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Opinião
26 de Março de 2017 às 21:45

Notas da semana de Marques Mendes

A análise de Luís Marques Mendes ao que marcou a última semana da vida nacional e internacional. Os principais excertos da sua intervenção na SIC.

  • ...

AEROPORTO CRISTIANO RONALDO

 

  1.       A partir da próxima semana o Aeroporto da Madeira passará a chamar-se Aeroporto Cristiano Ronaldo. Houve alguma polémica em torno desta decisão, sobretudo com alguma oposição vinda das autoridades nacionais. Faz sentido esta decisão?

 

  1.       Compreendem-se algumas objeções colocadas. De facto, a tradição em Portugal não é a de privilegiar "homenagens" desta natureza a pessoas ainda em vida. Esta é a tradição, mas não quer dizer que seja uma obrigação. As tradições são como as regras: comportam excepções.

 

  1.       E esta excepção, no caso particular da Madeira, compreende-se:

a)      Cristiano Ronaldo é uma pessoa especialmente querida na Madeira, a sua região natal. Lá está instalado, por exemplo, o Museu Cristiano Ronaldo.

b)      Mas, sobretudo, a grande motivação é o turismo. Cristiano Ronaldo é um chamariz turístico. Mundialmente conhecido, atrai turistas de todo o mundo. E a grande aposta da Madeira é, sobretudo, no turismo.

c)      Por isso, dar o nome de Cristiano Ronaldo ao Aeroporto da Madeira é uma opinião de marketing, de promoção da Madeira, de estímulo ao incremento turístico da Região. Neste particular, compreende-se a decisão do Governo Regional.

 

 

OS MAIS RICOS DO MUNDO

 

  1.       A revista Forbes voltou a publicar a lista dos mais ricos do mundo. À cabeça Bill Gates; nos primeiros lugares só americanos; e, como é habitual, três portugueses, já na cauda da lista.

 

  1.       Como é normal, esta divulgação gera sempre invejas, polémica e mesmo alguns radicalismos (do género "temos de acabar com os ricos"). Este tipo de reacções faz lembrar a conversa que se relata ter existido, em 1975, entre Otelo Saraiva de Carvalho e o Primeiro Ministro sueco de então, Olof Palm. Otelo a dizer que a revolução em Portugal queria acabar com os ricos; Olof Palm a explicar que na Suécia o objectivo era acabar com os pobres.
  1.       Mais do que acabar ou diminuir o número de ricos, o que temos é de diminuir as desigualdades sociais. Fazer uma melhor distribuição da riqueza. Como é que estamos hoje?

a)      EuropaOs países com menos desigualdades são os países mais ricos da Europa (designadamente os nórdicos). Os países mais pobres, por sua vez, são os mais desiguais. Conclusão: menos economia, mais desigualdades.

b)      EUA Aqui a situação é a contrária à da Europa. Os EUA são um dos países mais ricos do mundo, mas também um daqueles onde há maiores desigualdades sociais. Conclusão: a falta de um modelo social (do tipo europeu) favorece a desigualdade.

c)      E Portugal? A boa notícia é que Portugal está hoje menos desigual que há 10 ou 20 anos. A má notícia é que em matéria de desigualdades estamos pior que a média da OCDE.

  •   O que temos de fazer? Três coisas, no essencial: promover um forte crescimento económico; garantir um bom estado social; e usar adequadamente o sistema fiscal.

 

 

O ATENTADO DE LONDRES

 

  1.       Este atentado segue o padrão actual do Estado Islâmico. Vê-se em dois aspectos:

a)      Primeiro: atirar viaturas para cima da população. É o apelo que o Estado Islâmico tem vindo a fazer ultimamente. E foi também assim que sucedeu em Nice e em Berlim.

  •   De resto, nos últimos meses o mesmo estado Islâmico está a recomendar aos seus apoiantes que atirem engenhos incendiários para dentro de recintos fechados com muita gente. Preparemo-nos para casos destes nos próximos tempos!

b)      Segundo: este atentado em Londres surgiu no mesmo dia em que se assinalou um ano sobre o atentado de Bruxelas. Ora, como se sabe, o estado Islâmico gosta muito de comemorações.

 

  1.       Tirando estes aspectos, o que há a destacar são três coisas muito importantes:
  •   Primeiro: por muito esforço de prevenção e de fiscalização que se faça, é impossível evitar estes fenómenos de terrorismo. Não pode haver um polícia atrás ou ao lado de cada cidadão.
  •   Segundo: mesmo assim, há um lado positivo a destacar – por casa acto terrorista que se concretize, há 10, 20 ou 30 que são abortados por intervenção preventiva das polícias.
  •   Finalmente: o Estado Islâmico está em queda. A prova são estes actos terroristas muito artesanais. Causam vítimas, pânico e terror, sem dúvida. Mas já não têm a força e a capacidade organizativa dos actos terroristas do passado.

 

 

ÁLCOOL E MULHERES?

 

  1.       As declarações do Presidente do Eurogrupo são absolutamente criticáveis. Mas o pior, apesar de tudo, não é o que ele disse e a forma como o disse.
  •   Claro que a linguagem que utilizou é de uma boçalidade e de uma falta de nível inaceitáveis numa pessoa responsável.
  •   E o que disse também não é novidade – muito boa gente na Europa do Norte tem dito coisas iguais ou semelhantes (que os países do Sul são preguiçosos, laxistas, gastadores).

 

  1.       O pior mesmo é o exemplo. Este senhor foi um mau exemplo. De um líder europeu espera-se capacidade para unir, não para dividir. Competência para fazer a inclusão, não para promover a exclusão.
  •   No momento em que está a acicatar a divisão entre o Norte e o Sul, entre os bons e os maus, entre os puros e os impuros, este senhor presta um mau serviço à União Europeia.
  •   Mais ainda. No momento em que de vários lados, incluindo dos EUA, surgem tentativas para criar divisões entre os europeus, mais se justificava uma acção europeia justamente no sentido inclusivo.

           

  1.       Agora, só lhe resta sair. Não tem alternativa. É uma questão de tempo.

a)      Primeiro, porque levou uma "banhada" eleitoral na Holanda e não voltará a ser Ministro das Finanças;

b)      Mas, sobretudo, porque com estas declarações perdeu toda a respeitabilidade que lhe restava. Não se deu ao respeito, não mais será respeitado. E quem não é respeitado só tem um caminho – a porta da saída.

 

 

 

O DÉFICE MAIS BAIXO DE SEMPRE

 

Nesta questão há três dimensões distintas a considerar:

 

  1.       Primeiro: a dimensão financeira. Goste-se ou não se goste do Governo, a verdade é que alcançou em 2016 um défice (2,1% do PIB) que há um ano ninguém acreditava ser possível.
  •   Pode não ter sido alcançado da forma mais sustentável (com cortes brutais no investimento público; estrangulamento de serviços públicos; e medidas extraordinárias). Mas foi alcançado e é positivo.

 

  1.       Segundo: a dimensão europeia. Este défice vai permitir Portugal sair do Procedimento de Défices Excessivos? Sim,  Portugal vai sair da lista negra.
  •   Pode haver ainda alguma retórica por parte de Bruxelas, a querer garantias de que o défice estrutural será colocado numa trajectória de sustentabilidade. Mas, em Maio, Portugal sairá mesma da lista negra dos défices excessivos

 

  1.       Terceiro: a dimensão política. Esta é também uma vitória do Governo.
  •   A meu ver, há mérito do Governo e demérito da oposição. A oposição, sem o querer, ajudou o Governo a reforçar a vitória.
  •   Ao passar o tempo a criar expectativa de que o défice não ia ser cumprido, a oposição valorizou o resultado alcançado pelo Governo. Sempre que a oposição falha numa previsão, o Governo sai mais vitorioso.
  •   Isto devia servir de lição para a oposição mudar a sua estratégia: em vez de baixar expectativas, devia subir a fasquia da exigência.
  •   Um exemplo: em vez de estar a fazer previsões sobre se a meta do crescimento vai ou não ser alcançada, o que a oposição devia exigir era um crescimento maior. Ou seja, ser mais exigente e mais ambiciosa.

NOVO BANCO E MONTEPIO – PROBLEMAS?

 

  1.        Novo BancoEsta semana é decisiva. Até sexta-feira, dia 31 de Março, o Governo tem de tomar a decisão de vender ou não vender o Novo Banco.

O Ministro das Finanças disse esta semana que tudo estava a correr muito bem. Infelizmente, não é verdade. Até pode acabar bem. mas, para já, Mário Centeno omitiu um problema sério que existe. Estamos num impasse.

a)      Qual é o problema? Bruxelas (DGCOM) opõe-se a que o Estado fique com 25% do capital. Primeiro, porque o compromisso do Governo era de vender 100%; depois, porque não quer que o Estado tenha qualquer poder de decisão no Banco.

b)      O que vai suceder? Uma de três coisas. Ou Bruxelas diz mesmo NÃO à presença do Estado e bloqueia a venda, fazendo o processo voltar ao início; ou o Governo recua e vende 100%; ou Bruxelas aceita mas impõe condições.

  •          E que condições podem ser essas? Despedimento de mais pessoal? Fecho de balcões? O Estado ficar acionista mas sem direito a voto? Ainda vai haver muita polémica.
  •          O mais provável é esta última hipótese – o Estado ficar acionista sem direito a voto e sem qualquer poder de interferir na gestão do Banco. Uma decisão legalmente possível mas politicamente difícil de explicar.

 

  1.        MontepioHá risco de suceder no Montepio o mesmo do BES? Julgo que não.

a)      Primeiro: no caso do Montepio não há financiamentos do Banco à Associação Mutualista. No BES havia financiamentos ao GES.

b)      Segundo: está a ser feita uma total separação entre Banco e Associação.

  •   Separação da gestão (já realizada);
  •   Separação dos produtos vendidos num lado e noutro;
  •   E até o banco terá de mudar de nome (para evitar confusão).

c)       Terceiro: O Banco vai passar a Sociedade Anónima. Se precisar de mais capital e a Associação não o puder realizar, entrarão outros accionistas.

 

 

EUROPA FEZ 60 ANOS

 

Quatro apontamentos:

  1.       Primeiro: Sessenta anos de Europa são sessenta anos notáveis. A Europa começou com 6 países e tem hoje 27. Começou como uma zona de mercado livre e tem hoje uma moeda comum. E é responsável por 60 anos de paz, prosperidade e bem-estar na Europa.

 

  1.       Segundo: E a crise actual vai dar cabo da Europa? Julgo que não. A notícia da morte da União Europeia é manifestamente exagerada. Claro que há crise europeia. Mas a Europa já teve várias crises no passado e ultrapassou-as.

 

  1.       Terceiro: Como vai ser a Europa do futuro? A minha resposta é: uma Europa diferente. Cada vez mais uma Europa de geometria variável. Uma Europa a várias velocidades.
  •   Projectos como o Euro ou Schengen (em que nem todos os países da UE participam) vão ser o modelo. Ou seja, estarão os que podem e querem. Os outros ficam noutra divisão. Uma Europa a várias velocidades.
  •   A ideia de avançarem sempre todos em conjunto é uma ideia acabada.

 

  1.       Quarto: O desafio para Portugal é estar sempre na linha da frente. Não se deixar ficar para trás. Até por uma razão estratégica: se a Espanha avança e Portugal não, cavaremos o nosso isolamento e a nossa irrelevância

Notas finais

  •         Anúncio: o Conselho de Ministros da próxima 5ª feira, dia 30, vai aprovar uma Unidade de Missão para atrair para Portugal empresas que, por força do Brexit, sairão do RU mas querem ficar na Europa.
  •         Saudação à reeleição de Carlos Silva na UGT
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