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Opinião
11 de Junho de 2017 às 21:19

Notas da semana de Marques Mendes

A análise de Luís Marques Mendes ao que marcou a última semana da vida nacional e internacional. Os principais excertos da sua intervenção na SIC.

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Marcelo e o 10 de Junho


A novidade do 10 de Junho não são os discursos. Apesar de Sobrinho Simões ter feito um feito um discurso muito interessante e de o Presidente da República em 5 minutos de intervenção ter dito tudo o que é essencial sobre o passado e o futuro do país.

A grande novidade é o novo formato de comemoração do 10 de Junho – uma comemoração cá dentro, no país, e uma comemoração lá fora, nas comunidades portuguesas. Por que é que este formato é particularmente bem escolhido?

a)      Primeiro: porque o 10 de Junho é mais importante para os portugueses que vivem fora de Portugal do que para os portugueses que estão cá dentro. Comemorá-lo lá fora aproxima ainda mais os portugueses emigrados de Portugal.

b)      Segundo: porque o 10 de Junho, sendo o Dia das Comunidades, nunca tinha sido comemorado com as comunidades e junto das comunidades. Assim, dá-se coerência à data e valoriza-se um activo estratégico – a nossa presença no mundo.

c)      Terceiro: porque se trata de reinventar o 10 de Junho. Este dia nunca foi bem visto por certos sectores. Soava a data do antigo regime. Com este novo formato, o Presidente mudou a agulha. Passou a celebrar a grandiosidade da nossa história (que é uma história de universalismo e abertura ao mundo) e a reafirmar Portugal como uma nação global, em que os portuguesas emigrados são os "descobridores do nosso tempo".

d)      Finalmente: o 10 de Junho tinha uma dimensão demasiado formal e institucional. Marcelo deu-lhe uma dimensão eminentemente popular e afectiva.

 

 

Eleições no Reino Unido


Uma vitória com um amargo sabor a derrota. A PM tinha uma maioria absoluta, queria reforçá-la e saiu-lhe o tiro pela culatra. Não só não melhorou como piorou e muito a sua posição. Perdeu a maioria que tinha.


Por que é que isto sucedeu? Oportunismo, arrogância e má campanha.

a)      Oportunismo: tinha dito que não ia antecipar as eleições. Quando se viu em alta nas sondagens, deu o dito pelo não dito e quis fazer um golpe eleitoral. O oportunismo e o tacticismo pagam-se.

b)      Arrogância: antecipou as eleições quando nada o justificava e ainda por cima se recusou a debater com os seus adversários. Ao contrário, por exemplo, de Macron em França. Esta arrogância saiu-lhe cara.

c)      Finalmente, fez uma má campanha. Esteve mal em várias questões sociais e não soube defender-se nas acusações sobre a redução das despesas com a segurança.

Em que situação fica agora? A PM britânica devia ter-se demitido. A partir de agora vai ser o caos.

a)      Primeiro: porque o seu adversário estava fraco e ficou forte;

b)      Segundo: porque passar de uma maioria absoluta para uma maioria relativa é sempre uma solução que enfraquece;

c)      Terceiro: porque a nova coligação pode garantir a maioria de deputados, mas não garante a coerência das políticas. Os dois partidos têm posições muito diferentes.

d)      Finalmente: vai negociar o Brexit com a União Europeia em situação de enorme fraqueza.

 

  1.       Conclusão: a partir de agora é de mal a pior. Tudo isto é o princípio do fim de Theresa May. Durará até os Conservadores forjarem um novo líder.

Operação autárquicas

 

Funchal

Há quatro anos a eleição no Funchal foi uma das grandes surpresas políticas – Paulo Cafôfo, um independente à frente de uma ampla coligação, fez o que parecia impossível: derrotou o PSD.

Quatro anos depois, o que vamos ter? um confronto muito forte e duro.

a)      De um lado, temos o favorito: é o Presidente da Câmara, agora recandidato. Já se percebeu que é um bom político, teve um grande protagonismo e tem ainda a vantagem de estar no primeiro mandato;

b)      Do outro lado, o PSD que tirou um coelho da cartola. Apresenta também uma boa candidata – Rubina Leal. Provavelmente o melhor trunfo que o PSD tem. Já foi vereadora no Funchal, é Secretária Regional, é uma pessoa muito popular e tem um grande peso na população porque sempre tratou e trata das questões sociais.

c)      Prevê-se um confronto muito equilibrado. Com um desfecho que pode vir a ser imprevisível.

 

Ponte de Lima

Ponte de Lima foi sempre um feudo autárquico do CDS. Até hoje o CDS venceu todas as eleições autárquicas. Desta vez, há uma novidade: o CDS está dividido e tem, na prática, dois candidatos.

Assim:

a)      De um lado, o Presidente da Câmara, candidato do CDS, Vítor Mendes. É o favorito à vitória.

b)      Do outro lado, uma outra figura histórica do CDS – Abel Baptista. Era deputado do CDS, entrou em conflito com Assunção Cristas e abandonou o Parlamento para ser candidato independente à Câmara.

  •          Com mais este picante: é do CDS, concorre como independente e tem o apoio do PS.
  •          Vai ser um adversário difícil de vencer, até porque tem a seu favor uma questão: deu um bom exemplo. Ao entrar em conflito com o CDS, não se agarrou ao seu lugar de deputado. Renunciou e saiu.

c)      No meio, temos o PSD. Um bom candidato que tem, todavia, um desafio: a sua candidatura vai beneficiar da divisão do adversário? Ou, ao invés, vai ser vítima da bipolarização entre as duas figuras do CDS?

 

Porto

  •          Uma nota final, sobre o Porto: João Semedo, candidato do BE, abandonou a candidatura por razões de saúde.
  •          É pena. Trata-se de uma pessoa fantástica, humanamente exemplar, e um político de enorme qualidade.

 

  

O caso EDP

 
Temos aqui uma novela que está para durar. Inda vai no seu início. Esta semana tivemos duas coisas:

a)      Primeiro: mais arguidos. E o mais provável é que ainda haja mais.

b)      Depois: a conferência de imprensa da Administração da EDP.

  •          Não teve nada de novo. Nem era expectável que tivesse.
  •          O objectivo, ao que parece, não era tanto de falar para a investigação, mas sim para os mercados. A EDP é uma empresa cotada em bolsa.
  •          E cumpriu o seu propósito: a queda das acções do primeiro dia foi estancada e até subiram depois da conferência de imprensa.

A surpresa da semana, no que à EDP diz respeito, foi a afirmação de Eduardo Catroga, segunda a qual "não se brinca com empresas cotadas em bolsa". É uma afirmação profundamente infeliz.

a)      Primeiro: mesmo referindo-se a eventuais denúncias anónimas, não deixa de ser infeliz, porque, como toda a gente sabe, já não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que uma denúncia anónima dá origem a investigações (mesmo sabendo todos nós que é uma via de acção pouco edificante);

b)      Depois: é sobretudo infeliz porque indirectamente é um remoque ou uma crítica à existência de uma investigação judicial envolvendo uma empresa cotada em bolsa. Ora, sejamos directos: a lei é igual para todos os cidadãos e para todas as empresas, sejam ou não cotadas em bolsa;

c)      Em terceiro lugar, é uma afirmação infeliz porque, até ao momento, o que temos visto não é alguém a brincar com empresas cotadas em bolsa. O que vimos foram empresas cotadas em bolsa a brincar com o país e com o dinheiro dos portugueses. Foi o caso do BES e da PT.

 
Finalmente, algumas perguntas essenciais:

a)      Todos os factos relativos a esta investigação são conhecidos e públicos há mais de 7, 8, 9, 10 anos. Então por que é que só agora surge esta investigação?

b)      O que tem sido habitual noutras investigações é ouvir os potenciais suspeitos antes de serem constituídos arguidos ou em simultâneo com essa constituição. Por que é que desta vez é diferente? Por que é que já são arguidos e ainda não foram ouvidos?

c)      É verdade que o governo anterior foi o único que fez cortes nas rendas de energia. Mas o ex-Ministro e o ex-Secretário de Estado vêm agora dizer que foram insuficientes. Então por que não foram mais longe? Por que é que se fez a privatização da EDP antes de se tratar do corte das rendas de energia? Não devia ter sido ao contrário?

d)      O actual governo está em funções há ano e meio. Sobre rendas de energia não fez nada. Anuncia agora no Expresso que vai fazer um corte de 500 milhões. Como é que vai fazer isso? É mesmo a sério ou é só show off para "surfar" a onda mediática do momento? E isso vai reduzir o preço da energia?

 

Fim da privatização da TAP

 
Começo com uma informação em primeira mão: os três administradores não executivos que ainda não se conhecem e que vão integrar a futura administração da TAP (a eleger no dia 30 de Junho) são os seguintes:

  •          Bernardo Trindade (antigo Secretário de Estado do Turismo);
  •          Esmeralda Dourado (uma gestora qualificada;
  •          António Menezes (antigo Presidente da Sata).
  •          Juntam-se, assim, a Miguel Frasquilho, Diogo Machado e Ana Pinho, nomes já tornados públicos.


É a última parte do processo de privatização da TAP. A companhia fica com uma boa equipa e uma equipa equilibrada.

a)      Tem gestores experientes – Esmeralda Dourado, Ana Pinho, Bernardo Trindade, António Menezes;

b)      Tem pessoas conhecedoras de aviação, embora para não executivos não pareça o mais relevante – Diogo Machado e António Menezes;

c)      Tem as sensibilidades do Norte, do Turismo e das Regiões Autónomas;

d)      E tem um presidente, Miguel Frasquilho, que tem experiência do mundo financeiro, da internacionalização da economia e do mundo das exportações como poucos. Se a TAP é o maior exportador português, Miguel Frasquilho, que vem do AICEP, vem do local certo.

 

 

A entrevista de Costa

 

Esta semana houve dois momentos que mostram bem que António Costa está em estado de graça. Tudo lhe corre bem mesmo quando a sua prestação não é a melhor.

O primeiro foi a entrevista à SIC.

a)      Uma entrevista que é boa na forma mas inócua no conteúdo. Mostra um PM simpático, afável e bem disposto. Mas no conteúdo é completamente banal, não tem uma ideia nova ou uma proposta nova. Nada.

b)      Em circunstâncias normais, era arrasada. A verdade é que não foi. Não teve impacto, mas também não foi criticada.

 
O segundo momento é ainda mais significativo – o recuo do indigitado Chefe dos Serviços de Informações.

a)      Vendo bem, percebe-se que António Costa não foi prudente na escolha que fez. A pessoa escolhida tinha, afinal, algumas vulnerabilidades.

b)      A verdade é que António Costa resolveu com mestria aquilo que podia ser um berbicacho monumental.

  •          Conseguiu que o Embaixador tomasse a iniciativa de recuar;
  •          Conseguiu que o recuo fosse feito antes da ida ao Parlamento;
  •          Conseguiu que tudo ficasse resolvido antes de ser muito mediatizado. A grande opinião pública quase que nem se apercebeu da situação.

Conclusão: o PM está em estado de graça e anda cheio de sorte. É caso, todavia, para acrescentar: convém não abusar da sorte, ou seja:

  •          Não insistir muito na banalização das entrevistas. Uma entrevista de um PM não deve ser um momento banal.
  •          E passar a ter mais cuidado com as suas escolhas, especialmente para cargos sensíveis e delicados.

 

NOTAS FINAIS

Parabéns a Manuel Alegre (Prémio Camões)

Parabéns à RTP Internacional

  •  Fez 25 anos.
  •  Tem uma nova programação.

 Parabéns à Fundação Champalimaud

  •          Abriu em Londres um concurso para Médicos Europeus não ingleses.
  •          Teve 25 interessados, médicos de grande qualidade e de vários países.
  •          É a prova de que o Brexit está a prejudicar o Reino Unido e Portugal está a aproveitar a oportunidade. 
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