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12 de Março de 2017 às 21:02

Notas da semana de Marques Mendes

Luís Marques Mendes comenta os assuntos da actualidade: Caixa Geral de Depósitos, Novo Banco, um ano de Marcelo, e a conferência anulada. Veja os os excertos da intervenção do comentador na SIC.

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OS PREJUÍZOS DA CAIXA

 

Três apontamentos:

Primeiro: estamos a actuar na Caixa com dois ou três anos de atraso. Esta limpeza de balanço, esta recapitalização e esta reestruturação que agora vai ser feita na Caixa já foi feita, por exemplo, noutros bancos (caso do BCP). O que prova que o Estado andou a perder tempo.


Segundo: estes números são um choque. E apesar de previsíveis não deixam de ser um choque. Mostra que o desvario e a má gestão não andaram só pelo BES ou pelo BPN. E isto leva-nos à questão central: por que é que tudo isto aconteceu?


Terceiro: a Caixa reconheceu agora cerca de 3 mil milhões de euros de imparidades (ou seja, prejuízos previsíveis, resultantes de créditos que serão impossíveis de cobrar).

a) O que significa que houve muito crédito mal concedido;

b) Pois bem. É preciso responder com rigor a quatro perguntas: em que anos é que tal sucedeu? Quais foram os beneficiários desse crédito? Quem o concedeu? Por que é que não houve garantias eficazes?

c) E isto leva-nos à auditoria que o Governo prometeu para esclarecer pôr tudo em pratos limpos. Onde está essa auditoria?Quem a faz? Quando começa? Há mais de 230 dias que foi aprovada no Parlamento.

d) Os portugueses pagam a factura. Têm, ao menos, o direito a conhecer a verdade. 

 

A VENDA DO NOVO BANCO


Estamos na recta finalíssima para a venda do Novo Banco. Agora já não há dúvidas de que o Banco vai ser vendido e vendido à Lone Star. Porquê?


a) Primeiro: já se está na fase da discussão dos contratos de venda.

b) Segundo: já está adquirido que a venda será de 75% do capital e não de 100%.

c) Terceiro: já se percebeu que haverá no futuro só dois accionistas – os norte-americanos da Lone Star (75%) e o Estado português (25%). E não haverá empresas portuguesas como accionistas.

d) Quarto: a decisão tem de ser tomada até 31 de Março. É data limite "imposta" por um dos fundos que integra a Lone Star para movimentar receitas para a operação.

 
O único entrave neste momento vem de Bruxelas.

Há um braço de ferro entre a DGCOM e o Governo português – a DG da Concorrência Europeia quer que a venda seja de 100% e o Governo quer que o Estado fique com 25%.

Como vai acabar? Eu julgo que Bruxelas vai aceitar a posição portuguesa, embora impondo condições. Portanto, a venda será de 75% do capital.

E apesar de a venda dever ser feita a valor simbólico, está assegurado que o Estado receberá, ao longo de 20 anos, o empréstimo de 3,9 mil milhões que fez ao Fundo de Resolução.


MARCELO – UM ANO DE PRESIDÊNCIA

 

Todos reconhecem o sucesso da presidência de Marcelo Rebelo de Sousa. Quais as razões que o explicam?

Primeira: a coerência. Marcelo tem sido na Presidência igual ao que foi em campanha eleitoral. Prometeu ser independente dos partidos; próximo das pessoas; cooperante com o Governo. Está a cumprir tudo o que prometeu. 


Segunda: a independência. Marcelo é muito independente. Independente dos partidos; dos interesses económicos; da lógica de grupos. As pessoas, hoje, valorizam muito a independência. Não têm paciência para tempos de antena ou dependências de qualquer natureza.

 
Terceira: o estilo. O estilo pessoal de Marcelo é o que mais se adequa ao estilo político que o país hoje mais aprecia.


a) Depois dos difíceis anos da troika, o que é que o país mais aprecia?

  • Uma relação de confiança – para "puxar" pela auto-estima;
  • Uma relação de proximidade – para aproximar as pessoas;
  • Uma relação de afecto – para descrispar a sociedade;
  • Uma comunicação fácil – porque querem perceber o que se passa.

b) Qual é o estilo de Marcelo há anos? A afectividade, o optimismo, a confiança, a boa disposição, a facilidade de comunicação. Ou seja, Marcelo é, neste quadro, a pessoa certa no momento certo.


Finalmente,a estabilidade. A grande crítica que se fazia a Marcelo Rebelo de Sousa antes de ser Presidente é que seria um Presidente instável. Um catavento. Pois bem. Num ano Marcelo mostrou ser uma pessoa estável. No discurso, na atitude, na relação com o Governo, nas políticas que defendeu. Desmontou a crítica que lhe faziam. Hoje já ninguém fala nisso

É isto que leva muitos portugueses que não votaram em Marcelo Rebelo de Sousa a dizerem que estão positivamente surpreendidos.


ALTA TENSÃO NO PARLAMENTO

O debate Costa/Passos no Parlamento esta semana foi inenarrável. Agressividade invulgar. Trocas de acusações. Quase insultos. Um dos mais negros momentos da democracia parlamentar. Saem todos mal neste filme. Como dizia Catarina Martins, "para que serve esse confronto verbal"?

 
António Costa sai mal. Não se comporta como Primeiro-Ministro, mas sim como oposição à oposição. Por isso, não esclarece nem explica nada. Só está ali para provocar, irritar e atacar o adversário. Muito mal.


Passos Coelho não sai melhor. António Costa tira o PSD do sério. E Passos Coelho cai na esparrela montada pelo PM. Conclusão:

Discute-se mais o passado que o presente e o futuro. É o que Costa quer;
A discussão com Passos une os três partidos da geringonça. É o que Costa quer (fazer de Passos o seguro de vida da geringonça);
E a imagem de agressividade descaracteriza Passos Coelho. Habituou o país a uma imagem de serenidade e moderação.

 
Passos Coelho até pode pensar que isto lhe é útil para consumo interno, porque anima os seus incondicionais. O problema é que anima os seus fiéis mas perde votos nos seus eleitores.

 

 
PSD CAI NAS SONDAGENS

 
Duas sondagens deste fim-de-semana, dois resultados preocupantes para o PSD (28% na sondagem do Expresso, 26% na sondagem do Correio da Manhã). É dos piores resultados de sempre. Isto deve começar a preocupar o PSD. Se não mudar, o PSD pode entrar num ponto de não retorno.

 
Por que é que isto sucede? Porque o PSD não está a ser capaz de se adaptar ao novo ciclo político. Quatro exemplos:

a)      Primeiro: o PSD está demasiado institucional. Só fala no Parlamento ou em jantares partidários. Actua em circuito fechado. O PSD devia estar nas empresas, nos sindicatos, nas escolas, nas instituições sociais, na rua.

b)      Segundo: o PSD preciso de novos protagonistas. Fora do Parlamento, quase só há Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque. É muito curto e soa a passado. O PSD precisa de caras novas, diferentes, abrangentes e com visão de futuro.

c)      Terceiro: o PSD precisa de actualizar e diversificar o discurso. O discurso é quase só financeiro. Falta falar de educação, de saúde, de revolução tecnológica, de Europa, de desenvolvimento regional. Como diz Pedro Duarte, "parece que a troika vive na sede do PSD".

d)      Quarto: o PSD precisa de ter uma atitude diferente. A ideia que passa é que o PSD espera que as coisas corram mal no país para voltar ao Governo e aplicar nova austeridade. O PSD precisa de mudar – passar a ser mais ambicioso e exigente com o Governo em vez de parecer destrutivo.

 

 

A CONFERÊNCIA ANULADA

 
Tudo isto é absurdo e grave:

a)      Absurdo e grave porque são vinte e poucos jovens a condicionarem toda uma universidade;

b)      Absurdo e grave porque ao fim de 40 anos de democracia ainda há gente que não percebe a superioridade moral da democracia (que é a de permitir discutir todas as ideias, mesmo aquelas de que frontalmente se discorda);

c)      Absurdo e grave porque tudo isto, ainda por cima, se passa na universidade, espaço por excelência de liberdade intelectual, de debate e de reflexão;

d)      Absurdo e grave por um director da universidade se ter "acobardado" perante uma ameaça ou uma chantagem.

 
Salva-se, no meio de tudo isto, o gesto nobre e digno da Associação 25 de Abril. Se a conferência não se pode fazer nas instalações da universidade, faz-se nas instalações da Associação!!!

 
Mas a verdade é que estamos a viver um tempo de uma certa intolerância com quem pensa diferente. O mesmo sucede com a intenção de calar Teodora Cardoso e extinguir o Conselho de Finanças Públicas. É preciso bater o pé a estas tentações.

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