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Joaquim Aguiar 21 de Janeiro de 2021 às 11:30

As duas crises

Com a pressão imediata das crises internas nos espaços nacionais, é natural que passe para segundo plano a crise da ordem mundial. É natural, mas não é prudente, nem previdente.

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A FRASE...

 

"Não é prudente, nem previdente, quem foge do risco, mas quem o assume, e o corre, de forma calculada." 

 

Daniel Bessa, Expresso, 15 de Janeiro de 2021

 

A ANÁLISE...

 

Vivemos uma crise interna, no espaço nacional, que é sanitária e vai ser económica, e nestas duas dimensões com uma escala inédita em número de mortes, em saturação dos serviços hospitalares, em falências de empresas e em desemprego, em destruição de capital e em aumento do endividamento público e privado. Mas também vivemos uma crise externa, com a destruição da estrutura de ordem mundial quando a potência que tinha a função hegemónica de coordenação dos equilíbrios internacionais vive uma crise de grande intensidade que a impede de ter um papel relevante na resolução ou na dissuasão dos conflitos no espaço global.

 

Com a pressão imediata das crises internas nos espaços nacionais, é natural que passe para segundo plano a crise da ordem mundial. É natural, mas não é prudente, nem previdente, porque o grau de destruição de activos e de recursos que vai ocorrer nos espaços nacionais vai exigir a formulação de políticas, com o correspondente financiamento, que só poderão ser assegurados e sustentados por instituições supranacionais, como a União Europeia, ou globais, como o Fundo Monetário Internacional.

 

Estas são duas crises que ocorrem no mesmo período, que são independentes em termos dos factores que as provocam, que são ambas crises de descontinuidade, no sentido preciso de provocarem consequências que impossibilitam o regresso aos equilíbrios que existiam antes destas duas crises simultâneas. Estas crises estão inter-relacionadas de um modo tão estreito que as crises internas só têm solução na escala e nos recursos que só existem no exterior, e a crise externa só encontrará resolução se as crises internas forem controladas e resolvidas, sem o que não será possível atingir uma estrutura de ordem mundial estabilizada.

 

O risco mais relevante que se encontra neste contexto é que não haja sincronia nas respostas a cada uma das crises, pois a resolução possível numa pode ser inviabilizada se continuar sem solução a outra crise. É para este risco que o cálculo deve ser feito de modo que as decisões que se tomam numa crise não prejudiquem a resolução da outra. O nacionalismo, o isolacionismo, as guerras cambiais e de tarifas aduaneiras, a rejeição da cooperação multilateral, são estirpes de vírus de conflitualidade que impedem a resolução da crise sanitária e deixariam os espaços nacionais submersos pela dívida contraída - e a recuperação das economias seria impossível.

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico 

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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