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Opinião
21 de Junho de 2017 às 21:13

A região centro 

Estou farto de ver as lágrimas de crocodilo ou lágrimas mesmo sentidas por aqueles que acordam sempre depois de as coisas acontecerem.

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1. Eu conheço aquelas terras. Conheço aquelas matas, aqueles pinhais, aquela relação estreita entre estradas nacionais com muita história e o IC8, concluído já este século. O IC8, para quem não saiba, liga a fronteira ocidental à fronteira oriental de Portugal, entre Pombal e Castelo Branco. 


No tempo em que presidi à Câmara Municipal da Figueira da Foz, o IC8 ainda não estava completo e então tinha de sair na A1, ao quilómetro 153, apanhava a estrada nacional 234 e tinha logo uma tabuleta quilométrica que assinalava faltarem 34 quilómetros para a Figueira da Foz. Naqueles anos fui presidente do Conselho da Região Centro que engloba os distritos de Coimbra, Aveiro, Guarda, Castelo Branco e Leiria. Calcorreei as estradas e estradinhas daquela região. Entre elas, as que circundam a terra natal dos meus avós paternos, no concelho de Arganil.

Conheço bem aquelas serras, também povoadas de pinheiros, eucaliptos e de muita vegetação que ardem de anos a anos. Esses quatro anos reforçaram muito em mim o sentimento de revolta perante os desequilíbrios de um país de território tão pequeno. Tornei-me um combatente contra aquilo que na altura designei por "baile mandado" entre Lisboa e Porto e, principalmente, tornei-me um lutador contra a desertificação do território. Já vinha dantes esse sentimento profundo, resultante da minha formação pessoal e familiar, com os outros avós oriundos do Alentejo também profundo.

Já lembrei, noutro artigo do Correio da Manhã na passada semana, o que fiz no princípio da década de 90 enquanto secretário de Estado da Cultura, além do pouco tempo em que estive como primeiro-ministro. Não interessam pergaminhos pessoais, interessa é que os anos e as décadas passam e há pessoas que vão morrendo por causa de os brincalhões do regime não darem a devida importância aos assuntos mais sérios. 

 

Quando estive na Figueira, as acessibilidades eram muito más. Hoje em dia, por um conjunto de razões e circunstâncias, a Figueira está muito bem servida nesse aspeto. Durante estes dias, especialistas falaram nas consequências de ter desaparecido a pastorícia. Mais do que a pastorícia, desapareceu e desaparece gente. Não é obviamente um fenómeno só português a concentração nas urbes de média e grande dimensão. Mas é especialmente português o fenómeno do abandono do campo, da floresta, e do desequilíbrio no desenvolvimento. Por isso, nunca deixei fechar maternidades, nem escolas, nem tribunais, nem centros de saúde. Pelo contrário, abri-os.

Escrevo isto porque estou farto de ver as lágrimas de crocodilo ou lágrimas mesmo sentidas por aqueles que acordam sempre depois de as coisas acontecerem. O que está mal é aquilo que antes do 25 de Abril se chamava a política de fomento, ou seja, o desenvolvimento equilibrado e a ocupação do território. Há que inverter, custe o que custar. Há sinais de esperança, como o do regresso à agricultura e o dessa excelente rede de grandes vias, que podem contribuir para o progresso, se o modelo for, de facto, mudado.

 

2. Voltando a dar enfoque a start-ups nacionais, refiro hoje duas empresas muito recentes do mesmo ramo fundadas por jovens portuguesas e com grande motivação de sucesso. A It Tamarindo é uma marca de gravatas, cuja diferenciação assenta na quase exclusividade dos seus modelos a um preço muito acessível para um público mais jovem. Tem uma loja física no espaço da Embaixada no Príncipe Real, em Lisboa, mas a aposta do negócio é sobretudo na internet. A segunda marca é a Alphaiate, um projeto que pretende recuperar a tradição dos fatos feitos à mão, mas com uma abordagem atual e, sobretudo, mais económica para jovens adultos. Existe uma loja na Rua de São Bento, em Lisboa, onde os clientes terão contacto com o alfaiate e com os tecidos a escolher.

 

Advogado

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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