, desde os Jogos Olímpicos de Inverno, no segundo daqueles países, tudo acalmou. Há dias, o líder da Coreia do Norte anunciou mesmo a suspensão do lançamento de mísseis e dos ensaios nucleares, e fala-se até do desmantelamento das respetivas plataformas. Do lado americano, saudou-se como muito positiva a decisão, a Coreia do Sul e o Japão procuraram expressar uma posição mais prudente e mais desconfiada. Há quem diga que foi a China que trouxe a Coreia do Norte para o caminho do realismo, há quem diga que foi a dureza de Donald Trump a fazer vergar Kim Jong-un. 


Seja lá qual for a causa a "esmola parece grande demais" e quando assim é dá para desconfiar. Ainda por cima, essa mudança de posição do líder coreano aconteceu no meio de alguma tensão entre os Estados Unidos e a China, por causa dos anúncios por parte do Presidente dos Estados Unidos, de aumentos das taxas comerciais, concretamente sobre muitos produtos chineses. Parecerá, pois, pouco verosímil que a China se tenha sentido especialmente motivada para fazer bons ofícios junto do seu aliado norte-coreano. A verdade é que as coisas parecem ter mesmo mudado e está assente um encontro entre o Presidente do Estados Unidos e o líder da Coreia do Norte para este próximo mês de maio. Kim Jong-un diz que está satisfeito por ter confirmado que o seu país tem capacidade nuclear. Mas a história não pode ser só essa.

 

Além da Coreia do Norte, e num plano completamente diferente, também a aproximação entre França e os Estados Unidos da América seria, aqui há uns anos, difícil de prever. Como é sabido, França, nomeadamente desde De Gaulle, sempre fez muita questão de ser pouco atlântica e sublinhou sempre a importância do pilar europeu da NATO. Por ocasião da invasão do Iraque, Jacques Chirac e Gerhard Shroeder distanciaram-se de Blair e de Bush e só Nicolas Sarkozy introduziu uma maior aproximação, mesmo assim tímida. Macron, desde a sua eleição, fez questão de assumir plenamente o seu europeísmo e sempre disse que isso não era incompatível com a aliança atlântica, nomeadamente um bom relacionamento com os Estados Unidos da América.

A visita oficial que o Presidente francês faz neste dias ao seu homólogo norte-americano poderá reforçar essa vontade de França, de ser, nos próximos anos um grande interlocutor dos Estados Unidos  no continente europeu. Nestes dias, há quem fale mesmo na hipótese de ser o grande interlocutor, mas aí coloco as minhas reservas. Com mais ou menos complicações do Brexit, o Reino Unido tem sempre um lugar especial no relacionamento com os Estados Unidos da América. Quem pode estar cada vez mais distante dessa proximidade é a Alemanha, nesta fase da sua afirmação histórica e com o novo governo com o SPD cada vez mais preocupado em marcar a sua influência.

 

A política internacional nunca foi estável e tem muitas evoluções. Mas uma coisa é ter evoluções, outra é ser muito surpreendente.

 

Advogado

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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