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Manuel Castelo Branco - Advogado 03 de Maio de 2013 às 00:01

Os NEETS dos PIGS

O "Economist" de há uma semana calcula que, no Mundo, há cerca de 290 milhões de jovens (15 a 24 anos) sem emprego, educação ou formação.

Há quinze dias um grupo de portugueses jogava golfe na região de Lisboa, a um ritmo adequado à crise.


Por alturas do buraco n.º 9 foram alcançados por dois alemães, que jogavam com pressa.

Para quem não o saiba, no golfe a regra é a de que as partidas com menos jogadores não têm prioridade. Mas os portugueses, educadamente, preparavam-se para os deixar passar no buraco seguinte.

Mas os alemães estavam com pressa e decidiram forçar a passagem, jogando as suas bolas literalmente para cima dos portugueses mesmo antes de ela lhes ter sido consentida.

No confronto que se seguiu, quando um dos portugueses tentou explicar que as regras e a etiqueta do golfe impedem que se force a passagem, um dos alemães "informou" os portugueses, num inglês com pronúncia carregada, que tinham pago para jogar e, além disso, que se eles portugueses podiam dar-se ao luxo de jogar golfe era porque eles alemães lhes pagavam as dívidas.

Seguiram-se vários episódios que levaram os turistas alemães a abandonar o campo!

Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff justificavam, recentemente, num artigo publicado no "New York Times", o monumental erro de formulação da sua teoria, publicada na American Law Review em 2010, que tem servido de fundamentação da política austericida imposta aos PIGS e que leva alguns alemães a pensar e actuar como o turista da nossa história!

Nesse artigo, ambos estes professores de Harvard revelavam um facto assustador: o de que eles, cientistas apolíticos, depois de revelado e publicitado em todo o mundo o erro detectado pelo jovem Thomas Herdon, foram objecto de diversas ameaças, em e-mails e cartas remetidas por pessoas que associam o seu sofrimento pessoal à teoria que eles explicaram.

Também muito recentemente, os Gregos decidiram estudar a possibilidade jurídica de exigir dos Alemães, apesar do perdão que já teria sido concedido em tratados anteriores, o pagamento de 168 mil milhões de euros a título de reparação dos danos causados pela invasão e ocupação da Grécia pelos Nazis.

Ontem, o "Finantial Times" puxava para a primeira página a preocupação do presidente da Irlanda ("um poeta de esquerda e defensor dos direitos humanos") de que haja uma rebelião na Europa se os seus líderes não alterarem radicalmente o modo como estão a gerir a crise. Na Europa "temos 26 milhões de desempregados… e existem 112 milhões em risco de pobreza".

O "Economist" de há uma semana calcula que, no Mundo, há cerca de 290 milhões de jovens (15 a 24 anos) sem emprego, educação ou formação. A OCDE calcula que este número, mesmo nos países ricos, é de 26 milhões.

A este grupo de jovens, de enorme potencial explosivo, foi dada a abreviatura de "NEETS" ("not in employment, education or training").

De acordo com o "Economist", a taxa de desemprego dos NEETS não pára de crescer na Europa do Sul e até nos EUA. Mas na Alemanha tem decrescido!

Este é exactamente o problema: enquanto os Alemães não sentirem, no seu próprio País, a bomba-relógio que as políticas austerizadas estão a incubar nas economias que servem de motor do Mundo, corremos o risco de a instabilidade social provocar uma mudança dos paradigmas e do sistema económico em que temos vivido nos últimos 70 anos.

Num livro notável (Pós-Guerra) Tony Judd escreve que "foi só em 1944 que os alemães começaram a sentir o impacto das restrições e carências do tempo de guerra".

Se o BCE tiver baixado ontem a taxa de juro (apesar dos avisos em contrário da Chanceler Merkl em Dresden) e se a França, a Itália, a Espanha, Durão Barroso e o FMI continuarem a combater o austeríssimo da Chanceler Merkel então talvez haja futuro para os NEETS (e alguns dos seus progenitores) nos PIGS. A Chanceler, ainda que contrariada imagina, tem vindo a ceder.

Esperemos que o escândalo Hoeness (grande ex-jogador do Bayern e homem de negócios muito próximo da Chanceler), que já provocou uma queda de 3 pontos percentuais nas sondagens da CDU, não sirva de justificação para, de novo por razões eleitorais, ficar tudo na mesma.

Advogado

mcb@mcb.com.pt

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