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17 de Janeiro de 2014 às 10:06

Sacanistas! (um neologismo em homenagem ao bom humor nacional)

Misturam a falta de carácter do Sacana comum com a militância na estupidez e na hipocrisia.

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Há toda uma nova geração de protagonistas públicos que se consagra com esta crise: não são Socialistas, nem Comunistas, nem Fascistas, nem penso que haja no ideário comum forma directa de os combater, pois eles são um efeito secundário da vaidade colectiva - uma espécie de "Frankensteins" da nossa ligeireza excessiva. Eles são "nós", que os levamos a sério: eles são os Sacanistas.


Imbatíveis, misturam a falta de carácter do sacana comum com a militância na estupidez e na hipocrisia. O "país" confunde esta forma de autoritarismo com "coerência". Coerente é a malta da Bairrada. Depois da vetusta União Europeia tentar normativizar a dimensão do porco, nos anos noventa, e acabar com o negócio do leitão, quiçá em nome da superior "bratwurst" ou "delicatessen" ou "charcuterie", decidiu fazer estorno aos responsáveis, carregando na conta. Bem jogado - com muito IVA a 23% incluído, o que é bom para a recuperação económica. É verdade o que dizem os liberais mais extremos: "o Estado não cria emprego"; pois não, mas destrói que se farta.


Mas calma, voltemos ao neologismo. Um Sacanista é algo muito identificável; ele distingue-se dos demais balidores pelo uso inteligente da estupidez, um valor com o qual "empreendem" carreiras na política, no comentário e afins. Têm como fada mágica a "verdade", com a qual se insinuam como moralmente superiores ao "esterco" que os rodeia e que - ironicamente - os adubou. Esse "esterco" ora é vergastado publicamente, ora serve de legitimação para a popularidade do Sacanista, e esta é a dialéctica infernal: o Sacanista traz sempre, ao canto da boca, a crítica à mediocridade colectiva que é a única razão da sua existência. A impância do Sacanista não depende nunca da qualidade dos seus argumentos, mas do formato com que nos chegam: a televisão e/ou os seus ecos impressos a que alguns, poucos, chamam jornalismo.


Um bom exemplo de como funciona o Sacanista é a tresleitura do problema ambiental enquanto problema fundamentalmente económico. Um Sacanista, por regra, tem duas tácticas: ou enterra qualquer conclusão produtiva e inteligente a que se possa ter chegado na contra-ideologia, desvalorizando conteúdos em detrimento da forma por puro preconceito e/ou ignorância, ou segue em relativização cínica do problema, fazendo-se de mula - tipo advogado do O.J. Simpson, à espera que a dúvida razoável lhe safe o couro e os dólares investidos em "informação".


No caso da primeira táctica, trata-se de associar uma ideia política a uma ideologia que a possa desvalorizar: assim, se você acha que perder duas horas por dia só para ir trabalhar é mau para carteira e para o ambiente, e que não fazia nada mal pensar a política económica a partir daí (com ou sem Greenpeace, nem interessa), você é de imediato chamado de revolucionário, ecologista, agressor da propriedade privada e empecilho ao progresso. No segundo caso, a coisa é mais elaborada: imaginemos que um qualquer Sacanista apanha com uma pedrada de granizo gigantesco, daquelas que caiu no interior Norte há umas semanas. O Sacanista, perante o golpe na mona, contorce-se; ele faz então de conta que não percebe a irrelevância de não se ter conseguido prova irrefutável da influência humana no aquecimento global, e abusa do tal conceito de dúvida razoável para anular o processo: "não está provado", dirá ao vivo e a cores. Pois não, nem é preciso. Basta olhar para o peso do automóvel nas famílias para perceber que não háeconomia que lhe resista. Mas o Sacanista tem uma última habilidade: está sempre a falar sozinho ou em frente a gente demasiado maquilhada, o que é a mesma coisa; por isso, consegue disfarçar o golpe na mona e seguir sorrindo, apesar da lama do pântano que vai fazendo à sua volta já lhe chegar ao pescoço.


Se calhar, o Sacanista tem razão: não está provado que se possa morrer "de atolado", talvez a causa seja mesmo "asfixia".

 

 

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