Opinião
Dois testemunhos obrigatórios
Perdi, recentemente, dois grandes amigos, da minha geração, com quem partilhei muitos momentos, pessoais e profissionais. Com a morte do João Soares da Silva e do Pedro Queiroz Pereira, o país ficou, também, mais pobre.
Deixaram-nos, ambos, prematuramente, quando tinham, ainda, tanto para nos dar.
O João era um jurista brilhante, que se especializou, muito cedo, em direito financeiro, e onde era um especialista considerado e reputado, tendo sido, durante anos, o advogado principal do BCP.
Conhecemo-nos no Verão Quente de 1975, no Gabinete da Área de Sines, onde, ambos, simpatizantes do PSD, tivemos de enfrentar as RGT, os piquetes de greve comunistas e outras aventuras do PREC.
Nunca mais deixámos de nos encontrar.
Sempre que tinha um problema jurídico mais complexo, consultava o João.
Que o analisava, com um detalhe exaustivo, sob todos os prismas, alguns dos quais eu nunca me lembraria.
E que encontrava sempre uma solução irrepreensível, do ponto de vista legal.
Além dum grande profissional, o João era uma pessoa encantadora.
Calmo, tranquilo (passava as férias a pescar trutas, no Minho), afável, amigo do seu amigo.
O Pedro, por seu lado, era o nosso maior e mais completo empresário da indústria.
Papel, celulose, cimentos, energias renováveis, sectores industriais com uma grande incorporação tecnológica e de engenharia.
Tivemos contactos mais frequentes a partir de 1995, após o IPO da Portugal Telecom, em que o Pedro me pediu para o ajudar na preparação do IPO da Semapa.
Que foi um sucesso e permitiu o crescimento acelerado do grupo.
Fui, alguns anos mais tarde, administrador não-executivo da Semapa e pude avaliar o modo como o Pedro conduzia, mais numa óptica de empresário do que de gestor, os destinos do grupo.
O Pedro não era um empresário frio. Apaixonava-se pelos negócios.
Quando, numa reunião alargada, todos nos pronunciámos pela oportunidade da venda da Enersis, o Pedro, com a voz embargada, declarou que aceitava a decisão colegial, mas com um aperto no coração, pelo papel que aquela empresa tinha desempenhado na afirmação dos primórdios do grupo.
Em termos pessoais, o Pedro era um grande companheiro. Divertido, bem-disposto, generoso e, infelizmente, a transgredir permanentemente com as dietas recomendadas.
O Pedro deixa o grupo empresarial que criou, num momento particularmente difícil, em que os fundamentalismos e a demagogia contra o eucalipto começam a tomar contornos patológicos e o mercado americano se tornou mais imprevisível.
A sua visão internacional e de longo prazo, seria fundamental para enfrentar estes desafios e encontrar os caminhos adequados.
Desejo aos seus sucessores, família e não-família, os maiores sucessos nesta difícil caminhada.
As lições que o João e o Pedro nos deixaram, perdurarão, no futuro.
Obrigado, a ambos, queridos amigos.
Gestor de Empresas
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico