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Luís Marques Mendes 28 de Novembro de 2021 às 21:31

Marques Mendes: Os países ricos estão a falhar duplamente: na solidariedade e na saúde pública

No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre as medidas de combate à pandemia, o estado da vacinação e a reeleição de Rui Rio, entre outros temas.

AS MEDIDAS DE COMBATE À PANDEMIA

 

  1. As medidas anunciadas pelo PM são, sobretudo, quatro: reforço da vacinação; reforço do uso de máscara; reforço da testagem; reforço do controle de fronteiras.

Parecem, globalmente falando, medidas equilibradas, sensatas e razoáveis. E foram bem explicadas. Desta vez o Governo esteve bem: na decisão e na comunicação.

 

  1. Falta apenas saber se no futuro serão suficientes. Uma das grandes dúvidas resulta da nova variante (OMICROM).
  • É uma variante ainda pouco conhecida dos especialistas, mas está a suscitar um pânico generalizado: nas bolsas, nos governantes, nos responsáveis da saúde. Em toda a gente e em todo o lado.
  • Pode não ser uma variante mais letal que todas as outras. Mas há o risco de ser mais contagiosa e transmissível.

 

  1. Há meses que digo que, em termos pandémicos, África é uma bomba-relógio. Os factos aí estão a prová-lo. Esta variante "nasceu" em África. Ora, África é o continente com menor cobertura vacinal. Só 7,2% da sua população tem a vacinação completa. Assim, o risco de surgimento de novas variantes é enorme. Os países ricos e desenvolvidos andam a brincar aos egoísmos nacionais. Se abrissem os cordões à bolsa e fizessem aos países mais pobres e subdesenvolvidos as doações de vacinas que se impõem, nada disto acontecia. Os Países ricos estão a falhar duplamente: na solidariedade e na saúde pública.

 

O ESTADO DA VACINAÇÃO

 

  1. Comecemos com duas boas notícias: a primeira é que o processo relativo à terceira dose está a acelerar (esta semana foram administradas cerca de 330 mil novas doses e o objectivo de 1,6 milhões em 19 de Dezembro está ao alcance); a segunda é que a vacinação de jovens entre os 12 e os 18 anos está em valores especialmente elevados. São já 543 mil jovens, nesta faixa etária, com a vacinação completa (89% dos jovens elegíveis).

 

  1. Falando agora de futuro. Há várias interrogações que estão na cabeça dos portugueses. E há questões que importa esclarecer. Vejamos as essenciais:
  2. Primeira questão: as crianças entre os 5 e os 11 anos vão ser vacinadas? Pelo que apurei, a Comissão Técnica da Vacinação vai recomendar a vacinação. É certo que há divergências entre os pediatras. Uns são a favor. Outros não. Mas CTV e a DGS vão seguir a recomendação internacional da EMA. Os benefícios são maiores que os riscos. Serão abrangidas cerca de 643 mil crianças. Que tomarão uma dose mais pequena que os adultos.
  3. Segunda questão: vai haver terceira dose para adultos abaixo dos 65 anos? É provável. ECDC e CE fizeram recomendação nesse sentido. A Comissão Técnica de Vacinação Nacional ainda não se pronunciou.

Esta fase deverá avançar: depois da terceira dose aos maiores de 65 anos, depois da segunda dose aos vacinados da Janssen e depois da vacinação das crianças.

  1. Terceira questão: quando recebem a terceira dose as pessoas abaixo dos 65 anos com comorbidades e que foram prioritárias na 1ª fase da vacinação?

Ainda não se sabe. A DGS deu prioridade ao factor idade. É o que mais pesa nas hospitalizações e mortes. Mesmo assim, a DGS está a fazer uma reavaliação desta situação. Difícil de compreender que tenha tido prioridade antes e não agora.

  1. Quarta questão: o Certificado Digital Covid só assinala 2 doses. Quando registará a terceira?

Actualmente o Certificado ainda não faz referência à terceira dose. Mas a última data registada de vacinação já é essa, quando existe. Países da UE estão a consensualizar forma de actualizar o Certificado. No entretanto, o Certificado continua válido para viajar.

  1. Quinta questão: as visitas a idosos nos lares são possíveis ou houve mudanças?

As visitas continuam a ser autorizadas. Passou apenas a ser exigível que o visitante tenha teste negativo.

  1. Sexta questão: e as saídas dos idosos dos lares. São possíveis?

Sim. Podem sair, de acordo com a orientação da DGS. Se a saída for inferior a 24 horas, não é preciso nem teste nem quarentena. Se for superior a 24 horas, o teste é necessário.

 

A REELEIÇÃO DE RUI RIO

 

  1. Foi uma grande vitória política e pessoal de Rui Rio. Rio ganhou ao aparelho partidário; e ganhou às expectativas. Pode haver muitas explicações para esta vitória, mas a principal é esta: venceu a lógica do poder. O PSD é um partido pragmático e de poder. Tem um enorme instinto de poder. Vota naquele que em cada momento considera que lhe dá mais garantias de chegar ao poder. Neste plano, os dados favoreciam claramente Rui Rio.
  2. Primeiro: as sondagens. Certas ou erradas, as sondagens diziam que Rio era o preferido dos portugueses como candidato a PM. O melhor posicionado para vencer António Costa. As sondagens, nestes momentos, têm muita força. Os militantes tendem a seguir o sinal que vem dos portugueses. Já foi assim em 2014, na disputa no PS entre Seguro e António Costa. Seguro tinha o aparelho. Costa tinha as sondagens. Ganhou.
  3. Segundo: a eficácia política. Rui Rio foi mais eficaz que Rangel. Conseguiu colocar esta eleição no ponto que mais lhe convinha: tratava-se de escolher o melhor candidato a PM e não o melhor líder da oposição. E goste-se ou não, teve uma mensagem clara. Desde logo, na questão da governabilidade. Se ganhar, governa; se perder viabiliza quem governa. A clareza ajuda. Ou seja: Se não houvesse eleições legislativas á porta, provavelmente Rangel ganharia. É mais visto como líder da oposição. Só que o tempo era outro. As eleições antecipadas favoreceram Rui Rio.
  4. Terceiro: o aparelho partidário. Rio bipolarizou o discurso com habilidade: Rangel representava o aparelho; ele, Rio, representava o país. Colou Rangel à logica do aparelho. Ora, a cultura de aparelho não é popular, nem nas bases do partido nem no país. Ser do aparelho tem uma carga politica negativa.

 

  1. Rui Rio parte agora para as eleições legislativas com um estatuto muito reforçado. Esta vitória não lhe dá só legitimidade: dá-lhe força, confiança e autoridade. É a ideia de que ganha contra tudo e contra todos.
  • Ironia das ironias: se estas directas tivessem sido adiadas, como queria Rui Rio, a sua posição perante António Costa estaria diminuída. Como as directas se fizeram e Rio as ganhou, a sua posição está reforçada. Acresce que, se perdesse as eleições nacionais, sem antes ter feito directas, Rio teria que sair; agora, mesmo que perca em Janeiro, ninguém vai exigir a sua saída. O líder do PSD ganhou em ambos os tabuleiros.

 

O NOVO GOVERNO ALEMÃO

 

  1. Esta semana ficou definitivamente fechado o acordo político entre sociais-democratas, Verdes e Liberais para o novo governo alemão. E, como tudo o que se passa na Alemanha é vital para a UE e para Portugal, vejamos o essencial:
  2. Pastas e responsabilidades
  • Sociais democratas (SPD): vão ter o novo chanceler e as pastas sociais, incluindo a Saúde, que corresponde ao grande desafio do momento, face ao descontrole da pandemia;
  • Os Verdes terão o Ministro Negócios Estrangeiros e ficarão com a responsabilidade da Transição Energética e Climática;
  • Os Liberais (FDP): ocuparão a poderosa pasta das Finanças e terão ainda a seu cargo os dois importantes dossiers da Digitalização e Transportes.
  1. Novidades da Coligação Semáforo:
  • Idade para votar – vai baixar dos 18 para os 16 anos
  • Aumento do SMN- passa de 9,6 para 12 Euros por hora
  • Criação de uma espécie de salário mínimo garantido
  • Grande aposta na digitalização
  • Grande investimento nas energias renováveis (80% em 2030)
  • Fecho das centrais a carvão até 2030
  • Forte impulso na habitação (400 mil novos habitantes)
  • Legalização da Canábis

 

 

  1. Finalmente, um dado estatístico com significado político: na Alemanha a estabilidade é mesmo levada a sério. Só 3 líderes – Konrad Adenauer, Helmut Kohl e Angela Merkel – são responsáveis por 46 anos de governação. Adenauer, 14 anos no poder; Kohl, 16 ; Merkel, outros 16. Que diferença em relação a Portugal. Aqui, nos últimos 46 anos, tivemos 14 PM.

 

O CONGRESSO DO CHEGA

 

  1. Primeira nota: ideias à parte, André Ventura é parecido com António Costa na habilidade para dar a volta a situações difíceis. É o caso do Governo Regional dos Açores: primeiro, Ventura queria derrubar o Governo; depois, foi desautorizado pelo seu deputado regional; agora, promove a Vice Presidente o deputado que o desautorizou para tentar mostrar que está tudo no melhor dos mundos. É a chico-espertice em todo o seu esplendor.

 

  1. Segunda nota: Ventura é o mestre no tacticismo político. Passou a maior parte do Congresso a atacar o PSD. Com uma violência inaudita. Chamou-lhe mesmo uma espécie de PS2. Ou seja: Ventura deseja entender-se e coligar-se com o PSD. No entretanto, transforma-o no bombo da festa e quer encostá-lo à esquerda. É o cúmulo do tacticismo.

 

  1. Terceira nota: André Ventura coloca as expectativas muito altas para a eleição de 30 de Janeiro. Quer ser o terceiro partido. Quer subir para os 15%. É bom que os líderes tenham ambição. Mas a verdade é que o líder do Chega tem um problema: com eleições fortemente bipolarizadas, os extremos normalmente perdem. Não está em causa a subida do Chega. Claro que vai subir. A questão é se vai subir assim tanto quanto as ambições declaradas.
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