Opinião
Marques Mendes: Pedro Nuno Santos será provavelmente o líder do PS a seguir a António Costa
No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre a pandemia, a vacinação, a remodelação governamental e possíveis saídas, entre outros temas. E comenta o facto de Rui Rio ter acabado com o tabu da sua eventual saída.
A PANDEMIA
- As medidas que hoje entram em vigor são as que aqui antecipei na semana passada (fim das restrições horárias e do recolher obrigatório, aposta nos certificados Covid). São medidas positivas.
- Do ponto de vista sanitário significam duas coisas: primeiro, que hoje é o princípio do fim deste processo de confinamento; depois, que tudo isto só é possível graças ao sucesso da vacinação. Se não fossem as vacinas, continuávamos em casa e a "fadiga pandémica" arrastava-se;
- Politicamente, significam a "reconciliação" de posições entre o PR e o Governo. Há mais de um mês que Marcelo "forçava" um desconfinamento mais rápido. O Governo resistia. Agora aproximara posições, o que é bom.
- Economicamente, são um bom sinal de abertura, sobretudo para o comércio e a restauração, os sectores mais fustigados. Com tudo isto, podemos terminar o ano com uma boa recuperação económica.
- Psicologicamente, acabam com o pesadelo das quintas-feiras. A ideia de todas as quintas-feiras se estar dependente de mais uma ou outra restrição aprovada pelo CM, já causava quase tanto stress quanto a pandemia.
- Só dois reparos: o primeiro sobre os jovens. Adiar a abertura das discotecas, ainda que com limitações de entradas, é uma violência para os jovens e um erro para a saúde pública. Festas selvagens na rua são piores que festas controladas nas discotecas. O segundo reparo é sobre os idosos em lares. Continua a saga da desumanidade. Nalguns lares os idosos continuam a ser tratados não como pessoas mas como mercadoria.
A VACINAÇÃO
- Vacinação de crianças entre os 12 e 15 anos – A DGS decidiu não recomendar a vacinação nesta faixa etária. Pessoalmente, a minha sensibilidade até ia no sentido oposto , o da vacinação. Mas eu não sou médico nem especialista. Posto isto, só dois apontamentos: primeiro, Graça Freitas foi corajosa e independente. Concorde-se ou discorde-se da decisão, a verdade é que decidiu contra a pressão política, desde logo do Governo; segundo, o que é difícil de compreender é que haja um critério no Continente e outro na Madeira. Parece que temos dois Países!
- Posto isto, vamos ao estado da arte:
- Uma má notícia – A vacinação pelo mundo está muito desigual. UE e EUA estão muito bem. África está com números excepcionalmente baixos. O que é Enquanto o mundo não estiver todo vacinado, não acaba a pandemia nem se evitam novas variantes.
- Uma boa notícia – Portugal dentro da UE é dos melhores a vacinar. Estamos no 5º lugar e muito acima da média europeia.
- Uma excelente notícia – O número de pessoas mortas com Covid depois da vacinação completa é muito baixo. Em várias faixas etárias. O que prova que a vacina protege mesmo. Não a 100%, mas de modo muito profundo. O que significa que vale muito a pena vacinar.
- Ritmo de vacinação da semana – Novamente bem. Já vamos com 12,2 milhões de doses administradas; 68,2%% da população com pelo menos uma dose e 56,5% com a vacinação completa (dados oficiais de hoje).
- Objectivos para Agosto: a previsão da task force é atingir em 15 de Agosto o objectivo de 76% de portugueses com uma dose e o objectivo de 66% com vacinação completa e em 1 de Setembro 85% com uma dose e 68% com vacinação completa.
REMODELAÇÃO DO GOVERNO
- Terminado o debate do Estado da Nação, o grande desafio do PM é a remodelação do Governo. Toda a gente sabe que vai suceder. O que falta saber é quando e como. Será em Agosto, Setembro ou Outubro? E quem vai sair? Há muitos especulações e sondagens a esse respeito. Aqui deixo as minhas previsões. Não são informações. São previsões.
- Comecemos por um grupo de cinco Ministros que muitos apostam que vão sair mas que, nas minhas previsões, não sairão do Governo.
- Tiago Brandão Rodrigues – Várias sondagens dizem que os portugueses desejam a sua saída. Não me parece que saia. É amigo do PM e tem o seu claro apoio.
- Marta Temido – Pode-se gostar ou não da Ministra da Saúde. Mas é a Ministra mais popular do Governo. Esta popularidade é um grande seguro de vida.
- Ana Mendes Godinho – Teve dificuldade em adaptar-se à pasta. Cometeu alguns erros. Melhorou muito. O PM aprecia-a e apoia-a. Não sai.
- Pedro Nuno Santos – Será provavelmente o líder do PS a seguir a António Costa. Com este estatuto só sai do Governo se ele próprio quiser. E ele não quer sair.
- Alexandra Leitão – Não se tem adaptado bem à pasta que tutela. Mas é adorada pelo PM. Sair do Governo não sairá. Mas pode mudar de pasta.
- Vejamos, agora, os quatro Ministros que é provável que saiam do governo:
- Eduardo Cabrita – A saída deste Ministro é inevitável. Na prática, não haverá remodelação sem a saída do MAI.
- Francisca Van Dunen –Já esteve para sair, por sua iniciativa, há dois anos. É muito provável que saia agora, pelo desgaste e por vontade própria.
- Graça Fonseca –Tem oscilado entre algumas boas medidas e verdadeiros disparates. Mas é muito difícil aguentar-se, apesar da amizade do PM.
- Manuel Heitor – Um homem tecnicamente competente que tem sido uma inexistência política. Dificilmente se aguentará.
- Finalmente, as dúvidas:
- Augusto Santos Silva – Só sairá se ele próprio insistir em sair. Por vontade do PM não sairá nunca. E, se sair, é uma perda política para o Governo.
- Serrão Santos – Ministro do Mar. O país não o conhecia há 2 anos. Continua a não o conhecer agora. É um ponto de interrogação.
- Maria do Céu Antunes – Não foi a primeira escolha para a Agricultura há 2 anos. Andou sempre na corda bamba. Até perdeu uma parte do ministério. Mas, entretanto, fez a reforma da PAC. Será suficiente?
Eis as minhas previsões para a remodelação. Em Agosto, Setembro ou Outubro. As mudanças não andarão muito longe do que acabo de prever.
ENTREVISTA DE RUI RIO
- A entrevista de Rui Rio no Expresso é especialmente curiosa. Por duas razões:
- Primeiro: o líder do PSD reconhece que vai mudar de estratégia. Que vai apostar mais nas diferenças que tem com o PS. É positivo. O país precisa de ter uma alternativa. Para isso precisa de perceber onde é que o PSD é diferente do PS. Mas, para começar, a ideia de uma revisão constitucional não é famosa. Os portugueses estão preocupados com a economia, com o seu emprego, com a recuperação do seu poder de compra. Não ligam a revisões constitucionais. Acresce que negociar uma revisão constitucional é apostar na convergência com o PS e não na diferença.
- Segundo: Rui Rio acabou com o tabu da sua eventual saída. Ultimamente, tinha-se instalado dentro do PSD a ideia de Rui Rio poderia sair da liderança pelo seu pé a seguir às eleições autárquicas. Eu nunca acreditei nisso. Mas havia muito boa gente, seus apoiantes e seus adversários, a defender essa ideia. Agora, esse tabu acabou. Rio foi claro: quer ser PM, vai a jogo no próximo Congresso e até vaticina que não terá um adversário forte.
- Aqui chegados, há duas questões que se colocam: quem pode disputar a liderança a Rio? E Rio pode perder? Analiticamente falando, eu diria:
- Primeiro: não havendo Passos Coelho, pode haver vários candidatos contra Rui Rio: Montenegro, Pinto Luz, Moreira da Silva, Pedro Duarte, Paulo Rangel. Mas o mais bem posicionado neste momento é provavelmente Paulo Rangel.
- Segundo: Rio ganhar ou perder a eleição vai depender sobretudo da oposição interna estar unida ou dividida. Se estiver dividida, como da última vez, Rio ganha. Se estiver unida, tudo pode suceder.
PORTUGAL A PERDER POPULAÇÃO
- Censos 2021 – Portugal a perder população, pela primeira vez desde a década de 60/70 do século passado. Não é uma grande surpresa. Mas é uma enorme preocupação. Provavelmente o problema mais sério que o país tem pela frente. Se esta tendência não se inverte, temos pela frente um desastre demográfico, um desastre económico, um desastre para a segurança social e para as reformas futuras, até um desastre do ponto de vista anímico e da auto-estima nacional.
- Esta é daquelas matérias que deveria exigir um acordo nacional, de fomento da natalidade e da população. Um acordo impulsionado pelo PR e envolvendo Governo, partidos políticos, municípios e parceiros Primeiro, porque inverter esta tendência é tarefa de vários governos e de várias legislaturas; depois, porque é preciso um programa global de acção e não apenas medidas pontuais. Vejamos a título exemplificativo:
- É preciso uma política inteligente de atracção de imigração qualificada;
- É preciso uma política arrojada de habitação com rendas acessíveis;
- É preciso uma política ambiciosa de apoio à natalidade com uma rede nacional e gratuita de creches, infantários e jardins de infância;
- É preciso que as autarquias e não só o Estado sejam agentes activos na atracção de investimento e na criação de riqueza. O exemplo de Braga é notável e devia ser estudado e multiplicado. Um concelho que inovou, investiu, atraiu imigração, criou riqueza e cresceu em população.