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29 de Março de 2017 às 20:15

OTRV: estratégia inteligente do Tesouro

Confrontados com excessos de liquidez, os bancos comercializam as OTRV como um substituto dos depósitos a prazo, com melhor remuneração. Não obstante, os seus clientes ficariam mais bem aconselhados com um investimento em OT a cinco anos.

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A FRASE...

 

"O Estado está a apostar cada vez mais nos particulares para se financiar. Depois dos certificados, nasceram as OTRV. Têm sido um sucesso, mas as taxas oferecidas estão a cair. Ainda compensam?"

 

Paulo Moutinho e Alberto Teixeira, Jornal Eco, 27 de Março de 2017 

 

A ANÁLISE...

 

A questão de saber se "vale a pena emprestar ao Estado" é equivalente a perguntar se o preço é justo face às atuais circunstâncias do mercado? E, neste ponto, a resposta é negativa: o preço a que o IGCP está a colocar a nova emissão de OTRV (Obrigações do Tesouro com Rendimento Variável) é inconsistente com a curva de rendimentos para a Zona Euro e com os prémios de risco da República Portuguesa para o prazo de cinco anos. Senão vejamos.

 

Com a taxa de cupão indexada à Euribor a seis meses, as OTRV oferecem um rendimento variável, com um mínimo de 1,9%. Enquanto a Euribor se situar em terreno negativo, o cupão será de apenas 1,9%. Como as taxas de juro implícitas na curva de rendimentos do euro apresentam valores negativos até 2020, os cupões futuros deverão fixar-se nos 1,9% durante a quase totalidade da vida útil da nova emissão do Tesouro.

 

Por outro lado, as OT a cinco anos, que se vencem em Outubro de 2022, têm um cupão anual de 2,2%. A preços de hoje (ligeiramente acima de 99,0) proporcionam um rendimento implícito de 2,4%, contendo (aproximadamente) um prémio de risco de 2,742%, relativamente às obrigações de emitentes soberanos "triple-A" (com base em informação do BCE).

 

Em suma, as OT oferecem um juro de cupão mais elevado, a que acresce o facto de poderem ser adquiridas a desconto, contrariamente às OTRV, que são vendidas ao par. Como corolário, o Estado propõe-se pagar aos pequenos investidores um prémio de risco mais baixo do que aquele que os mercados obrigacionistas estão presentemente a exigir à República Portuguesa. Como justificar o previsível sucesso desta emissão?

 

Confrontados com excessos de liquidez, os bancos comercializam as OTRV como um substituto dos depósitos a prazo, com melhor remuneração. Não obstante, os seus clientes ficariam mais bem aconselhados com um investimento em OT a cinco anos. Ganham os intermediários financeiros - libertando-se de fundos que não conseguem rentabilizar - e ganha o emitente - na disputa pela poupança interna.

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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