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27 de Dezembro de 2020 às 21:18

Marques Mendes: Nas eleições presidenciais, só há um verdadeiro candidato – Marcelo

As habituais notas da semana de Marques Mendes no seu comentário na SIC. O comentador fala sobre o processo de vacinação, as mudanças na ADSE e no salário mínimo nacional, entre outros temas.

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O PROCESSO DE VACINAÇÃO

 

  1. Depois de um ano maldito, temos um fim de ano cheio de esperança. O principio do fim da pandemia. Um momento histórico. Nunca o vamos esquecer. Uma vacina em tempo record só aconteceu por três razões conjuntas:
  • Primeiro, um notável exemplo da ciência e da comunidade científica;
  • Depois, pelo apoio financeiro público, quer da UE quer de vários países que financiaram em grande esta operação;
  • Terceiro, pela inovadora decisão da UE que, fazendo compras em conjunto e para todos os Estados-Membros, permitiu que todos tenham vacinas ao mesmo tempo.

 

  1. No caso português, há riscos que não corremos:
  2. Não há o risco da falta de segurança. As vacinas são seguras. Doutra forma nem seriam autorizadas, nem os profissionais da saúde as tomariam;
  3. Não haverá falta de vacinas, como sucedeu na vacina da gripe. As compras da UE garantem-nos, pelo menos, 22 milhões de doses, o que dá para 11 milhões de portugueses. Mais do que a nossa população..
  4. Não há o risco de discriminações sociais. Todos, ricos e pobres, terão o mesmo tratamento. As vacinas são gratuitas.
  5. Não há o risco de falta de adesão das pessoas. Ainda hoje uma sondagem aponta para 62% dos portugueses que querem ser vacinados e este número está a aumentar com a proximidade da vacina.

 

  1. Mas atenção: nada de euforias. Há uma incerteza no horizonte. Não sabemos quando teremos a totalidade das vacinas Vejamos três quadros:
  2. Primeiro: das 6 vacinas que temos contratadas, só há uma aprovada e outra em vias de aprovação (Pfizer e Moderna); duas em início de avaliação (AstraZeneca/Universidade de Oxford e Curevac); e mais duas que ainda nem sequer estão em avaliação (Janssen e Sanofi/GSK). Este cenário é muito insuficiente para os desafios de vacinação que temos.
  3. Segundo: na primeira e segunda fase da vacinação, está previsto vacinar 3.650 milhões de pessoas. Mas todas as vacinas que vamos ter da Pfizer e da Moderna, mesmo que cheguem com rapidez, só dão para vacinar 3.150 milhões de pessoas. Ou seja, só dão para vacinar cerca de 90% das pessoas previstas para as duas primeiras fases.
  4. Terceiro: para atingirmos a imunidade de grupo, precisamos de, pelo menos, mais duas vacinas: a da AstraZeneca/Universidade de Oxford (porque é aquela que nos fornecerá maior número de doses) e mais uma, que pode ser a da Jansen (tem a vantagem de ser só uma "toma") ou então um reforço das dosas da Moderna, reforço esse que a UE vai assegurar.

 

  1. Em conclusão: esperança, sim; euforia, não. Se não se explicar bem a situação, falando verdade, corre-se o risco de fazer uma má gestão das expectativas, reforçando ansiedades e frustrações na população em geral.

 

MUDANÇAS NA ADSE E NO SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL

 

  1. No plano interno, também duas prendas de nataluma para os trabalhadores da função pública; outra para os trabalhadores do sector privado.

A primeira: O Governo decidiu que os trabalhadores do Estado com contrato individual de trabalho passam a ser também beneficiários da ADSE.

  1. É uma medida justa – Se a ADSE é um "seguro" de saúde dos trabalhadores do Estado, não faz sentido haver trabalhadores de 1ª e de 2ª.
  2. É uma medida necessária para garantir a sustentabilidade da ADSE. Como ainda há um ano realçou o Tribunal de Contas.
  3. Finalmente, não é nenhum favor político. Porquê?
  • A ADSE, hoje, não é do Estado. O Estado não põe um único euro na ADSE. Ela pertence exclusivamente aos seus beneficiários (1 milhão e 200 mil). São eles que a sustentam com os seus descontos.
  • O Estado não só não financia a ADSE como ainda lhe tira receitas. É o Estado que determina quais os beneficiários que ficam isentos. Mas depois não paga essas isenções. Se é política social, o OE é que deve pagar.

 

  1. A outra prenda de Natal é o aumento do salário mínimo. E uma medida correcta, apesar de contestada à direita (Rio foi contra).
  2. Primeiro: é uma medida elementar de justiça social;
  3. Segundo: é uma medida correcta do ponto de vista económico – a competitividade da economia não se pode fazer na base de salários baixos;
  4. Terceiro: não é nenhum PAPÃO que afecta o emprego. Os últimos quatro anos provaram que é possível aumentar o SMN e ao mesmo tempo baixar o desemprego.

 

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

 

  1. Estão prestes a começar os debates entre os vários candidatos. Tenho para mim que os debates não terão um impacto relevante no sentido de voto dos eleitores. Uns vão ter mais audiência que outros (por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa vs Ventura e Marcelo vs Ana Gomes); mas o único que pode ter real influência eleitoral é o debate Ventura/Ana Gomes. Porque os dois estão muito próximos nas sondagens.

 

  1. Por que é que os debates não serão eleitoralmente relevantes? Porque esta eleição é muito atípica. São três eleições dentro da mesma eleição.
  2. Primeiro: temos a eleição do PR. E nesta eleição só há um verdadeiro candidato – Marcelo. A única dúvida é saber se ficará acima ou abaixo dos 60% de votos. Se será muito ou pouco penalizado pela abstenção.
  3. Segundo: temos a eleição sobre a liderança à esquerda. Saber quem à esquerda fica mais bem colocado – Ana Gomes, Marisa Matias ou João Ferreira. É uma disputa que apenas interessa à bolha político-mediática. Nada diz ao povo. Nada acrescenta à política.
  4. Terceiro: temos a eleição para saber quem fica em segundo lugar – Ana Gomes ou André Ventura. Aqui, sim, a questão é importante. Não tanto para Ana Gomes. Se ela fica em 2º lugar tem um vitória simbólica. Esgota-se no dia da eleição. Mas a questão é essencial para Ventura.
  • Ele não está a concorrer para Belém. Ele está a fazer um ensaio para as eleições legislativas. Ele não está a concorrer contra Marcelo. Está a concorrer para crescer e para retirar votos ao PSD.
  • Quanto maior votação tiver Ventura, maior é o estrago no PSD. Porque a maioria dos seus eleitores são do PSD. Se começarem a habituar-se a votar em Ventura e a fidelizar-se no Chega, pior para o PSD. Vai esvaziando o seu eleitorado, como se vê nas sondagens.

 

AS SONDAGENS

 

  1. No último mês foram publicadas, pelo menos, quatro sondagens sobre intenções de voto nos partidos. Fazendo uma média, o PSD fica com 25,6%; e o PS com 37,8%. A esquerda é maioritária em relação à direita.

 

  1. Daqui se podem tirar, pelo menos, duas conclusões:
  2. Primeira: abrir uma crise e ter eleições antecipadas não serviria para nada nem beneficiaria ninguém. O PS continuava a ganhar, mas sem chegar à maioria absoluta. O PSD continuava a perder.
  3. Segunda: ao fim de 5 anos de oposição ainda não há alternativa. Um problema sério. Desde logo para o PSD. Com resultados abaixo de 30% ou até nos 30% nunca o PSD conseguirá ganhar eleições. A seguir, para a direita em geral – todos somados, os partidos à direita do PS não ultrapassam os 37% da PAF de Passos Coelho e Portas de 2015. Ora, não é possível formar governo com menos de 44% dos votos.

 

  1. Em conclusão: como diz o ditado popular, tudo como dantes, quartel-general em Abrantes.

 

O BREXIT

 

  1. Acordo na 25ª hora. Uma excelente prenda de Natal.
  2. Excelente notícia para a presidência alemã da UE. A Alemanha termina a sua presidência em grande. Resolveu todos os dossiers difíceis.
  3. Excelente notícia para a presidência portuguesa. Se este acordo não tivesse sido feito agora, o pesadelo do Brexit caía na nossa presidência.
  4. Excelente para a UE. O Brexit foi mau. Tornou a UE mais fraca. Este acordo torna o Brexit menos mau. Não deixa de ser um divórcio mas é um divórcio amigável entre UE e RU. Deixam de ser casados mas continuam parceiros e amigos.
  5. Excelente para o RU. Uma coisa é querer sair da UE. Outra coisa é estar de costas voltadas para a UE. Com este acordo, o RU evitou o caos e o isolamento da sua economia.

 

  1. À finalização deste acordo não será estranha a influência da nova atmosfera política vinda dos EUA. Biden quer reforçar a sua relação com a UE. Neste quadro, não fazia sentido que o RU – o maior aliado dos EUA – fizesse o contrário, afastando-se da UE. Tudo acabou em bem.

 

BALANÇO DO ANO

 

Eu propus no passado domingo. Os telespectadores votaram durante a semana. Os resultados aí estão.

 

  • FIGURA NACIONAL DO ANOOs profissionais de Saúde. Faz todo o sentido. Foram e continuam a ser os grandes heróis no combate à pandemia no terreno.

 

  • FIGURA INTERNACIONAL DO ANOUrsula von der Leyen. É uma certa surpresa. Muitos esperariam que a escolha fosse Joe Biden. Mas compreende-se a decisão: este foi o ano da grande afirmação da Presidente da CE. Desde logo com o processo de vacinação que hoje começou. Ela foi a grande obreira desta empreitada.

 

  • ACONTECIMENTO NACIONAL DO ANOA pandemia da Covid 19. Uma decisão previsível e incontornável. Vai ser, provavelmente, o grande caso da década e sabe-se lá se também não deste século.

 

  • FIGURA DO DESPORTO DO ANOJoão Almeida, o ciclista português que fez furor na volta à Itália em bicicleta. O seu feito teve uma consequência: relegou Miguel Oliveira para o segundo lugar.
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