Opinião
Aprender com o Dubai
Tive a oportunidade de visitar o Dubai. Em trabalho. Nessa condição, além da visão turística da fantasia urbana, com a ousadia da arquitetura expressa sobretudo nos muitos arranha-céus e nos vastos e luxuriantes centros comerciais, foi possível também apreciar, ainda que brevemente, o modo de funcionamento das pessoas e das empresas em geral.
Uma coisa garanto. No Dubai, as pessoas, mesmo colocadas em altas funções, atendem os telefones e respondem aos emails rapidamente. Aliás, sente-se um sentido de urgência, de querer fazer, e já. O contrário da velha Europa, portanto.
Quem lá vive, sabe do que falo. A expansão tem sido extremamente veloz. Áreas que até há pouco eram deserto veem agora crescer prédios altíssimos. Para já não falar da própria conquista ao mar, na qual a célebre "Palmeira" já começa a ser pequena pois ao lado constrói-se agora uma ilha artificial ainda maior. As palavras que se ouvem no Dubai são mais, maior, melhor. O maior centro comercial, o mais alto arranha-céus, o melhor e mais caro hotel do mundo. Esta visão, futurista e grandiosa, choca pelo contraste com o discurso corrente na Europa, que privilegia o pobre, o barato, o poupadinho e o pouco ambicioso. No Dubai os empreendedores anunciam com orgulho que o seu projeto é o mais caro de todos antes realizado. E quando se visitam muitos hotéis e outros locais entramos literalmente no mundo da extrema riqueza e ostentação. Diz-se que o Dubai é uma espécie de Disneylândia para adultos. Ricos, claro. Ainda que certas coisas sejam perfeitamente acessíveis. Como o preço das refeições em excelentes restaurantes.
Este lado mundano não esconde contudo uma clara estratégia de desenvolvimento económico. Tudo é feito para colocar o Dubai no mapa, o que foi conseguido em pouco tempo quando comparado com velhas nações, e sobretudo projetá-lo no futuro. Por exemplo, de momento só se fala na exposição mundial de 2020. A propósito, sabiam que este ano abre uma Expo em Milão? Ouviram falar? Nada. Também porque o Portugal empobrecido não vai. E não admira, fazemos cada vez menos parte do mundo ativo.
Tanta atração pelo que aí vem ditou a construção do primeiro Museu do Futuro. Vai custar perto de 150 milhões de euros e segundo os promotores dará a ver um futuro possível e certamente também imaginário. A robótica, a minha área de interesse, terá aí, como não podia deixar de ser, um papel preponderante.
Os habituais críticos do êxito dos outros, aqueles que invariavelmente nada fazem, nem deixam fazer, dizem que o Dubai é uma bolha e um dia vai rebentar. Pode acontecer. Mas não será para já. Ao contrário do ambiente local, em que anda tudo cabisbaixo e desanimado, encontramos pessoas altamente motivadas, uma sociedade dinâmica e cheia de energia. Trata-se de um pequeno local no mapa, gerido por visionários que souberam aproveitar os recursos do petróleo para criar uma economia assente no empreendimento dos mais loucos projetos, capazes de atrair a atenção do mundo. O Dubai tem 2 milhões de habitantes. No ano passado, teve 12 milhões de turistas e tendência para crescer em 2015.
Várias lições podem ser retiradas desta realidade. A primeira é que a receita do empobrecimento só pode resultar numa incapacidade prática de se fazer parte de um mundo, que apesar das muitas crises, não deixa de aproveitar as condições tecnológicas ao nosso dispor. Nada parece impossível de se realizar. Por estes dias um avião, lançado de Abu Dhabi, outro dos emirados, movido a energia solar, circula à volta do globo sem consumir qualquer combustível fóssil. As vastas ilhas artificiais ou os arranha-céus de formas extravagantes representam notáveis feitos da engenharia e da criatividade humana.
Outra lição é a do aproveitamento dos recursos. Ao contrário de tantos países produtores de petróleo que gastaram essas avultadas receitas em banalidades e desperdício, neste caso houve a visão de construir algo único. Atualmente a receita do petróleo já é pouco significativa, só 2%, quando comparada com a do turismo e outras atividades.
O Dubai tem problemas, naturalmente. Mas é também um oásis de oportunidades neste mundo desertificado pela lógica da austeridade.
Artista Plástico
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