Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre a Selecção no Mundial; a crise no Sporting, Pedrógão, a ruptura nos hospitais e a visita de Costa a Angola, entre outros temas.
A SELECÇÃO NO MUNDIAL
- Foi o que se chama "entrar com o pé direito".
- Não tanto pela exibição, que foi mediana.
- Nem sequer pela produção colectiva, que deixou muito a desejar. Afinal, a equipa portuguesa esteve bem abaixo das expectativas.
- Mas foi, sobretudo, o show Ronaldo. Desta vez bem pode dizer-se que Portugal foi Ronaldo + 10. Afinal, Cristiano Ronaldo jogou, fez jogar, marcou e mandou no jogo. Fez a diferença. Foi um verdadeiro líder.
- Mas o que mais me impressionou, para além da qualidade do seu jogo, foi a atitude de Ronaldo. A sua determinação. Já não era apenas um exercício de profissionalismo. Era também a manifestação de um sentimento nacional e patriótico e uma grande vontade de ganhar o Mundial, o único título que lhe falta.
- É caso para dizer, como Bruno Vieira Amaral, que graças a Ronaldo vivemos acima das nossas possibilidades futebolísticas.
- E assim tivemos um empate com sabor a vitória que nos abre excelentes perspectivas para o jogo de 4ª feira. É que empatar com a Espanha – num jogo épico como este – reforça a motivação da Selecção. Espera-se agora com Marrocos um bom jogo e uma boa vitória. Com esta curiosidade:
- A assistir ao jogo em Moscovo vão estar dois portugueses ilustres: Marcelo Rebelo de Sousa e António Guterres.
- E, segunda curiosidade, ambos – PR e Secretário-Geral da ONU – vão ser recebidos no Kremlin pelo Presidente Russo, Vladimir Putin.
A CRISE NO SPORTING
- No quadro do PREC que está a suceder no Sporting, esta foi a semana mais negra para Bruno de Carvalho. Perdeu em toda a linha:
a) Perdeu em tribunal de forma clamorosa – duas providências cautelares;
b) Perdeu no plano desportivo e financeiro – mais rescisões de contratos;
c) Perdeu porque foi suspenso pela nova Comissão de Fiscalização;
d) Perdeu porque já não é Presidente da Direcção.
e) E se perder a votação na AG do dia 23 então é o seu fim definitivo.
- Aqui chegados, a questão é: mas será que tudo acaba com a próxima AG? Eu diria que NÃO, porque tudo vai acabar nos tribunais:
a) Bruno de Carvalho há-de recorrer aos tribunais das decisões de Marta Soares e da AG do dia 23, se esta lhe for desfavorável;
b) Marta Soares há-de recorrer aos tribunais se Bruno de Carvalho não respeitar as suas decisões;
c) As rescisões de contratos provavelmente acabam nos tribunais.
d) E, seguramente, hão-de acabar também em tribunal Bruno de Carvalho e os seus colegas do Conselho Directivo, porque serão certamente responsabilizados em processos crime e de indemnização pelos prejuízos que causaram ao clube.
- Finalmente, há uma lição a retirar: como disse há dias Miguel Sousa Tavares, estes comportamentos populistas, demagógicos e levianos matam-se à nascença.
- Quando se deixam singrar, dá no que estamos a ver. Foi assim no Benfica, com Vale e Azevedo; é assim no Sporting, com Bruno de Carvalho. Hoje é no futebol. Amanhã é na política. Convém prevenir porque remediar é mais difícil.
PEDRÓGÃO – UM ANO DEPOIS
- Balanço – Dois aspectos positivos:
a) Por um lado, a notável generosidade dos portugueses. Só em donativos foram mais de 10 milhões de euros. Para além das contribuições em espécie e do apoio de voluntariado. Um exemplo de solidariedade absolutamente extraordinário.
b) Por outro lado, a resposta do Estado. Antes da tragédia, o Estado falhou em toda a linha. Depois da tragédia, respondeu de forma muito razoável.
- Cerca de 60% das casas destruídas já foram reconstruídas;
- Das 50 empresas atingidas pela tragédia já várias foram apoiadas, embora haja ainda muitas na expectativa;
- E as indemnizações aos familiares das vítimas falecidas na tragédia também já foram atribuídas.
- Lições para o futuro – Há, sobretudo, três lições a retirar:
a) Primeiro: temos de ter um Estado diferente – menos amador, mais profissional, mais eficiente e com maior inovação tecnológica nas suas vertentes de prevenção e combate aos fogos. Um Estado que consome metade da riqueza nacional não pode voltar a colapsar.
b) Segundo: temos de dar valor económico à floresta. Enquanto a floresta for só despesa e encargo, não resolvemos nada. Os proprietários florestais têm que sentir que limpar as matas é também um investimento e uma forma de criar riqueza. O que recoloca na agenda o tema da energia.
c) Terceiro: temos de ter uma nova atitude perante o interior do país. Uma grande parte de Portugal – o Portugal urbano – descobriu no ano passado que havia e há um outro país. Um país do interior, pobre, desertificado e pouco desenvolvido. Só que não chega descobri-lo e conhecê-lo. É preciso tratar do seu futuro. E isto está por fazer.
- Quanto ao país político, acho que percebeu que não pode haver nova tragédia.
- Perante a primeira, houve choque nacional mas não houve consequências políticas;
- Perante a segunda, houve revolta, indignação e uma forte censura ao Governo, que até teve de ser remodelado;
- Se existisse uma terceira tragédia (não julgo que sucederá), não haveria perdão possível. Ou o Governo se demitia ou o povo o demitia nas urnas por incapacidade e incompetência.
RUPTURA NOS HOSPITAIS?
- Está a aproximar-se um Verão Quente na Saúde em Portugal. Dentro de poucas semanas podemos começar a ter um verdadeiro pandemónio nos nossos hospitais. Tudo porque no dia 1 de Julho entra em vigor o novo regime de 35 horas para enfermeiros e pessoal auxiliar dos hospitais. O que é que isto significa?
- Primeiro: que este pessoal vai trabalhar menos 5 horas por semana;
- Segundo: que isto obriga, em princípio, à contratação de mais dois ou três mil trabalhadores;
- Terceiro: que o Estado, ao que parece, não vai contratá-los, por falta de autorização das Finanças;
- Finalmente: que, assim sendo, haverá consequências – encerramento de serviços; diminuição do número de camas e de atendimentos hospitalares; degradação do funcionamento dos nossos hospitais.
- Só há uma conclusão a tirar: leviandade do Governo – ou antes ou agora.
a) Se o Governo tomou uma decisão e não mediu as consequências, é um Governo leviano – porque não fez estudos, não fez contas e não fez planeamento;
b) Se o Governo mediu as consequências, fez contas e agora não cumpre, admitindo os novos trabalhadores que são necessários, então volta a ser leviano;
c) Em qualquer caso, uma coisa é certa: quem paga a factura é o doente. O Governo enche a boca com a defesa do SNS, fica bem na fotografia porque reduziu o tempo de trabalho mas depois, no terreno, os hospitais rompem pelas costuras. É assim que se degrada o SNS.
CONTESTAÇÃO AFECTA O PS?
- Acho que o PS está a ser e vai ser afectado pela contestação na saúde, educação e noutros sectores. As sondagens, de resto, comprovam-no. Amanhã mesmo sairá uma nova sondagem (Aximage, Correio da Manhã/Negócios) que prova o seguinte:
- Há quatro meses consecutivos que o PS está em queda. Já chegou a ter 44%. Agora está nos 37%.
- Em Fevereiro a vantagem do PS sobre o PSD era de 14 pontos. Agora é de 9 pontos.
- O PSD até nem tem subido muito. Está nos 28%. Só cresceu 1,4% em 4 meses.
- O PS é que desce muito, sobretudo para a abstenção e indecisos.
- Estes dados provam três coisas:
a) Primeiro: por este andar, a ideia de maioria absoluta "vai à vida". Passa a ser uma miragem.
b) Segundo: isto sucede porque o PS tem casos a mais e causas a menos.
- São os casos dos professores, de Sócrates, de Pinho e de Siza Vieira, e são as guerras dentro da coligação – tudo isto causa desgaste.
- E não há causas que mobilizem a sociedade. Acabaram as causas da devolução de rendimentos; de redução do défice; e do crescimento económico. E não foram geradas novas causas.
c) Terceiro: a sensação que há é que o Governo está esgotado. Que não tem objectivos. Que não tem desafios. Que não tem uma agenda mobilizadora. Ora, isto pode dar para ganhar. Mas não dá para maiorias absolutas.
- Para além disto, constata-se nesta mesma sondagem:
- A dinâmica de vitória do CDS não existe. Houve mesmo megalomania.
- O PSD vai melhorando, mas pouco. Não descola.
- O BE e a CDU estão confortáveis nos seus 10% e 8% respectivamente.
A COREIA E AS MIGRAÇÕES
- O acordo de Singapura – Confirmou-se tudo o que aqui tinha previsto há uma semana: que esta cimeira seria o acontecimento do ano; que ambos os líderes estavam empenhados na negociação; que provavelmente haveria acordo; que o acordo era importante para Trump e histórico para a Coreia.
- Agora, falta saber o essencial: se o Acordo vai ser cumprido ou se é mais um flop. Já houve acordos semelhantes em 1992 e 2005 e falharam.
- A questão do barco Aquarius foi um verdadeiro tremor de terra e teve réplicas em quase toda a Europa.
a) Primeira consequência: o próximo Conselho Europeu de 28/29 deste mês vai ser dominado pelo tema da Imigração e já não pela reforma da Zona Euro;
b) Segunda consequência: o tema das migrações passou a ser o grande tema dos partidos de direita radical na Europa. Para eles, dá mais votos que o tema do Euro e a guerra norte/sul. É assim em Itália, Áustria e Alemanha. Até na Hungria e na Polónia, onde nem sequer há refugiados ou migrantes;
c) Terceira consequência: Salvini, o líder de direita radical em Itália, passou a ser o herói dos anti-migrantes em toda a Europa. Já é tão conhecido como Marine Le Pen, foi aplaudido em vários países e até conseguiu ter apoio do Ministro do Interior alemão.
d) Quarta consequência: a crise migratória está a ter reflexos gigantes na Alemanha. A própria coligação está em risco, com divisões dentro dos conservadores (CDU e CSU). Merkel tem sido de uma coragem invulgar mas tem cada vez mais a cabeça a prémio. Nunca esteve tão fragilizada.
e) Última consequência (esta, positiva): a posição de Salvini é inaceitável. Mas pode ter um efeito lateral positivo. Obrigar a uma solução europeia para o problema das migrações. E isso é saudável.
COSTA EM ANGOLA?
- Muito se tem especulado sobre a visita do PM a Angola. Vai? Não vai? Vai agora? Vai mais tarde?
- Ao que apurei, mais do que uma visita a Angola, António Costa vai fazer no final deste mês de Junho e no mês de Julho um verdadeiro périplo africano. Assim:
- No fim deste mês (25 e 26 de Junho) vai a São Tomé e Príncipe;
- No início de Julho (4 e 5) vai a Moçambique;
- Em meados de Julho (17 e 18) estará na Ilha do Sal, em Cabo Verde, na Cimeira da CPLP;
- E a seguir, ainda em Julho, irá então finalmente a Angola.
- O que é que isto demonstra? Sensibilidade à lusofonia e prioridade à política africana. O PM não quer terminar o seu mandato sem visitar os vários PALOP.