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10 de Dezembro de 2019 às 10:10

Receber o poder

O poder é como a maçã de Isaac Newton: a questão não está em a maçã ter caído, a questão está na cabeça que estava na trajectória da maçã e formulou a lei da gravidade.

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A FRASE...

 

"CDS mirrado, PSD sem parceiro? Sem uma maioria absoluta e com o velho parceiro em crise, complica-se para o PSD poder voltar a governar."

Ângela Silva, Expresso, 7 de Dezembro de 2019

 

A ANÁLISE...

 

Em democracia, mas também em ditadura, é mais provável o poder perder-se do que ser conquistado. Em democracia, as eleições servem para afastar os que falham sem ser preciso recorrer à violência. Em ditadura, é preciso recorrer à violência para afastar os que falham, mas isso só acontece em condições de ter sucesso quando a evidência do fracasso é o factor de mobilização para os que assumem o risco da revolta.

 

Em democracia, o poder não se conquista, recebe-se. Mas para receber o poder que foi perdido é preciso estar na posição certa para o ver passar na queda e o apanhar antes que se estilhace. E saber qual é essa posição certa implica que se tenha identificado quando e onde o poder vai ser perdido por quem o tem, o que é o mesmo que dizer que se sabe como denunciar e atacar quem detém o poder para que ele seja obrigado a largá-lo. Será depois responsabilidade do eleitorado confirmar o que já será uma evidência: quem tinha o poder perdeu-o.

 

O papel da oposição não é oferecer mais do que quem está no poder. Se escolher esta via reforça quem está no poder, pois se é possível oferecer mais do mesmo, então é melhor falar com quem já escreve o Orçamento. Para provocar ou acelerar a perda do poder a oposição tem de mostrar e explorar a ilusão do poder, denunciando os que ocupam o poder mas não o sabem exercer. Fazem perder tempo e recursos porque só sabem oferecer o mesmo que já ofereciam no passado, sem reconhecer, nem compreender, que as mudanças que já ocorreram nas circunstâncias e na sociedade tornaram impossível querer oferecer o mesmo. Quando tudo muda, não se conquista o poder fazendo alianças que somam os votos que houve no passado, conquista-se o poder mostrando que os votos do passado não respondem às questões do futuro.

 

O poder é como a maçã de Isaac Newton: a questão não está em a maçã ter caído, a questão está na cabeça que estava na trajectória da maçã e formulou a lei da gravidade. A questão não está na queda do poder, a questão está no que propõe o poder que quer substituir o poder que vai cair.

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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