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08 de Setembro de 2020 às 17:46

Economia em preocupante contraciclo

Quando se impõe ação estamos paralisados. Critica-se a Festa do Avante quando a sua lição é a de criatividade científica cautelosa face à pandemia, realização face à paralisação, afirmação face ao negativismo, ação face à dificuldade. Antes fossemos todos assim.

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A Europa encontra-se em pleno início da segunda vaga da terrível pandemia viral. Devido à crise económica desencadeada por uma incorreta resposta à primeira vaga – incapacidade de conter regionalmente a doença como a China fez em Hubei uma província de quase 60 milhões de habitantes – a União Europeia encontra-se sem estratégia clara de combate à doença e de relançamento económico.

 

Veja-se o caso do que em Portugal chamamos layoff (mas que os ingleses e americanos chamam furlough). No nosso país um dos cinco mais atingidos por uma contração súbita e profunda do PIB, este regime de proteção do emprego foi basicamente descontinuado, enquanto por exemplo na Itália foi prolongado pelo menos até ao final do ano. Na Itália foi também estendido o período em que as empresas estão impedidas de despedir os trabalhadores até Janeiro de 2021.

 

Na Alemanha, muito menos atingida pela crise, o regime de kurzarbeit, o verdadeiro nome do que chamamos layoff, foi prolongado por 24 meses, i.e. dois anos! E a Alemanha tem forte experiência com este regime que inventou e aplica desde o final da I Guerra Mundial.

 

A França também expandiu para dois anos o seu esquema de proteção de empregos.

 

Mesmo o Reino Unido cujo esquema de furlough (que nós chamamos layoff) termina no final de Setembro pondera alarga-lo para as empresas de setores mais abalados como o turismo e a restauração.

 

Sabendo-se que uma das principais causas da crise radica na baixa brusca e funda da procura interna não proteger o emprego e os rendimentos só pode gerar duas consequências atrasar a recuperação e promover o desemprego e a emigração. Bem seria manter e expandir os apoios públicos.

 

Enquanto alguns países como a Alemanha e a Áustria expandiram o consumo público no primeiro semestre de 2020, Portugal a contraciclo reduziu-o em cerca de 5% agravando assim a escassez de procura interna. A França que também cometeu o mesmo erro que Portugal apressa-se agora a corrigir a situação aumentando o consumo público.

 

O Plano Macron, recentemente divulgado, prevê estímulos de 100 mil milhões de Euros, ou seja 4% do PIB francês, e inclui um investimento público massivo em setores como a construção, os transportes e as energias limpas, e na coesão social através da formação, apoios sociais e investimento na saúde. Adicionalmente um apoio às empresas por via de redução de impostos e de incentivos. Três pilares que dividem quase igualmente os fundos disponíveis.

 

Em contraciclo uma onda de neoliberalismo revela-se no Governo português, intervenções limitadas temporalmente em empresas à deriva, recusa em prolongar o regime de layoff, fim dos apoios aos senhorios, ausência de um plano de investimento que gere emprego, redução do consumo público, desperdício de fundos essenciais em apoios a bancos não-sistémicos, travando a recuperação e atrasando o nosso país em relação aos nossos competidores na União Europeia e fora dela.

 

Quando se impõe ação estamos paralisados. Critica-se a Festa do Avante quando a sua lição é a de criatividade científica cautelosa face à pandemia, realização face à paralisação, afirmação face ao negativismo, ação face à dificuldade. Antes fossemos todos assim.

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