Opinião
O sabor de dois mundos
Na Avenida Conde Valbom, há um restaurante que junta dois mundos: a gastronomia da Índia e a de Marrocos. Quando abriu, há uns anos, o Restaurante Marrakesh dedicava-se só à cozinha de inspiração árabe e era rigoroso: não disponibilizava bebidas alcoólicas aos seus clientes
Back to basics
Gosto de jornais, mas alguns têm um grande problema - não são bem escritos; a sobrevivência dos jornais diários em papel depende muito da forma como as pessoas escrevem.
Karl Lagerfeld
O sabor de dois mundos
Na Avenida Conde Valbom, há um restaurante que junta dois mundos: a gastronomia da Índia e a de Marrocos. Quando abriu, há uns anos, o Restaurante Marrakesh dedicava-se só à cozinha de inspiração árabe e era rigoroso: não disponibilizava bebidas alcoólicas aos seus clientes. Entretanto, já há uma escolha limitada de vinho, o que sempre ajuda a acompanhar tagines e cuscuz que continuam cheios de sabor e de aromas. Quando os clientes se sentam à mesa, surgem dois menus - o árabe e o indiano. Ambos têm múltiplas escolhas com os pratos mais tradicionais de cada origem. Há um enorme cuidado na confecção. Depois de ter aprovado tagines e couscous em visitas anteriores, esta semana deliciei-me com um "prawn karahi", camarão picante num molho intenso, que antecedeu - numa refeição partilhada - um "chicken tika", que chegou fumegante e cheio de bons aromas. O arroz basmati foi o acompanhamento escolhido e a refeição terminou com um gelado de gengibre, artesanal, e que tinha mesmo gengibre. Serviço atencioso, paladares intensos, preço honestíssimo para a qualidade. Restaurante Marrakesh, Avenida Conde de Valbom 53, junto à Avenida Miguel Bombarda.
Semanada
• Segundo a Provedoria da Justiça, os portugueses estão a esperar dez meses para ter a reforma atribuída quando a lei prevê resposta em 90 dias e o número de queixas por atrasos na atribuição de pensões triplicou em 2018 • no ano passado, os portugueses gastaram 2.431,8 milhões de euros em apostas desportivas e jogos de fortuna e azar online • os preços da banda larga móvel caíram em 2018, mas em Portugal estes custos ainda são mais caros do que a média da União Europeia • 47% dos portugueses não foram ao dentista em 2017 • entre 2001 e 2017, o número de pescadores diminuiu 56% l em 2018, foram apreendidos 1.938 telemóveis nas cadeias e, segundo o sindicato dos guardas prisionais, o número não reflete a dimensão real do problema, que é muito maior • em Portugal, cerca de 915 mil mulheres trabalham ao sábado, mais de 538 mil trabalham ao domingo, 382 mil trabalham por turnos e 162 mil à noite, o que lhes dificulta a conciliação do trabalho com a família • o juiz Neto de Moura, conhecido por evitar condenar a violência doméstica, resolveu eliminar as medidas coercivas aplicadas a um homem que rebentou o tímpano da mulher ao soco • mais de 219 mil pessoas receberam o Rendimento Social de Inserção em Janeiro, o valor mais elevado dos últimos três meses • o actual Governo efectuou mais cativações financeiras em três anos do que o anterior Executivo em quatro • esta semana, encerrou a Tema, a maior loja de revistas e jornais estrangeiros de Lisboa, localizada nos Restauradores, devido à perda de clientes portugueses que praticamente desapareceram da zona, substituídos por turistas.
Dixit
O primeiro-ministro e o ministro das Finanças ora fazem de polícia bom, ora de polícia mau.
Assunção Cristas
sobre a estratégia negocial do Governo com os sindicatos
Uma edição fraca
Já se sabe que a revista Monocle é uma grande utilizadora criativa do conceito de conteúdos patrocinados, frequentemente dissimulados de forma editorial elegante e sedutora. O grafismo da revista continua contemporâneo, apesar de não ter tido muitas evoluções desde que foi lançada em 2007. Em contrapartida, o espaço ocupado por conteúdos patrocinados tem vindo sempre a aumentar, por vezes demais, até se chegar a esta edição sobre França que é insultuosamente dedicada a propagandear aquele país quase sem deixar escapatória aos leitores para outros assuntos. Tyler Brulé, um misto de canadiano com nórdico, é um admirador confesso de Macron, deposita nele as esperanças da Europa e fez, aliás, questão de afirmar que a sua revista vai deixar de ser impressa no Reino Unido por causa do Brexit. Mudou a sede das suas operações para a Suíça e passa a imprimir na Alemanha - desta edição em diante. Talvez por ser excessivamente dedicada a um país que passou o século XX, nos seus grandes conflitos, a claudicar e render-se, esta edição da Monocle é fraca e muito pouco interessante. Não há muitas coisas que me agradem em França, a pose arrogante e o discurso pretensioso de muitos franceses faz-me espécie e provoca-me uma rejeição natural - Macron não é excepção. Uma nota de humor, mas que reflecte algum desleixo editorial, surge numa página dedicada a citar Mário Centeno a propósito do Brexit, com a particularidade de a sua fotografia estar trocada. Ainda pensei que fosse fruto de alguma cativação que lhe tivesse alterado as feições, mas é mesmo erro.
Sempre ao piano
Tenho uma atracção especial pelo som do piano e pela sua utilização no jazz. Esta semana, descobri o novo disco do quarteto do pianista alemão Florian Weber, "Lucent Waters", e fiquei fascinado desde as primeiras notas. Ao longo dos oito temas, os músicos criam uma tensão permanente, sempre com o piano em local central a articular o diálogo com os outros instrumentos, criando uma relação próxima com todos, mas destacando de forma especial o trabalho elegante do trompetista Ralph Alessi, sobretudo num belo solo em "Butterfly Effect". Destaque também para a discreta baixista Linda May Han Oh em "Honestlee" e para o subtil baterista Nasheet Waits em "Time Horizon". Finalmente, "Fragile Cocoon" é um bom exemplo do entendimento entre todos os músicos deste quarteto. Duas influências marcantes de Weber são Paul Bley e Lee Konitz, detectáveis em vários pontos deste registo. CD ECM, disponível no Spotify.
Pensamentos ociosos
Enquanto a Amazon procura afinar um sistema de entrega por drones, alguns reclusos portugueses já conseguiram introduzir telemóveis e drogas nas prisões, precisamente com recurso a drones: Portugal sempre precursor na adopção de novas tecnologias...
Confiança zero
As próximas eleições para o Parlamento Europeu decorrem sob o duplo signo de uma crise profunda na União Europeia, de que o Brexit e a ascensão dos populismos é apenas a ponta do "iceberg". No caso de Portugal, que este ano acolhe três eleições - as europeias, as regionais dos Açores e Madeira e as legislativas -, o ciclo eleitoral decorre perante um descrédito cada vez mais acentuado no funcionamento do sistema político. As eleições para o Parlamento Europeu estão marcadas para 26 de Maio e neste momento ninguém pode garantir se o Reino Unido nessa altura ainda estará dentro da União ou se o Brexit já se terá então concretizado. Melhor dizendo, ninguém neste momento pode garantir que não haverá adiamento, que não haja segundo referendo, que a Europa não engula uma tonelada de sapos e não volte atrás em tudo o que jurou sobre o Brexit. Enfim, o panorama geral é o de que nada está certo e que mais uma vez os políticos meteram os pés pelas mãos ao induzirem os cidadãos em erro e ao não conseguirem encontrar uma solução para a situação que eles próprios fabricaram. Na realidade, o perigoso "poker" jogado por Cameron, quando convocou o referendo sobre o Brexit, transformou-se num pesadelo que assusta o sistema financeiro, cria graves problemas às economias do Reino Unido e de uma série de países da Europa e voltou a colocar na ordem do dia a questão da Irlanda - com a hipótese, até há pouco impensável - de ressurgir uma nova fronteira de arame farpado entre o norte e o sul da ilha, com todo o provável retomar e agudizar de conflitos que isso trará. Mas, passando para o caso português, uma sondagem, realizada a pedido da União Europeia, conhecida esta semana, indica que apenas 17% dos portugueses confiam nos partidos, somente 37% no Parlamento e só 43% manifestam confiança no Governo. Trocado por miúdos, a maioria não acredita em nada disto. É um balanço terrível do funcionamento do sistema, que cada vez se parece mais com um barco desgovernado que partiu amarras e saiu desarvorado sem destino.
As vistas do país
Nos últimos anos têm surgido um pouco por todo o país galerias e centros - muitas vezes ligados de alguma forma a autarquias - onde, com poucos recursos, se vai fazendo um trabalho importante de divulgação da obra de artistas contemporâneos portugueses fora do circuito das grandes cidades, dos museus de maior dimensão e das mais activas galerias comerciais. Por exemplo, o Centro de Artes de Águeda apresenta trabalhos de Pedro Calapez sob a designação comum "Terra" (na imagem encontra-se uma das obras) que ali estarão expostos até 17 de Março. "O desenho é uma das formas mais antigas e perfeitas de interpretação e criação do mundo": este é o mote para o conjunto de exposições designadas por "O Desenho como Pensamento" onde a mostra de Pedro Calapez está integrada. Até há poucos dias, no Centro Internacional de Artes José de Guimarães, esteve patente uma mostra de trabalhos de desenho de Rui Chafes, muitos deles inéditos. E, em Famalicão, na Ala da Frente, uma galeria municipal, está uma exposição de 29 desenhos a carvão sobre papel de Alexandre Conefrey, sob o título "Anima Mea", que ali ficará até 18 de Maio. Bem recentemente esta galeria acolheu trabalhos de nomes como José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, Alberto Carneiro, Rui Chafes ou Jorge Molder.