Opinião
Marques Mendes sobre fuga de Rendeiro: Magistrados esqueceram-se que um patife é capaz de tudo
No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre a fuga de João Rendeiro, o governo no pós-autárquicas e a disputa de liderança no PSD e CDS, entre outros temas.
A FUGA DE JOÃO RENDEIRO
- A fuga de Rendeiro: uma vergonha para o próprio; uma vergonha para a justiça:
- Vergonha para o próprio: uma pessoa que foge à justiça é uma pessoa que se comporta como um patife. Uma pessoa sem carácter. Rendeiro pode ser rico e ter bons advogados mas comporta-se como um patife da pior espécie.
- Vergonha para a justiça, quer para o Mº Pº, quer para os magistrados judiciais envolvidos. Uns e outros não têm nem desculpa:
- Primeiro: não foram prudentes. Perante uma pessoa destas, já com condenações, mandava a prudência que, no mínimo, lhe apreendessem o passaporte. Não precisavam de o colocar em prisão preventiva ou domiciliária. Bastava apreender-lhe o passaporte. A justiça faz isso a pessoas que nem sequer têm acusação. Por maioria de razão, devia fazer o mesmo em relação a quem tem uma condenação. Não se compreende tamanha imprudência.
- Segundo: não foram competentes. Um bom procurador ou um bom juiz não é apenas aquele que sabe muito de direito. É aquele que tem também experiência da vida. Estes magistrados foram excessivamente formalistas. Esqueceram-se da realidade social e da podridão humana. Esqueceram-se que um patife é capaz de tudo.
- No final, alguns magistrados insinuaram que a culpa é dos políticos. Esta gente não se enxerga. Ao menos deviam ter coluna vertebral e assumir os erros.
- Os políticos cometem muitos erros. Mas aqui, neste caso, não há qualquer culpa dos políticos, sejam governantes ou deputados. A culpa é, toda ela, dos magistrados. Não têm desculpa!
O GOVERNO NO PÓS-AUTÁRQUICAS
- O Governo ficou mais fraco com os resultados das autárquicas. A sua vida futura vai ser um inferno. Por três razões essenciais:
- Cansaço: as pessoas começam a ficar fartas das caras, do estilo e das atitudes dos governantes. E os milhões da Bazuca não resolvem este problema. É a fadiga política. Já sucedeu com Cavaco e com Guterres. Agora é com Costa. Acontece com todos ao fim de vários anos!
- Perda de autoridade do PM: António Costa está a perder autoridade. Há meses que se vê . Esta semana tivemos mais um exemplo. O conflito entre o MF e o Ministro Pedro Nuno Santos por causa da CP. E vamos ter outros. Em fim de ciclo, o PM tende a perder autoridade e o Governo a perder coesão.
- Arrogância do poder: esta arrogância prejudicou seriamente o PS nas autárquicas. E vai matar o Governo. Tivemos esta semana mais um caso e grave: a tentativa do Governo de mudar o CEMA, numa operação inqualificável, à margem do PR, parecendo uma vingança politica. Tudo abortou porque Marcelo deu uma "pantufada" monumental no Governo. O PM saiu mal. O MDN saiu desautorizado. Só não se demite porque neste Governo todos se agarram aos lugares.
- Muitos, dentro e fora do PS, dizem que a solução é fazer uma remodelação. Pura ilusão. Isso é mais desespero que outra coisa.
- Claro que vai haver uma remodelação. O PM desmente-a mas vai fazê-la. Só que é tarde de mais. Devia ter sido feita antes das autárquicas.
- Agora será uma remodelação pífia. Ninguém de grande prestígio aceita ir para o Governo em fim de ciclo e com o PM de saída. Esta situação dificilmente tem retorno. Já foi assim com o cavaquismo e o guterrismo. O costismo não é diferente.
A DISPUTA DE LIDERANÇA NO PSD E CDS
- O PSD vai ter eleições em Dezembro ou em Janeiro. David Justino, citado pelo Público, já antecipou o que vai suceder: Rio recandidata-se e Paulo Rangel também. O vice-presidente do PSD tem razão. É o cenário mais provável e até o mais desejável.
- Primeiro, não faria sentido que Rui Rio não se recandidatasse, agora que se reforçou politicamente. Ele deve recandidatar-se. E vai recandidatar-se.
- Segundo, se Paulo Rangel avançar, como é certo que avançará, também é positivo e saudável. É até um bom serviço que presta ao PSD. O partido teve uma vitória política nas autárquicas mas há muitas questões em aberto:
- O PSD vai continuar a fazer uma oposição frouxa? Vai continuar a deixar o PS à solta? Ou vai mudar? Isto precisa de ser discutido.
- Como é que o PSD vai ser alternativa? Quais são as suas causas? Quais são as suas diferenças em relação ao PS? É preciso clarificar.
- Debates quinzenais na AR – Rui Rio cometeu um erro grave ao acabar com os debates quinzenais. Fez um enorme favor ao PM e prestou um mau serviço à democracia. O PSD vai persistir no erro?
- Tudo isto e muito mais deve ser discutido. É necessário e saudável. Depois, os militantes decidem. O confronto de ideias é sempre preferível à intriga a à paz podre.
- No CDS, Nuno Melo é um histórico, tem muitas qualidades e vai candidatar-se. Mas vai ser muito difícil vencer Francisco Rodrigues dos Santos. Ele levou o CDS ao Governo dos Açores, foi decisivo para as vitórias de Lisboa e Coimbra, manteve as Câmaras que tinha e aumentou mandatos.
O FIM DA VACINAÇÃO
- Com o ambiente das eleições autárquicas, o país quase não se apercebeu que, na prática, acabou o processo de vacinação. Vale a pena fazer um balanço:
- Portugal na Europa: somos o melhor país na UE e o segundo melhor do Mundo.
- Vacinação em números: temos 86% com, pelo menos uma dose; e cerca de 85% da população com vacinação completa. É praticamente toda a população elegível.
- Vacinação por faixas etárias: todas as faixas etárias têm uma taxa de vacinação claramente acima dos 90% e nos mais idosos a taxa é de 100%.
- Recusa da vacinação: apenas 2,5% da população, uma das mais baixas taxas de rejeição do mundo.
- É um balanço fantástico. Até a imprensa internacional elogia Portugal. Mérito de muita gente: dos portugueses, que merecem uma homenagem (aderiram em massa à vacina); do Almirante Gouveia e Melo, que merece uma estátua (pelo seu profissionalismo); da Ministra da Saúde, que merece um sério elogio (esteve à altura da responsabilidade); do SNS, que merece uma condecoração (os profissionais do SNS foram notáveis).
- O futuro passa pela 3ª dose da vacina. Ao que apurei, o que vai suceder é isto:
- Vai haver uma terceira dose para os maiores de 65 anos; este processo de vacinação irá começar ainda este mês de Outubro e terminar em Dezembro, antes do Natal; o Ministério da Saúde aguarda, apenas, a orientação que a EMA vai tomar nesta próxima semana.
- Há vacinas mais que suficientes. Até Junho de 2022 ainda vamos receber mais 17,864 milhões de vacinas (12,168 milhões da Pfizer e 5,695 da Moderna). Além das que estão em stock. Se não forem gastas, serão doadas.
- No entretanto, saúda-se o surgimento de um medicamento para tratar esta doença. Além das vacinas, vamos também passar a ter um medicamento.