Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre o veto do Presidente da República, as mensagens de Natal deixadas por António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa e faz previsões para 2019.
VETO DE MARCELO
- Primeira questão – A decisão do PR. Marcelo fez o que era óbvio e evidente. A partir do momento em que o OE para 2019 impunha ao Governo a obrigação de negociar com os sindicatos, o PR não tinha alternativa. Tinha que vetar. Se promulgasse estaria a afrontar o Parlamento. Não podia ser.
- Segunda questão – A derrota do Governo. Esta decisão é uma derrota séria do Governo. E é uma derrota porque o Governo analisou mal. Pensou que o PR era um notário do Governo. E não é. Marcelo até pode apoiar o Governo em muitas matérias, mas não é nem um notário nem um avalista do Governo.
- Terceira questão – O jogo político-eleitoral. Infelizmente, esta questão está transformada num jogo político-eleitoral. Os professores estão a ser usados e a ser as grandes vítimas deste jogo.
A verdade é esta: os partidos, em particular o PCP e o BE, não querem encerrar este assunto. Querem que esta guerra Governo/professores se mantenha em aberto até às eleições. Porque acham que desta maneira desgastam o Governo, fazem-lhe a vida negra e captam o voto dos professores descontentes.
- Quarta questão – E, agora, que solução? Eu acho que vamos ter uma de duas hipóteses: ou há acordo ou volta o D. Lei agora vetado.
- Uma hipótese, que seria a ideal – Governo e sindicatos negoceiam e cedem nas suas posições iniciais. O Governo já aceitou reconhecer 2 anos de serviço. Tem de aceitar ir mais longe. Os sindicatos pedem 9 anos. Têm de ceder alguma coisa. Entre os 8 e os 80, há os 40, 50 ou 60.
- Ou, então, segunda hipótese – Governo e sindicatos mantêm o seu radicalismo, não cedem nas suas posições iniciais, faz-se um diálogo de surdos e não há acordo. Nessa altura, o Governo repete o DL agora vetado e nessa altura o PR tem de promulgar.
- Última questão, um "berbicacho" – tudo isto pode ser inconstitucional.
- Estamos a caminho de ter, para o mesmo problema, três soluções – uma solução no Continente, outra na Madeira, uma terceira nos Açores. Um país, três soluções. Ora, isto é seguramente inconstitucional. Pode violar o princípio da igualdade. Pode provocar discriminações. É ter professores de primeira, de segunda e de terceira categoria.
- Claro que as Regiões Autónomas podem ter soluções legislativas diferentes do Continente. Mas só quando há diferenças face à insularidade. Não é o caso. Há anos, também o congelamento foi igual para todo o país. Também agora o descongelamento deveria ser igual para todos. Doutra forma tudo pode ser inconstitucional.
MENSAGENS DE NATAL DE PR E PM
- Mensagem de Natal do PM
- Primeiro: foi um verdadeiro discurso de campanha eleitoral. Eu diria mesmo que este vai ser o guião para o discurso eleitoral do PS.
- Segundo: foi um discurso moderado e ao centro. Não tem esquerdismos, radicalismos, aventureirismos. É a prova provada que António Costa pensa obter votos no centro-esquerda mas também no centro-direita.
- Terceiro: é um discurso mais humilde do que é habitual em António Costa. Está traduzido numa frase lapidar: fizemos muito, mas ainda há muito que fazer. António Costa andava a ser acusado de ser muito arrogante. É um dos seus calcanhares de Aquiles. Como o PM é um pragmático, corrigiu o tiro.
- Marcelo deixou ao país uma mensagem de Natal através de um artigo de opinião no JN.
- Foi um texto mais social que político. A mensagem política será a do Ano Novo. No fundo, são as preocupações do PR com a pobreza, com os sem-abrigo, com as desigualdades sociais, com os excluídos da sociedade. É um dos lados em que Marcelo é mais militante e mais genuíno.
- Entretanto, falando ao DN, o PR deixou em aberto a questão da recandidatura.
- A convicção que tenho é de que Marcelo já tem tudo decidido. Só não quer dar qualquer sinal da sua recandidatura para não interferir nas eleições legislativas do próximo ano. Dentro da teoria dos equilíbrios, segundo a qual os portugueses não põem os ovos todos no mesmo cesto, a garantia de um segundo mandato de um Presidente de centro-direita poderia favorecer a eleição de um PM de centro-esquerda. Daí o tabu.
AS PRISÕES DE VARA E DUARTE LIMA
- Em princípio, já no mês de Janeiro, Armando Vara e Duarte Lima vão começar a cumprir as penas de prisão a que já foram condenados há alguns anos. Acabaram os recursos e reclamações. Segue-se o cumprimento das penas.
- Não me pronuncio sobre as condenações de um e de outro. Isso é matéria dos tribunais. Mas, perante a opinião pública, estas são duas notícias importantes.
- Tradicionalmente, a opinião pública acha que os políticos, os influentes e os poderosos se safam sempre à justiça. Que só a arraia miúda acaba a cumprir a pena de prisão. Que há uma justiça para ricos e poderosos e uma outra justiça para pobres e necessitados.
- Como se vê, começa a não ser assim. Afinal, duas pessoas que foram altamente influentes nos seus partidos – um no PS e outro no PSD – são tratadas de forma igual a qualquer outro cidadão. São investigados, são condenados e acabam a cumprir pena de prisão.
- Esta mudança de paradigma é muito positiva. Não que se pretenda condenar políticos só porque são políticos. Mas porque é muito importante que haja confiança na justiça. E a melhor prova de confiança na justiça é perceber que ela é igual para todos. Que, em matéria de justiça, não há filhos e enteados, portugueses de primeira e portugueses de segunda.
PREVISÕES PARA 2019
A ECONOMIA VAI ABRANDAR?
- Vai abrandar a economia mundial, a economia europeia e, por arrastamento, a economia portuguesa. As grandes razões são: incerteza e instabilidade. O ano de 2019 está cheio de pontos de interrogação e os investidores odeiam pontos de interrogação. Vejamos os principais:
- Os tweets de Trump – criam instabilidade;
- Os movimentos populistas na Europa e fora dela – geram incerteza;
- As guerras comerciais – perturbam o crescimento;
- As dúvidas sobre o estado da Europa, face à situação da Alemanha e de França – fazem retrair os investidores;
- O Brexit – pode ser uma aventura;
- A subida dos juros nos EUA e o fim da política de compra de dívida do BCE – não ajudam ao crescimento.
- Com tudo isto, é óbvio que a economia portuguesa também vai abrandar. O BP, a Comissão Europeia e o FMI já falam num crescimento abaixo de 2% do PIB (1,8%). São más notícias para Portugal.
- Este arrefecimento pode não ter ainda, em 2019, reflexo no bolso dos portugueses. Mas é uma má notícia para o Governo.
- Até agora, o Governo tem beneficiado de notícias de revisões em alta. A partir de agora será o contrário. A maioria das notícias será de revisão em baixa. Esta inversão de expectativas agrava a atmosfera política.
VAI HAVER ALÍVIO FISCAL EM 2019?
- Não vai haver alívio fiscal no IRS Mas os portugueses vão ter a sensação de que sim, de que haverá alívio. Expliquemos:
- Não vai haver alívio fiscal porque no OE para 2019 não houve qualquer mudança especial no IRS. Nem sequer os escalões foram actualizados de acordo com a inflacção.
- Mas os portugueses vão ter a sensação de alívio por causa dos reembolsos maiores que vão receber relativos ao IRS de 2018.
- Este ano, 2018, o Governo fez um truque: por causa das tabelas de retenção na fonte, a maioria dos portugueses esteve este ano a pagar de IRS mais do que devia. Fez mais descontos do que devia ter feito.
- Em consequência, agora, em 2019, no acerto final de contas, vão receber de reembolsos relativos a 2018 mais do que imaginavam receber. Isto dá uma sensação de alívio fiscal. Mas não é. É apenas a correcção resultante de terem ao longo do ano descontado mais do que deviam.
VAMOS TER DÉFICE ZERO?
- Este ano – 2018 – o défice já deverá ficar abaixo da meta de 0,7% do PIB prevista pelo Governo. Deverá ficar entre 0,2% e 0,5% do PIB. Ou seja, quase zero.
- Em 2019, teremos seguramente um défice zero ou mesmo um excedente orçamental. O que será um resultado histórico em democracia. Nunca sucedeu depois de 1974.
- Isto é muito importante para o país. Menos défice é menos dívida. E a dívida é o nosso grande calcanhar de Aquiles. Vejamos:
- Nestes últimos três anos do Governo – 2015 a 2018 – a dívida em percentagem do PIB baixou porque o PIB cresceu.
- Mas, em valor absoluto, a dívida subiu cerca de 13 mil milhões de euros (de 231 para cerca de 244 mil milhões).
E é também importante para Mário Centeno e para o Governo.
Centeno, que corre em pista própria, quer sair do Governo fazendo história – e ficando com o seu nome na história.
Costa quer usar o défice como arma eleitoral, para captar votos no centro-direita (apresentar-se como o homem das contas certas).
QUEM VAI GANHAR AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS?
- Em face de todas as sondagens, o mais provável vencedor é o PS. Mesmo nas sondagens em que está a baixar, o seu adversário directo – o PSD – ainda baixa mais que o PS. É o caso da sondagem da Aximage de Dezembro – o PS baixa 0,8% mas o PSD baixa mais do dobro do PS (1,7%).
- Com os dados actuais, a dúvida que existe é a maioria absoluta. O PS fará tudo para a ter. A verdade, porém, é que já esteve mais perto de a obter.
- A favor da maioria absoluta, o PS tem duas coisas: o valor da estabilidade – as pessoas valorizam a ideia de estabilidade; e o estado do principal partido da oposição, que está longe de ser brilhante.
- Contra a maioria absoluta, o PS tem também três factores: o medo que as pessoas têm das arrogâncias típicas das maiorias absolutas; o arrefecimento da economia, que faz baixar as expectativas positivas; e, finalmente, a oposição do PR e de todos os partidos. Nenhum quer uma maioria absoluta.
O POPULISMO CRESCE NAS ELEIÇÕES EUTOPEIAS?
- Infelizmente, é o mais provável. É certo que o populismo não é um exclusivo na Europa. Basta pensar no populismo instalado nos EUA e no populismo que venceu no Mas a verdade é que tem um grande peso na Europa.
- Nas próximas eleições europeias vamos ter três mudanças importantes:
- Primeira: vão crescer muito os populismos de extrema-direita. Em países grandes como a França, a Itália e a Alemanha. Mas também em países de média e pequena dimensão como a Áustria, a Bélgica, a Holanda, a Hungria ou os países nórdicos.
- Segunda: o centro-esquerda (socialista) e o centro-direita (PPE) vão perder posições. Pela primeira vez, os dois principais partidos europeus vão provavelmente deixar de ter a maioria dos lugares no Parlamento Europeu.
- Terceira: a dialéctica política vai mudar. Até agora o debate político na Europa era entre a esquerda e a direita. No futuro, a dialéctica política vai ser entre forças pró-europeias e forças nacionalistas e anti-europeias. Esta vai ser a grande novidade das eleições europeias.
Esta mudança vai ter consequências: primeira, e mais importante, perde força o ideal europeu; segunda, vai ser uma dor de cabeça para escolher o novo Presidente da Comissão Europeia.
VAI MESMO HAVER BREXIT?
- O mais provável é que sim. A dúvida é se temos um Brexit controlado ou descontrolado, com acordo ou sem acordo. A diferença é enorme – com acordo, o Brexit terá um impacto menor na Europa e no RU; sem acordo, o Brexit pode ser mau para a Europa e uma catástrofe para o RU.
- Para além destas duas hipóteses, ainda são possíveis dois outros cenários: um novo referendo e o adiamento da saída do RU da União Europeia.
- As duas únicas certezas, suceda o que suceder, são estas: primeiro, este vai ser um dos grandes acontecimentos do ano; segundo, nada do que suceder será bom para o RU, para a Europa e para a economia europeia.
QUEM VENCERÁ A LIGA DAS NAÇÕES?
- Primeiro: é prestigiante que a Liga das Nações tenha sido inventada por um português – Tiago Craveiro, homem forte da FPF. Prova da influência do dirigismo português além-fronteiras.
- Segundo: é prestigiante que a fase final da primeira edição da Liga das Nações se realize em Portugal. Prova de que o futebol português vai na boa direcção.
- Terceiro: Portugal tem boas hipóteses de vencer a competição:
- Está a jogar bom futebol;
- Os adversários são fortes mas não são inultrapassáveis;
- Cristiano Ronaldo já estará disponível nessa fase;
- Ter o apoio do público português é uma vantagem incontornável.