Opinião
A região centro
Estou farto de ver as lágrimas de crocodilo ou lágrimas mesmo sentidas por aqueles que acordam sempre depois de as coisas acontecerem.
1. Eu conheço aquelas terras. Conheço aquelas matas, aqueles pinhais, aquela relação estreita entre estradas nacionais com muita história e o IC8, concluído já este século. O IC8, para quem não saiba, liga a fronteira ocidental à fronteira oriental de Portugal, entre Pombal e Castelo Branco.
No tempo em que presidi à Câmara Municipal da Figueira da Foz, o IC8 ainda não estava completo e então tinha de sair na A1, ao quilómetro 153, apanhava a estrada nacional 234 e tinha logo uma tabuleta quilométrica que assinalava faltarem 34 quilómetros para a Figueira da Foz. Naqueles anos fui presidente do Conselho da Região Centro que engloba os distritos de Coimbra, Aveiro, Guarda, Castelo Branco e Leiria. Calcorreei as estradas e estradinhas daquela região. Entre elas, as que circundam a terra natal dos meus avós paternos, no concelho de Arganil.
Já lembrei, noutro artigo do Correio da Manhã na passada semana, o que fiz no princípio da década de 90 enquanto secretário de Estado da Cultura, além do pouco tempo em que estive como primeiro-ministro. Não interessam pergaminhos pessoais, interessa é que os anos e as décadas passam e há pessoas que vão morrendo por causa de os brincalhões do regime não darem a devida importância aos assuntos mais sérios.
Quando estive na Figueira, as acessibilidades eram muito más. Hoje em dia, por um conjunto de razões e circunstâncias, a Figueira está muito bem servida nesse aspeto. Durante estes dias, especialistas falaram nas consequências de ter desaparecido a pastorícia. Mais do que a pastorícia, desapareceu e desaparece gente. Não é obviamente um fenómeno só português a concentração nas urbes de média e grande dimensão. Mas é especialmente português o fenómeno do abandono do campo, da floresta, e do desequilíbrio no desenvolvimento. Por isso, nunca deixei fechar maternidades, nem escolas, nem tribunais, nem centros de saúde. Pelo contrário, abri-os.
Escrevo isto porque estou farto de ver as lágrimas de crocodilo ou lágrimas mesmo sentidas por aqueles que acordam sempre depois de as coisas acontecerem. O que está mal é aquilo que antes do 25 de Abril se chamava a política de fomento, ou seja, o desenvolvimento equilibrado e a ocupação do território. Há que inverter, custe o que custar. Há sinais de esperança, como o do regresso à agricultura e o dessa excelente rede de grandes vias, que podem contribuir para o progresso, se o modelo for, de facto, mudado.
2. Voltando a dar enfoque a start-ups nacionais, refiro hoje duas empresas muito recentes do mesmo ramo fundadas por jovens portuguesas e com grande motivação de sucesso. A It Tamarindo é uma marca de gravatas, cuja diferenciação assenta na quase exclusividade dos seus modelos a um preço muito acessível para um público mais jovem. Tem uma loja física no espaço da Embaixada no Príncipe Real, em Lisboa, mas a aposta do negócio é sobretudo na internet. A segunda marca é a Alphaiate, um projeto que pretende recuperar a tradição dos fatos feitos à mão, mas com uma abordagem atual e, sobretudo, mais económica para jovens adultos. Existe uma loja na Rua de São Bento, em Lisboa, onde os clientes terão contacto com o alfaiate e com os tecidos a escolher.
Advogado
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