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Opinião
20 de Junho de 2021 às 21:23

"Parecia haver conflito entre Marcelo e Costa. Afinal não, está tudo como dantes!"

As notas da semana de Marques Mendes no seu comentário habitual na SIC. O comentador fala sobre a situação da pandemia, o aparente conflito entre Belém e São Bento, a vacinação, o caso dos dados de manifestantes enviados pela Câmara de Lisboa para a Rússia e as eleições autárquicas, entre outros temas.

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ESTADO DA PANDEMIA

 

1.     Primeiro, o estado da arte:

·     Na UE continuamos em contraciclo. A UE a melhorar. Portugal a piorar.

·     Cá dentro, a situação mais delicada é na AML. Aqui se concentram 2/3 dos novos casos. E o maior número de internamentos. Efeito da variante delta, já dominante na Região. Afinal, parece que os Ingleses tinham razão e sabiam mais que os nossos especialistas.

·     Mas em número de mortos, a situação melhorou muito. Somos o quinto melhor país da UE em número de óbitos. Efeito  da vacinação.

 

2.     Depois, o plano político. há ou não um conflito entre Presidente da República e primeiro-ministro sobre a forma de combater esta fase da pandemia? Eu diria o seguinte: no início da semana parecia que sim, que havia um conflito; no fim da semana a ideia de conflito ficou dissipada. O Presidente explicou que a sua ideia é que não se deve voltar ao Estado de Emergência, com o que todos concordam; o Governo clarificou que tem os instrumentos necessários para agir. Tudo como dantes!!

 

3.     Terceiro, o plano das decisões:

a)     O Governo tomou uma decisão cautelar: proibir durante o fim de semana as saídas da AML para outras regiões. A decisão é bem intencionada: evitar que a variante delta se espalhe pelo país. Tenho sérias dúvidas é que a medida seja eficaz. Querendo sair, as pessoas acabam por sair na mesma.

b)     Quanto ao futuro, o importante são as decisões do Conselho de Ministros da próxima quinta-feira. E há uma boa novidade.

·     Ao que apurei, o Governo vai aprovar um Dec. Lei a determinar que o Certificado Covid se aplique cá dentro e não apenas em viagens. Exemplificando: quem tiver Certificado Covid pode ter acesso sem restrições a casamentos, jogos de futebol e espectáculos. Estas três situações já estão definidas. Mas o Governo está ainda a estudar a hipóteses de alargar o Certificado Covid a outras situações, actividades e eventos, designadamente no acesso a restaurantes. E eu acrescentaria: liberdade de circulação. Quem tiver Certificado Covid não deve ter restrições à circulação pelo país.

c)     Acho que esse caminho é correcto:

·     Nesta fase da pandemia, o caminho não é fechar ou voltar a confinar. A solução é testar mais e vacinar ainda mais depressa. Ora, o Certificado Covid é um incentivo á testagem e á vacinação. Quem já estiver vacinado pode ter o Certificado; quem ainda não estiver vacinado pode tê-lo na mesma se fizer teste e o teste for negativo.

 

AS NOVIDADES DA VACINAÇÃO

 

1.     Comecemos pelo ponto da situação:

a)     Número de vacinas administradas –7,6 milhões; pessoas com, pelo menos, uma dose – 4,9 milhões; pessoas com vacinação completa – 2,9 milhões.

b)     Por faixas etárias – Nas pessoas com 80 ou mais anos, 98%; entre os 70-79 anos, 99%; entre os 60-69 anos, 93%; entre os 50-59 anos, 75%; entre os 40-49 anos, 39%.

 

2.     Novidades da vacinação para o futuro:

a)     Primeiro: a segunda dose da AstraZeneca, agora que a DGS reduziu para 8 semanas a diferença de tempo entre as duas doses.

·     Há 700 mil pessoas à espera da 2ª dose

·     Vai demorar 3 semanas a vaciná-las

·     A meio de Julho este grupo terá a vacinação completa

·     As pessoas serão contactadas para agendar nova data.

b)     Segundo: quais as novas fases da vacinação e respectivas datas?

·     Abre amanhã a faixa dos 30-39 anos, começando acima dos 35

·     Meio de julho. Abre faixa dos 20-29 anos, logo que 50% da faixa anterior esteja vacinada

·     Autoridades preparam campanha de sensibilização para jovens.

c)     Terceiro: a aceleração da vacinação em Lisboa e Porto, não para privilegiar os grandes centros mas para reduzir atrasos em relação ao resto do país.

·     Vai abrir novo centro de vacinação em Lisboa (Estádio Universitário)

·     Centro de vacinação militar – médicos e enfermeiros das FA

·     Objetivo – vacinar mais 12 mil pessoas por semana

·     Solução idêntica pode ser adotada no Porto.

d)     Quarto: a vacinação de imigrantes, sobretudo os que não estão regularizados (logo, não têm cartão de utente de saúde)

·     Imigrantes vão começar a ser vacinados

·     Vacinação será concentrada em fins-de-semana

·     Processo articulado com associações e confissões religiosas

·     Objectivo – vacinar um grupo específico com risco de transmissão.

 

3.     Uma boa novidade internacional: o G7 decidiu disponibilizar mil milhões de vacinas para os países em desenvolvimento. Uma medida na direcção certa.

 

 

MEDINA E OS RUSSOS( AUDITORIA)

 

1.     Da auditoria resultam dois aspectos positivos e três aspectos assustadores:

·     Positivo: foi uma auditoria rápida. Não é normal em Portugal. Veja-se o inquérito aos festejos do Sporting. Já passou um mês e meio e nada.

·     Positivo: o facto de o ex-Presidente da CM, António Costa, em 2013, ter dado orientações certas sobre partilha de informação ( ao MAI e PSP).

 

2.     Posto isto, tudo o resto é assustador:

·     Primeiro: é assustador que na maior Câmara do país uma decisão de um seu Presidente não seja cumprida e que uma lei da República não seja respeitada. Foi o que sucedeu. A decisão de António Costa em 2013 não foi cumprida. A nova lei sobre protecção da dados, de 2018, não foi acatada. Esta Câmara é um susto!

·     Segundo: é assustador que tudo isto aconteça e não haja na CM de Lisboa mecanismos internos de controle, escrutínio e fiscalização do seu funcionamento. Parece uma Câmara em autogestão. Um pesadelo!

·     Terceiro: é assustador a falta de atenção e de respeito que os políticos na CM de Lisboa têm por questões tão simples e essenciais como esta: os contactos com Estados estrangeiros são deixados na mão de funcionários. Isto só não é de gargalhada porque é grave!

 

3.     Nunca esperei que o Presidente da CM se demitisse. Em Portugal, com a saudável excepção de Jorge Coelho, nunca ninguém se demite por responsabilidades políticas. Mas que este caso é uma mancha na carreira política de Fernando Medina, disso não há a menor das dúvidas.

 

 

 

CANDIDATURAS AUTÁRQUICAS

 

As eleições autárquicas serão apenas em Setembro (em princípio, 26 de Setembro). Mas as candidaturas já agitam a vida política. Analisemos hoje cinco Municípios.

1.     Porto  É um caso de vitória antecipada. Nunca uma vitória foi tão fácil.

a)     PS e PSD renderam-se à vitória de Rui Moreira. Desistiram de tentar vencer.

b)     Escolheram candidatos que são apenas para cumprir calendário. Não fazem história nem vão ganhar nada.

c)     O grande mérito é de Rui Moreira. É a sua popularidade que afasta qualquer candidatura forte, quer do PS, quer do PSD.

 

2.     Coimbra  Risco para o PS?

a)     Coimbra é um risco para o PS. O partido pode perder esta Câmara.

b)     O PSD lidera uma super coligação com 7 partidos, com o ex-Bastonário da Ordem dos Médicos á cabeça e pode vencer. É uma mega-geringonça.

c)     O PS tem o seu Presidente desgastado. São muitos anos no poder.

 

3.     Guarda  Risco para o PSD?

a)     A Guarda é um risco para o PSD. O partido pode perder esta Câmara.

b)     Há duas candidaturas da área do PSD. A oficial, protagonizada pelo Presidente da CM; uma independente, liderada por um vereador do PSD que se incompatibilizou com o partido.

c)     A divisão nos eleitores "laranjinhas" pode dar a vitória ao PS.

 

4.     Figueira da Foz  A disputa mediática

a)     Não é capital de distrito, mas será uma das eleições mais mediáticas.

b)     Mérito de Santana Lopes. Goste-se ou não de Santana Lopes, é difícil não reconhecer a sua atitude corajosa. Sobretudo depois do revés com o Aliança.

c)     Resultado: três candidatos com qualidade e mérito (PS, PSD e Independente) e um desfecho imprevisível, sendo que o Presidente da Câmara socialista tem a vantagem de estar no poder.

 

5.     Oeiras – Evolução na continuidade

a)     Goste-se ou não se goste de Isaltino, é impossível não reconhecer que tem a reeleição praticamente assegurada.

b)     Mas há duas curiosidades: o PSD tem um candidato de futuro – Alexandre Poço. Um dos jovens políticos mais talentosos do PSD.

c)     E há uma candidatura independente forte, protagonizada pela jornalista Carla Castelo, apoiada pelo BE, Livre, Volt e personalidades independentes.

 

6.     Nota final: há uma semana António Costa viu-se desautorizado com a desistência do candidato que escolheu para o Porto. Esta semana foi Rio a ser desautorizado, em Gaia. A vida dos líderes partidários não está fácil.

 

GUTERRES E BIDEN

 

Na política externa, com impacto na política interna, três casos relevantes esta semana:

1.     A Comissão Europeia aprovou o PRR português com grandes elogios. Concorde-se ou discorde-se das opções do Plano, é uma boa notícia para Portugal. Mesmo em cima do fecho da Presidência Portuguesa da UE.

 

2.     António Guterres foi reconduzido para um segundo mandato como Secretário Geral da ONU. O primeiro mandato não foi fácil, porque teve Trump na presidência dos EUA. Esperamos que tenha melhores condições de afirmação nesta segunda oportunidade.

 

3.     O périplo de Joe Biden pela Europa foi muito relevante:

·     O ponto forte foi o reforço da relação transatlântica, abalada pela dinâmica anti-Nato e anti-UE de Trump. Biden superou as melhores expectativas. Foi claríssimo na defesa da Nato e na prioridade à Europa.

·     Percebe-se que o faz por convicção e por estratégia. Por convicção. Biden é um homem da velha escola, formado na guerra fria, conhecedor da política externa; por estratégia. Biden ´quer "puxar" a UE e o RU para a sua estratégia de competição com a China, evitando que a Europa seja uma terceira via e se afaste da linha dos EUA.

·     Para Portugal, este reforço da relação entre a Europa e os EUA é essencial. Somos o país mais pró-atlântico do continente. Um afastamento entre europeus e americanos coloca-nos sempre numa encruzilhada estratégica difícil.

·     Finalmente, o encontro com Putin. Não teve resultados concretos. Serviu apenas para quebrar gelo. Afinal, desde o fim da URSS, nunca as relações do Ocidente com a Rússia foram tão más como agora. Um sinal positivo: os embaixadores vão voltar às suas embaixadas, depois de terem sido retirados no pico da tensão. Já é alguma evolução.

 

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