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26 de Dezembro de 2016 às 19:20

O mundo novo

Em Portugal, o fim do império e a destruição dos centros de acumulação de capital privados mudaram as bases do modelo de desenvolvimento, mas não se aceitou fazer o ajustamento do modelo de sociedade

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"Mesmo que a globalização económica reduzisse o seu ritmo, a tecnologia está a gerar uma globalização ecológica, política e social que exige respostas cooperativas e o papel de Washington na estabilização do mundo e na garantia do seu progresso continuado pode ser mais importante do que nunca".

 

Joseph S. Nye, Jr. "Sobreviverá a ordem liberal?", Foreign Affairs Janeiro/Fevereiro, 2017


A estabilidade política depende do progresso que essa estabilidade promete. A nível superficial, a legitimidade do poder político é função dos seus resultados no crescimento económico e na satisfação das expectativas sociais. A nível mais profundo, porém, essa estabilidade política depende da qualidade da articulação do modelo de sociedade (o sistema de valores que orienta a sociedades e configura as expectativas sociais) com o modelo de desenvolvimento (que orienta o crescimento das economias).


Esta articulação pode falhar se muda o modelo de sociedade ou o modelo de desenvolvimento e não se assume a necessidade de fazer os ajustamentos adequados nos dois sistemas. Em Portugal, o fim do império e a destruição dos centros de acumulação de capital privados mudaram as bases do modelo de desenvolvimento, mas não se aceitou fazer o ajustamento do modelo de sociedade – aumentou a despesa com as políticas públicas sem ter aumentado o potencial de crescimento do modelo de desenvolvimento, aumentou a tributação e a dívida. No mundo, a globalização trouxe a liberdade de circulação dos factores económicos, mas não se aceitou fazer o ajustamento nos modelos de sociedade – a perda das posições sociais protegidas gerou naturais reacções populistas defensivas que pretendem reconstituir um passado que já não existe.

A fadiga da globalização no centro hegemónico que são os Estados Unidos está a fazer nascer um mundo novo, para o qual não há mapas nem bússolas porque são as correntes da tecnologia que estão a transformar os modelos de sociedade e os modelos de desenvolvimento. Os fluxos vão dominar os espaços, os competitivos vão dominar os distributivos, os globalistas vão vencer os nacionalistas – mas não se sabe o que tem de ser ajustado para passar do velho para o novo. 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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