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Luís Marques Mendes 06 de Agosto de 2023 às 21:16

Marques Mendes: Governo e PSD querem reduzir impostos

No seu habitual espaço de opinião na SIC, o comentador Marques Mendes faz o balanço da JMJ e fala sobre o desafios do ano político, inflação e economia, entre outros temas.

JMJ – O BALANÇO

 

  1. Esta JMJ foi um grande sucesso. Ultrapassou todas as expectativas. E vai fazer história. Era a primeira grande manifestação popular da Igreja Católica depois da pandemia e da desgastante polémica dos abusos. Precisava de correr muito bem. E correu.
  • Foi um sucesso para Portugal. Organização exemplar. Imagem de prestígio. Durante uma semana fomos o País do multiculturalismo.
  • Foi um sucesso para a Igreja. Depois de anos de dificuldades sérias, a Igreja deu uma imagem de força e unidade, mas também de humildade e vontade de reconciliação consigo própria e com a sociedade.
  • Foi um sucesso para os fiéis e católicos. Viveram uma grande jornada de fé. Impressionante, genuína e contagiante.
  • Mas foi um sucesso também para os não católicos e não crentes. Não foram "tocados" pela fé, mas foram "tocados" pela mensagem de confiança e esperança que saiu desta JMJ. Ninguém ficou indiferente.

 

  1. O grande sucesso, porém, é dos jovens. Com três contributos inestimáveis:
  • Primeiro, para o fortalecimento da imagem da Igreja no mundo. Só a energia dos jovens era capaz de construir este movimento. A energia dos jovens e a sua empatia com o Papa.
  • Depois, no plano dos valores. Num tempo em que escasseiam as referências e valores, os jovens, para além da sua fé, afirmaram uma cultura de valores: os valores da fraternidade, da tolerância, da solidariedade, da paz e do multiculturalismo.
  • Finalmente, na atitude: os jovens não afirmaram apenas a sua fé interior. Eles ajudaram também a semear a confiança e a esperança na sociedade, sobretudo neste tempo de tanta descrença e incerteza.

 

O PAPA ADMIRADO POR TODOS

 

  1. O Papa Francisco é um caso invulgar na Igreja Contemporânea: primeiro, porque tem um carisma fortíssimo. É dos Papas mais carismáticos que a Igreja já teve. Depois, porque é um Papa admirado por todos: católicos e não católicos, crentes e não crentes. Isto não é normal. Mas é uma enorme mais-valia para a Igreja.
  • Donde vem esse carisma e essa admiração geral? Da conjugação de quatro características singulares: bondade, proximidade, simplicidade e coragem. Em certa medida, o Papa Francisco é um misto de João Paulo II e João XXIII. De João Paulo II, Francisco herdou a bondade e a proximidade com as pessoas. De João XXIII, o Papa que nos anos 60 revolucionou a Igreja, Francisco herdou a simplicidade e a coragem.
  • E a coragem faz a diferença. O Papa diz as verdades todas com um sorriso e uma bondade absolutamente desarmantes.

 

  1. Tudo isto o Papa mostrou em Portugal. Com alguns destaques especiais:
  • O discurso de maior coragem foi feito no CCB. Aí o Papa falou como líder religioso e líder universal. Desafiando os políticos, desafiando a Europa e desafiando a própria Igreja, para se tornar mais aberta e inclusiva.
  • Os momentos mais emotivos foram todos eles. A verdade é que de dia para dia cresceu a mobilização, a emoção e o entusiasmo. As pessoas ficaram contagiadas. Este último dia, como se esperava, foi "arrasador".
  • A frase mais marcante foi proferida no Parque Eduardo VII. "Na Igreja há espaço para todos. Todos. Todos. Todos. Ninguém está a mais. Ninguém fica de fora". Esta frase é, toda ela, uma doutrina.
  • Os gestos mais simbólicos: o encontro com as vítimas de abusos sexuais. Um gesto de amor e reconciliação. E a visita ao Bairro da Serafina, o mais pobre de Lisboa. É o Papa das periferias em toda a sua coerência.
  • A mensagem mais inesperada: "Esta é a juventude do Papa". O grito dos jovens que simboliza bem a força do carisma deste Papa.

 

O ESTADO DA JUVENTUDE

 

  1. No fim de semana em que os jovens foram os grandes protagonistas, faz todo o sentido fazer um raio-X ao estado da juventude em Portugal. Em especial, saber como estamos em matéria de qualificações, emprego e salários. Há vários dados muito impressivos.

 

  1. Vejamos os essenciais:
  • Temos hoje a geração jovem mais qualificada de sempre. Com qualificações que ultrapassam mesmo a média da UE. Cerca de 90% dos nossos jovens têm o ensino secundário, contra 84% na média da UE. E há 28% de jovens com o ensino superior, contra apenas 19% na UE. É um resultado muito motivador.
  • No desemprego, a situação já não é tão boa. A taxa de desemprego jovem é de 17,2%. Quase o triplo da taxa de desemprego geral no país (6,4%) e acima da taxa de desemprego jovem na UE (14%).
  • A precariedade do emprego é outro problema sério. Cerca de 57% dos contratos celebrados com jovens entre os 15 e os 24 anos, são contratos temporários. Contra 14%, na faixa etária dos 25 aos 64 anos.
  • O nosso maior drama, porém, é nos salários. A geração mais qualificada de sempre é a geração dos mil euros. Os salários dos jovens portugueses são os segundos mais baixos de na UE. Com uma média salarial de apenas 1.054€. Na UE, pior do que nós, só mesmo a Grécia. Por isso é que nos confrontamos com a forte emigração de jovens licenciados. Este é o grande desafio nacional: baixar impostos para ajudar a subir salários e investir em maior crescimento da economia.

 

DESAFIOS DO ANO POLÍTICO

 

  1. A partir de agora, a classe política está de férias. Uma oportunidade para refletir também naqueles que são os principais desafios do novo ano. Vai ser um ano político altamente desafiante. Com opções absolutamente decisivas para o futuro. Basta pensar num exemplo: é neste próximo ano politico que se tem a certeza se a legislatura vai mesmo até ao fim.

 

  1. Antecipo quatro desafios principais:
  2. Primeiro: o OE para 2024. Vai ser dominado pela parte fiscal. Governo e PSD querem reduzir impostos. O PSD antecipa já no Pontal, a 14 de agosto, a sua proposta. A prioridade será a redução do IRS. O Governo avançará em setembro com a sua. O enfoque será na classe média. Espera-se um bom debate.
  3. Segundo: a remodelação. Vai acontecer, só não se sabe é quando. Pode ser no fim de 2023 ou em 2024. Maior expectativa sobre quem sai, é sobretudo sobre quem entra. Haverá ainda capacidade de recrutamento no exterior e de atração dos mais capazes e prestigiados?
  4. Terceiro: eleições europeias. São eleições vitais para PSD e PS. Luís Montenegro precisa de vencer para reforçar a liderança. António Costa precisa de ganhar para evitar degradação e instabilidade. O grande problema do PSD é o Chega. O grande problema do PS é o desgaste do governo e o risco de "cartão amarelo".
  5. Quarto: eleições antecipadas. Se o PM sair para a UE, haverá eleições antecipadas. Muitos, incluindo socialistas, acham que o PM sairá mesmo. Outros não acham provável, por dar origem a uma crise política. É o meu caso. Mas basta aguardar. Em julho de 2024 haverá decisão final.

 

 INFLAÇÃO E ECONOMIA

 

  1. Entretanto, enquanto decorria a JMJ, as entidades estatísticas mostravam-nos o estado do crescimento da economia e da inflação. Não demos grande atenção. Mas é importante conhecer a realidade. Há boas notícias, e noticias que suscitam alguma apreensão.

 

  1. Vejamos, caso a caso:
  • Inflação: a tendência é muito positiva. A inflação caiu mais de 5pp desde janeiro. No início do ano estava em 8,4%. Agora, está em 3,1%. Bem melhor que a média da zona Euro (5,3%). E é importante que mantenha esta tendência de descida. A inflação é o imposto escondido mais injusto de todos. Sobretudo para os mais pobres.
  • Evolução do PIB: depois de uma "arrancada" forte no 1º trimestre do ano, o PIB nacional estagnou neste 2º trimestre. Mesmo assim, no crescimento homólogo – comparando com 2022 – continuamos melhor que a generalidade dos países europeus. Há, porém, alguns sinais de preocupação no horizonte, a que não é alheio o baixo crescimento na EU e, muito especialmente, a "doença" que atinge a economia alemã.
  • Economia alemã: o motor da economia europeia. A economia alemã está há cinco trimestres estagnadas. É mesmo, entre as grandes economias mundiais, a que tem neste momento a economia mais doente. O FMI prevê mesmo que seja a única das maiores economias do mundo a ter crescimento negativo em 2023. Taxas de juro altas, preços de energia elevados e problemas com a sua indústria exportadora explicam a situação, que pode contaminar a UE e Portugal.


A classe política está de férias. Pode refletir sobre os principais desafios do novo ano.

 

O PSD antecipa já no Pontal, a 14 de agosto, a sua proposta. A prioridade será a redução do IRS.
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