Opinião
O negociador Trump
A tensão diplomática dos EUA com a Coreia do Norte está a agudizar-se, como vamos vendo nas notícias. Isto acontece desde que Donald Trump se tornou Presidente dos EUA, tendo-se posicionado claramente como um negociador no xadrez geopolítico e económico mundial.
Muitas análises têm sido feitas sobre os primeiros 100 dias de Trump na presidência norte-americana, e não vou fazer um juízo da qualidade da sua ação, mas vou focar-me, de modo sucinto, na abordagem seguida por ele contra a Coreia do Norte.
Primeiro, na análise do país e do seu líder, Trump sabe que o país está depauperado, mas mesmo assim a população não se tem revoltado, tendo em conta o elevadíssimo controlo da informação no país e o poder fortíssimo do exército e a sua obediência cega a Kim Jong-un. Este é muito instável e imprevisível, sendo considerado "louco", e usa dessa imagem para assustar os EUA e o mundo em geral, pois pode "esperar-se tudo de um louco", incluindo arriscar a sobrevivência da Coreia do Norte ao atacar a Coreia do Sul e outros, se necessário.
Segundo, Trump percebeu que teria também de usar uma imagem de alguma "loucura" para conseguir enfrentar Kim Jong-un. Os ataques à Síria e o bombardeamento no Afeganistão com a "mãe de todas as bombas" deram a Trump alguma credibilidade no uso de armas para atingir objetivos sem que ninguém, aparentemente, o limite nessas suas ações.
Usando dessa imagem, e escalando o conflito, Trump consegue induzir outras potências a também intervir, especialmente a China, que deverá pressionar ou, pelo menos, diminuir o seu apoio à Coreia do Norte. Assim esta terá de eventualmente vir a ceder aos EUA e, no longo prazo, idealmente tornar-se um país com uma liderança diferente e menos hostil ao mundo.
É uma jogada de risco, mas em que Trump poderá ter sucesso, pois Kim Jong-un já percebeu que tem um negociador muito difícil à sua frente.
Gestor e docente convidado do ISCTE-IUL
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico