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Jorge Fonseca de Almeida - Economista 11 de Dezembro de 2018 às 22:15

Prisão da dona da Huawei - nova fase da guerra comercial dos EUA-China

Esta prisão é também claramente um aviso para os empresários dos países da União Europeia que não aderiram às sanções norte-americanas contra o Irão, incluindo os portugueses. Todos os que persistirem em negociar com o Irão poderão ser presos. Inaceitável.

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Na semana passada, os Estados Unidos deram mais um passo na escalada da guerra comercial que têm vindo a desenvolver contra a China, até aqui limitada a uma economicamente destrutiva guerra de tarifas aduaneiras, ao mandar prender Meng Wanzhou, filha do dono da empresa de telecomunicações chinesa Huawei e administradora financeira da empresa.

 

A prisão ocorreu no Canadá, no dia 1 de dezembro passado, por exigência das autoridades norte-americanas e teve lugar praticamente no mesmo momento em que os Estados Unidos e a China decretavam uma pequena moratória na entrada em vigor de novas e mais substanciais taxas aduaneiras sobre uma grande variedade de produtos.

 

Assim ao mesmo tempo que recuava na aplicação das taxas anunciadas sobre as importações chinesas, das quais depende, os Estados Unidos lançam-se num comportamento mais agressivo: o da tomada de reféns entre as elites económicas privadas chinesas.

 

A China reagiu como seria de esperar exigindo a libertação da empresária e classificando a detenção como ilegal e extremamente viciosa e chamou o seu embaixador no Canadá para consultas em Pequim.

 

As acusações americanas contra a empresária e a empresa que dirige centram-se na venda de telemóveis e outros produtos ao Irão. Recorde-se que os Estados Unidos anunciaram sanções contra o Irão e um boicote de vendas de um largo espetro de produtos a este país.

 

Estas sanções surgem depois de os Estados Unidos, pela mão de Donald Trump, se terem retirado de um acordo multilateral com o Irão sobre o nuclear assinado por Obama e vários países europeus. No entanto, o Reino Unido, França e a União Europeia mantiveram os seus compromissos com o Irão não aderindo à nova política americana. A China também se manteve fiel ao acordo assinado para a desnuclearização do Irão.

 

Neste enquadramento, a Huawei continuou a vender legitimamente os seus produtos a esse país.

 

Esta prisão é também claramente um aviso para os empresários dos países da União Europeia que não aderiram às sanções norte-americanas contra o Irão, incluindo os portugueses. Todos os que persistirem em negociar com o Irão poderão ser presos. Inaceitável.

 

Recorde-se que a Huawei concorre diretamente com empresas americanas, nomeadamente no setor das telecomunicações com a Apple. Em termos de telemóveis as vendas da Huawei já superam as da sua concorrente americana. Ao tentar proibir o acesso da Huawei a um mercado como o do Irão de 80 milhões de pessoas, os Estados Unidos pretendem proteger as suas empresas não deixando que concorrentes se estabeleçam nesse importante mercado.

 

As relações económicas entre o Canadá e a China serão, muito provavelmente afetadas, o que promoverá a melhor penetração dos produtos vindos dos Estados Unidos.

 

Os mercados reagiram muito negativamente a este acontecimento e muitas atenções estão viradas para o seu desenvolvimento.

 

Esta guerra comercial americana começa a transformar-se num conflito mais tenso e perigoso e ao mesmo tempo que ameaça mergulhar o planeta em recessão pode mesmo desembocar num conflito armado. O mundo está muito perigoso.

 

Economista

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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