Opinião
A minha Tunísia
O motivo para esta coluna é o recente ataque terrorista no centro de Túnis. Mas trata-se de um texto pessoal, impressionista e apenas político no sentido em que a dimensão política é inescapável.
Os factos são conhecidos: um comando terrorista lançou um ataque direto a turistas que se preparavam para visitar o museu Bardo, junto ao Parlamento tunisino. O ataque visou portanto, simultaneamente, os estrangeiros e o Estado. Tratou-se pois, simbolicamente, de um duplo atentado.
Mais uma vez o atentado pode "provar" o perigo árabe e fazer disparar a nossa tendência para a estereotipia. Como a psicologia social mostrou, os humanos estão "programados" para estereotipar e os estereótipos cumprem funções importantes. Tornam a nossa vida mental mais simples porque oferecem formas compactas de informação. Mas têm custos, como o de simplificar a realidade de uma forma que enviesa a sua complexidade. Na nossa querida Europa estamos a recorrer a doses excessivas de estereótipos, nomeadamente os associados ao Norte e ao Sul. Mas eles também separam o Norte e o Sul do mundo mediterrânico. Para quem encontra fascínio na ideia de Mediterrâneo, como este colunista do Negócios, o ataque de Túnis merece algumas linhas, aqui organizadas em quatro pontos.
Primeiro ponto. Tendo o gosto de colaborar, desde há alguns anos, com um projeto educativo meritório, a Mediterranean School of Business, onde tive a oportunidade de encontrar, de conviver, de discutir e de trabalhar com dezenas e dezenas de tunisinos e outros magrebinos. Costumo dizer, não sem a minha própria dose de estereótipos, que não conheço povo tão parecido connosco como o tunisino - trata-se, obviamente, de um elogio.
A própria Mediterranean School of Business é um projeto exemplar. Uma iniciativa liberal num mundo onde o Estado continua a pesar muito no setor educativo. Uma escola de negócios aberta ao mundo e que ensina em língua inglesa, um espaço de tolerância num país tolerante.
A Tunísia é a democracia mais exemplar do Norte de África. Aí começou e aí prossegue a Primavera Árabe. A democracia tem-se consolidado, os direitos das mulheres têm sido aprofundados, a noção de democracia, ela própria, vai fazendo o seu caminho.
O conhecimento da cultura que fui adquirindo, ainda que superficial, tem enriquecido a minha existência. Uma vida com Cartago, o azul de Sidi Bou Said, o jazz de Art Blakey ("A Night in Tunisia"), o souk de Túnis, os maravilhosos tapetes kilim, os candeeiros árabes, os doces com pistácio, a harissa picante: a vida é melhor com estes ingredientes. Mais recentemente descobri a "ojja aux merguez" (a "ojja" é um tesouro, caro leitor, que pode descobrir no You Tube; os merguez e a harissa, esses vendem-se no restaurante O Talho, em Lisboa).
Para a The Economist a Tunísia foi o país do ano em 2014. E a mesma revista previu que a Colômbia poderá vir a ser o país de 2015. Pois eu vou trocar a ordem. O país que mais gostei de conhecer em 2014 foi, de longe, a Colômbia (mesmo sem sair de Bogotá). A minha Tunísia não é o país que os terroristas querem que ela seja. A bela e doce Tunísia é, desde já, o meu país de 2015.
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico