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17 de Março de 2019 às 20:55

Notas da semana de Marques Mendes

As notas da semana de Marques Mendes no seu comentário na SIC. O comentador fala sobre as eleições europeias que se aproximam, as guerras entre Bloco de Esquerda e Governo, o futuro de Tomás Correia, entre outros assuntos.

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MUDANÇAS NOS PASSES SOCIAIS

 

  1. O que vai acontecer nos passes sociais na Grande Lisboa e no Grande Porto, a partir de Abril, é uma autêntica "revolução".
  • São poupanças enormes para os utilizadores dos transportes;
  • São milhares de famílias a melhorar os seus rendimentos;
  • É um impacto económico e social brutal (importa ver alguns exemplos práticos para melhor se perceber a "revolução" que vai ocorrer).
Esta mudança é justa e vai na direcção certa – incentivar o uso do transporte público. Mas suscita três problemas:
  1. Primeiro: a qualidade dos transportes. Provavelmente vamos ter mais pessoas a usar o transporte público. E a pergunta que se impõe é esta: temos transportes suficientes para colocar à disposição dos cidadãos, em quantidade e, sobretudo, em qualidade?
  1. Segundo: se esta medida fosse tomada em 2020, a seguir às eleições, nada a opor. Agora, tomar uma medida deste impacto brutal a 3 meses de eleições europeias e a 6 meses de legislativas, é de um eleitoralismo sem limites. Não conheço, nos últimos 10, 15, 20 anos, medida tão eleitoralista quanto esta. Em matéria de eleitoralismo, comparado com isto, dezenas e dezenas de inaugurações são uma completa brincadeira.
  2. Terceiro: a injustiça com o interior do país. Esta decisão beneficia apenas os grandes centros urbanos. Importa, por isso, perguntar:
  • E as regiões do país, sobretudo do interior, que nem sequer transportes públicos têm? Como são compensadas?
  • E o interior do país onde fecham serviços públicos, escolas e centros de saúde? Para esses não há dinheiro nem compensação?
  • E o interior do país que precisa de incentivos para a instalação de empresas e para a criação de empregos? Ficam "a ver navios"?
  • A sensação que fica é que quem tem votos tem poder. Logo, tem dinheiro. Portanto, temos Lisboa e Porto e o resto é paisagem.

O ROTEIRO DA SAÚDE

 

  1. António Costa fez o seu roteiro sobre a saúde para mostrar a obra feita. Assunção Cristas fez o seu contra-roteiro para mostrar o que está mal. Tudo bem. Ambos estão em campanha eleitoral.
  2. Deixando agora de lado a luta política, a verdade é que há hoje um problema sério no SNS: falta de investimento. Sobretudo falta de investimento em pessoal – em médicos, enfermeiros e outros técnicos de saúde. Um problema que está a ter consequências sérias:
  3. Primeiro: são tempos de espera anormalmente elevados para os doentes;
  4. Segundo: é um esforço desumano para médicos e enfermeiros;
  5. Terceiro: é uma falta de motivação dos profissionais de saúde.

 

Oito anos seguidos de austeridade no SNS é tempo de mais. E se a troika era uma imposição externa, o que se passa agora já não se compreende. Mário Centeno, com a sua política de cativações, está a matar o SNS. E, matando o SNS, mata duas coisas muito importantes:
  • Mata a realização mais importante da nossa democracia – o SNS;
  • Mata um dos dois instrumentos mais decisivos para combater as desigualdades sociais – a saúde pública. O outro é a escola pública.
  • Passadas as eleições, convinha que o Governo e partidos pensassem a sério nesta situação.

 

A GUERRA BE/GOVERNO

 

  1. Ao comparar António Costa a Passos Coelho, em matéria de banca, o BE desferiu um ataque brutal ao Governo e ao PS. Duas conclusões:
  2. Primeira conclusão: o Bloco e o PCP são aliados de conveniência. No que o Governo faz de positivo eles são aliados. No que o Governo tem de menos favorável eles são adversários. É uma aliança "à la carte".
  3. Segunda conclusão: o Bloco está em desespero com os resultados das sondagens. É que só o desespero explica este ataque brutal do Bloco ao Governo. E a verdade é que as sondagens últimas não são brilhantes para o Bloco. Geram-lhe algum sentimento de desespero.

 O mais importante, porém, é o futuro. Declarações como esta só provam o que tenho dito e que alguns ainda têm dificuldade em acreditar:

  • Primeiro: António Costa nunca fará Governo com o BE a seguir às legislativas deste ano. Nunca. Nem pensar. Quem pensar nessa hipótese, o melhor e "tirar o cavalinho da chuva". Basta conhecer António Costa para perceber que assim será.
  • Segundo: o Bloco bem pode "oferecer-se" para ir para o Governo. O problema é que o PM não os leva. A porta do Governo está fechada para o Bloco nos próximos anos.
  • Terceiro: o PM mais depressa levava para o Governo o PCP que o BE. O PCP é que seguramente não deseja ir. E porquê? Porque António Costa considera que o PCP é um partido confiável e o Bloco não. 

 

ELEIÇÕES EUROPEIAS

 

  1. O PSD apresentou finalmente a sua lista. É uma boa lista. Tem novidade e renovação (a número dois da lista, Lídia Pereira, foi uma boa surpresa); tem continuidade justificada (José Manuel Fernandes e Carlos Coelho são dois deputados competentíssimos no Parlamento Europeu); tem paridade entre homens e mulheres, o que é um excelente princípio.
  • Há apenas um erro – a exclusão dos Açores de um lugar elegível. Mais do que a quebra da tradição é a enorme fragilização do PSD/Açores, com consequências previsíveis nos resultados das Europeias e das Legislativas. Não havia necessidade desta quebra de solidariedade partidária e insular.

 

  1. Esta pré-campanha está muito fulanizada e muito centrada nos ataques a Pedro Marques, o cabeça de lista do PS. Há que dizer três coisas:
  • Primeiro: era inevitável que isso sucedesse. Pedro Marques foi um Ministro muito frágil. Tudo seria diferente se, por exemplo, o cabeça de lista tivesse sido Maria Manuel Leitão Marques. O prestígio é outro.
  • Segundo: PSD e CDS, porém, devem ter algo em atenção: enquanto atacam Pedro Marques, deixam António Costa à solta. E o grande trunfo eleitoral da campanha socialista não é nenhum candidato da lista do PS. É o próprio Primeiro-Ministro.
  • Terceiro: estas eleições europeias vão ser umas primárias das legislativas. António Costa governamentalizou estas eleições. Pela lista que fez, pelos temas que apresenta e pelo envolvimento pessoal que decidiu ter nesta campanha.

 

O FUTURO DE TOMÁS CORREIA

 

  1. O Governo cumpriu o que tinha prometido – clarificar a lei sobre as Associações Mutualistas, no que respeita aos poderes de regulação. O Presidente promulgou na hora. Ambos, Governo e Presidente, estiveram bem.

 

  1. Agora, o Regulador vai decidir sobre a idoneidade de Tomás Correia e dos demais gestores da Associação Mutualista Montepio. Chegados ao ponto a que chegámos, espera-se e deseja-se uma coisa: que a decisão, seja ela qual for, seja rápida. Todo este processo já se arrasta há tempo de mais.

 

  1. Entretanto, Vítor Melícias disse: "Não é um secretariozeco ou um qualquer ministro que vai afastar uns órgãos sociais democraticamente eleitos".
  2. Primeiro: não há em Portugal "secretariozecos". Há Secretários de Estado. Tal como não há padrecos. Há padres. Convinha, portanto, ter uma linguagem mais digna e menos de taberna.
  3. Segundo: quem pode afastar pessoas democraticamente eleitas não é um Secretário de Estado ou Ministro. É a lei. E ninguém em Portugal está acima da lei. No Montepio ou fora dele.

 

  1. Há uma semana eu disse que se o Banco pagar a coima de que Tomás Correia foi condenado pelo BP será uma fraude. E reafirmo. Se for o Banco a pagar é mesmo uma fraude. A condenação, neste caso, é pessoal e não da instituição.
  • No entretanto, Tomás Correia diz, em entrevista ao DN/TSF que esse pagamento, a existir, está coberto pelo seguro que têm os administradores bancários. Só que o Presidente do CA do Banco, Carlos Tavares, diz o contrário. Diz que o seguro não cobre esse pagamento.
  • Por isso, à cautela, Tomás Correia, incluiu em acta da AG do Banco a seguinte deliberação: o Banco será responsável pelo pagamento de custos relacionados com "documentos emitidos por entidades oficiais" (sic). Como uma coima do BP resulta de um documento emitido por entidade oficial (BP), aqui está a tentativa de fraude. É a escola de Ricardo Salgado.

 

O BREXIT

 

  1. Em função da semana que passou, constatam-se duas coisas: o RU sabe o que não quer; mas não sabe o que quer.
  • Não quer este acordo. Não quer um segundo referendo. Não quer uma saída sem acordo. Foi o que resultou das votações.
  • Mas não sabe ainda o que quer. Muito menos se vai sair e quando vai sair da UE.

 

  1. Expectativas para a próxima semana:
  • Primeiro: saber se os radicais do Brexit votam o Acordo na 3ª feira, última votação. Na linha do mal menoré melhor um mau Brexit que não haver Brexit nenhum. Só que, para isso, é preciso que 75 deputados mudem o seu voto.
  • Segundo: se o Acordo chumbar 3ª vez, as atenções recaem na Cimeira Europeia. O que vai ser decidido sobre a extensão do prazo?

 

  1. Em conclusão, à custa do Brexit, temos o RU e a UE praticamente paralisados há 3 anos. Um absurdo!

 

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