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Opinião
28 de Agosto de 2017 às 20:10

A tragédia do poder

A política é uma ciência social trágica, porque promete o que não sabe como oferecer, começando por iludir os eleitores para obter a legitimação do poder.

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A FRASE...

 

"O Estado português é gordo, mas é fraco. É pesado, mas não é firme. É um Estado fraco que torna vulnerável o seu povo."

 

António Barreto, Diário de Notícias, 20 de Agosto de 2017

 

A ANÁLISE...

 

A economia é uma ciência social triste, porque trata da afectação de recursos escassos a finalidades alternativas, o que implica a eterna frustração que é a condenação dos que foram expulsos do paraíso. Porque os recursos são escassos, o que se afectar a uma finalidade já não poderá ser aplicado ou desviado para outra. E todas as tentativas para escapar a esta triste inevitabilidade - imprimir moeda, a inflação, a dívida, a imparidade nos balanços, a restruturação e o incumprimento - são truques de falso alquimista, que promete converter o chumbo em ouro e acaba a arder numa fogueira.

 

A política é uma ciência social trágica, porque promete o que não sabe como oferecer, começando por iludir os eleitores para obter a legitimação do poder, alimentando depois a conflitualidade entre grupos sociais para encontrar uma justificação para o que é a ilusão do poder. Se os eleitores são iludidos pelos que se apresentam como sabendo como realizar os seus desejos até terem de verificar que foram instrumentalizados, os detentores do poder são iludidos pelos atributos do poder até terem de verificar que são impotentes para concretizar as promessas que apresentaram aos seus eleitores.

 

O Estado é o palco em que se projectam estas ilusões - a ilusão de que o poder político pode satisfazer todas as necessidades da sociedade como se os recursos não fossem escassos e isso não implicasse beneficiar uns e prejudicar outros, e a ilusão de que a política, desde que legitimada em eleições, não tem de reconhecer que os recursos são escassos, pelo menos para os que elegeram esse poder.

 

Mas há os que sabem distinguir a ilusão da realidade e capturam o Estado para, invocando o interesse geral, satisfazerem os seus interesses particulares, protegidos pela legitimidade que os iludidos lhes atribuíram. São os que capturam o Estado que mantêm a tragédia em cena, fragilizando a economia e a sociedade, e beneficiando com isso. 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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